Parcelamos, Ricardo e eu, as nossas férias de 1998 e com a segunda parcela resolvemos fazer uma viagem para conhecermos a Pedra do Ingá, na Paraíba, as Sete Cidades no Piauí e duas localidades próximas a Santarém (PA): Alenquer, onde íamos conhecer a Cidade dos Deuses e Monte Alegre, onde há inscrições rupestres bastante interessantes.
Enquanto preparávamos nossa viagem, alguns amigos a acharam cansativa e sem atrativos e outros a consideraram muito interessante e lastimaram não estarem conosco fazendo o mesmo roteiro.
Além da aventura, pretendia coletar material para minhas pesquisas. Desejava fotografar e filmar as inscrições e as possíveis “ruínas”. Levávamos como roteiro de viagens, descontando várias “forçadas-de-barra”, para usar a expressão do Ricardo, o livro Mistérios do Brasil, do Pablo Villarrubia Mauso – que continha vários dados interessantes, entretanto – e, como de hábito, o Quatro rodas.
Enquanto preparávamos nossa viagem, alguns amigos a acharam cansativa e sem atrativos e outros a consideraram muito interessante e lastimaram não estarem conosco fazendo o mesmo roteiro.
Além da aventura, pretendia coletar material para minhas pesquisas. Desejava fotografar e filmar as inscrições e as possíveis “ruínas”. Levávamos como roteiro de viagens, descontando várias “forçadas-de-barra”, para usar a expressão do Ricardo, o livro Mistérios do Brasil, do Pablo Villarrubia Mauso – que continha vários dados interessantes, entretanto – e, como de hábito, o Quatro rodas.
Foto: Furna do Índio - Sete Cidades-PI
Saímos de Porto Alegre no dia 11 de junho de 1998 às 6h45, no vôo 123 para São Paulo. Lá, fizemos conexão para Recife, onde chegamos às 12h30.
Após lancharmos no Bob’s, passeamos pelas lojinhas do segundo piso do aeroporto e guardamos uma mochila grande no porta-bagagem até domingo (dia 14), pois neste dia pegaríamos um vôo de Recife a Teresina. Ficamos então com uma mochila média e uma mochila pequena (uma mochilinha inka que sempre levo em nossas viagens, pois não ocupa muito espaço. Sempre que retorno a um mesmo lugar em dois ou três dias, deixo a mochila grande e levo a pequena, que é mais fácil de tranportar, pois posso sempre levá-la como bagagem de mão).
Este trecho da viagem nos custou mais 400 reais na passagem – cálculo posteriormente feito pela Varig, que nos veio cobrar –, sendo que, se tivéssemos alugado um carro do aeroporto de Recife, gastaríamos cerca de100 reais e nestas 4 horas teríamos ido e voltado de Ingá. Mas só chegamos a esta conclusão depois que estávamos esperando o próximo vôo de passagem na mão. Não sabíamos que a conexão iria demorar 4 horas, pensávamos que era imediata.
O vôo para Campina Grande estava previsto para as 15h45, mas saiu em torno de 16h30. Às 17h chegamos ao aeroporto de Campina Grande, onde combinaríamos com um táxi para nos levar a Ingá. Quando fomos ao ponto, só havia um, cujo motorista estava conversando com um policial muito mal-encarado.
O motorista não era, mesmo, de confiança: muita “conversa-mole”, parou em uma “blitz” na estrada e disse que era para darmos dinheiro ao guarda. Mostramos apenas nossos documentos. O guarda ficou fazendo-nos perguntas, depois de ter mandado encostar o carro. Depois disto, dispensou-nos.
O táxi corria muito e derrapava nas curvas. Sofremos maus bocados em uma distância de apenas trinta e seis quilômetros. Chegando em Ingá, o táxi ainda nos cobrou acima do combinado. Ofereceu um serviço de menos, pois no acordo estava acertado levar-nos até a Pedra do Ingá, mas como já estava escurecendo e não queríamos ficar mais naquele táxi, pedimos que nos deixasse na única pousada que havia na cidade. O aspecto exterior é de uma casa com janelas de vidros quebrados. Mas a proprietária, D. Girlene, é uma senhora muito simpática, o quarto que nos mostrou estava limpo, quando perguntei se poderia trocar a roupa de cama, ela disse que sim. Então resolvemos ficar, melhor do que voltar para Campina Grande naquele táxi. Mais uma vez, lamentei aquela conexão: se tivéssemos alugado um carro, àquela hora possivelmente já teríamos visto a Pedra e estaríamos longe.
Assim que deixamos a bagagem, saímos para caminhar na cidade. As pessoas todas simpáticas, muitas estavam sentadas conversando em suas cadeiras nas calçadas. Fomos até a pracinha da Igreja, lá tinha diversos barezinhos, informamo-nos sobre os horários de ônibus para Campina Grande, João Pessoa e Recife. Os horários não eram muito convidativos. Disseram-nos que se fôssemos para Riachão (uma cidade a 6 km, que fica entre João Pessoa e Campina Grande), teríamos ônibus de hora em hora para João Pessoa.
Havia um trailer na praça que fazia uns sanduíches e tinha um aspecto limpo. Lá comemos sanduíches com sucos, conversamos com o dono e uma moça que nos informou que o museu da Pedra estava fechado para reforma, mas que o acervo estava disponível na biblioteca da cidade, que também ficava em frente a esta praça, onde as crianças brincavam à noite e as pessoas da cidade passeavam despreocupadas.
Quando atravessávamos a praça, um taxista perguntou se queríamos um táxi e dissemos que no outro dia de manhã precisaríamos para ir à Pedra.
Saímos de Porto Alegre no dia 11 de junho de 1998 às 6h45, no vôo 123 para São Paulo. Lá, fizemos conexão para Recife, onde chegamos às 12h30.
Após lancharmos no Bob’s, passeamos pelas lojinhas do segundo piso do aeroporto e guardamos uma mochila grande no porta-bagagem até domingo (dia 14), pois neste dia pegaríamos um vôo de Recife a Teresina. Ficamos então com uma mochila média e uma mochila pequena (uma mochilinha inka que sempre levo em nossas viagens, pois não ocupa muito espaço. Sempre que retorno a um mesmo lugar em dois ou três dias, deixo a mochila grande e levo a pequena, que é mais fácil de tranportar, pois posso sempre levá-la como bagagem de mão).
Este trecho da viagem nos custou mais 400 reais na passagem – cálculo posteriormente feito pela Varig, que nos veio cobrar –, sendo que, se tivéssemos alugado um carro do aeroporto de Recife, gastaríamos cerca de100 reais e nestas 4 horas teríamos ido e voltado de Ingá. Mas só chegamos a esta conclusão depois que estávamos esperando o próximo vôo de passagem na mão. Não sabíamos que a conexão iria demorar 4 horas, pensávamos que era imediata.
O vôo para Campina Grande estava previsto para as 15h45, mas saiu em torno de 16h30. Às 17h chegamos ao aeroporto de Campina Grande, onde combinaríamos com um táxi para nos levar a Ingá. Quando fomos ao ponto, só havia um, cujo motorista estava conversando com um policial muito mal-encarado.
O motorista não era, mesmo, de confiança: muita “conversa-mole”, parou em uma “blitz” na estrada e disse que era para darmos dinheiro ao guarda. Mostramos apenas nossos documentos. O guarda ficou fazendo-nos perguntas, depois de ter mandado encostar o carro. Depois disto, dispensou-nos.
O táxi corria muito e derrapava nas curvas. Sofremos maus bocados em uma distância de apenas trinta e seis quilômetros. Chegando em Ingá, o táxi ainda nos cobrou acima do combinado. Ofereceu um serviço de menos, pois no acordo estava acertado levar-nos até a Pedra do Ingá, mas como já estava escurecendo e não queríamos ficar mais naquele táxi, pedimos que nos deixasse na única pousada que havia na cidade. O aspecto exterior é de uma casa com janelas de vidros quebrados. Mas a proprietária, D. Girlene, é uma senhora muito simpática, o quarto que nos mostrou estava limpo, quando perguntei se poderia trocar a roupa de cama, ela disse que sim. Então resolvemos ficar, melhor do que voltar para Campina Grande naquele táxi. Mais uma vez, lamentei aquela conexão: se tivéssemos alugado um carro, àquela hora possivelmente já teríamos visto a Pedra e estaríamos longe.
Assim que deixamos a bagagem, saímos para caminhar na cidade. As pessoas todas simpáticas, muitas estavam sentadas conversando em suas cadeiras nas calçadas. Fomos até a pracinha da Igreja, lá tinha diversos barezinhos, informamo-nos sobre os horários de ônibus para Campina Grande, João Pessoa e Recife. Os horários não eram muito convidativos. Disseram-nos que se fôssemos para Riachão (uma cidade a 6 km, que fica entre João Pessoa e Campina Grande), teríamos ônibus de hora em hora para João Pessoa.
Havia um trailer na praça que fazia uns sanduíches e tinha um aspecto limpo. Lá comemos sanduíches com sucos, conversamos com o dono e uma moça que nos informou que o museu da Pedra estava fechado para reforma, mas que o acervo estava disponível na biblioteca da cidade, que também ficava em frente a esta praça, onde as crianças brincavam à noite e as pessoas da cidade passeavam despreocupadas.
Quando atravessávamos a praça, um taxista perguntou se queríamos um táxi e dissemos que no outro dia de manhã precisaríamos para ir à Pedra.
Voltamos à pousada e fizemos uma higiene que não chegou a ser um banho, pois o banheiro era coletivo e não estava em boas condições. Ele correspondia ao aspecto externo da pousada.
No dia seguinte, após o café e a arrumação das bagagens, o táxi nos pegou, transportando-nos à Pedra do Ingá, conhecida também como Itacoatiara.
Trata-se de um monólito gigante, todo perfurado, com círculos grandes, médios e pequenos e inscrições espalhadas pelos lados e por cima. No lado que avistamos logo que chegamos é que tem as inscrições mais intrigantes, pela profundidade dos baixos-relevos e pelas “letras” ou inscrições juntas. No meio passa o Rio Ingá, que deve seu nome a uma árvore nativa. Dali, fomos à biblioteca da cidade, onde vimos os fósseis que ali foram encontrados e ouvimos as referências ao trabalho da arqueóloga que pesquisava a Pedra e ao cidadão que evitara que o monólito se perdesse, já que havia o projeto, antes de seu tombamento, de se o utilizar para fornecer material para fazer calçamento de ruas. A Pedra era tão dura que, ao choque de outra pedra, tinia igual a um sino.
Fomos com o mesmo táxi para João Pessoa, onde o motorista nos levou até o Farol do Cabo Branco, à Praça João Pessoa, à Assembléia, ao Forum, ao Palácio do Governo e à antiga Faculdade de Direito, que funcionou no mesmo prédio que abrigou o seminário fundado em 1745 pelo jesuíta e alquimista Gabriel Malagrida. Levou-nos também à Praça da Igreja de São Francisco, datada de 1589, na vizinhança de outras casas muito antigas. As laterais que levam até a Igreja têm decorações em ladrilhos, representando a Paixão de Cristo. Fomos ainda à Catedral e, depois, descemos na Rodoviária, onde pegamos o ônibus para Recife.
Ali, pegamos o metrô para descermos na Estação Afogados, de onde tomamos o táxi para a Pousada Rosa e Silva. Quatro horas depois, Bruno e Consuelo buscam-nos para jantar e levam-nos à parte antiga da zona portuária, que foi restaurada e é agora o point da cidade. Depois, fomos a uma sorveteria e rumamos para o hotel. Bruno e Consuelo combinaram buscar-nos no outro dia, em torno das sete horas, para irmos à praia.
Às sete e dez do dia seguinte, Consuelo e Bruno passam para nos buscar e vamos com eles até a casa do irmão do Bruno, Rafael, que se juntou ao nosso grupo. Passamos para o carro dele, que já está preparado para o nosso passeio. Também foi conosco o Luck – um cão labrador que é companheiro de aventuras do Rafael e estava em uma parte fechada na parte traseira da perua –.
Rafael nos levava para Sirinhaém, antiga Serinheim, fundada pelos holandeses no período da invasão. Como o tempo estava fechado, inclusive chovendo um pouco, mostrou-nos como funcionava a usina de açúcar da família de sua esposa, que ficava poucos quilômetros antes da entrada da cidadezinha. O Engenho Novo é cercado pelas casas, pela escola e clube dos trabalhadores. Fomos à casa senhorial do Engenho, uma autêntica relíquia histórica: tem cem anos. Várias peças da casa estão mobiliadas com móveis antigos.
Depois, fomos até a abadia dos monges franciscanos – século XVII – e passamos pela frente do Engenho Velho. Fomos então até o cais para pegar a lancha que nos deixaria no outro lado, na casa, em Toquinho, cujo acesso na época das chuvas se torna difícil por terra, devido ao estado da estrada. Ficamos um pouco na casa e depois fomos à ilha. Caminhamos por volta de toda ela. Em uma de suas praias, a enseada tem a forma de uma cratera vulcânica perfeita. Enquanto caminhávamos pela volta da ilha, procurávamos as ruínas da muralha de um velho forte holandês que ali existira.
Depois de passearmos pela ilha, voltamos para a casa em que estávamos em Toquinho para podermos almoçar. Mas, antes de atracarmos, Rafael levou o Ricardo lá para o mangue em frente à casa enquanto a maré ainda estava baixa, onde eles caminharam com o Luck e ficaram com lama até os joelhos. Tirei então uma foto deles. Voltamos a casa para almoçar e descansamos um pouco na rede. À tardezinha, Rafael nos chamou para passearmos pelo mangue com a maré alta. A paisagem era belíssima, em uma das curvas que fez entrou no momento em que o sol se punha. Ainda passeamos um pouco pelo crepúsculo, a sensação era muito boa. Nesse meio tempo, Luck ficava de lá para cá, entre o meu colo e o do Ricardo, estava superdengoso.
Passamos por uma parte do mangue que estava sendo desmatada por uns posseiros que estavam, com isso, depredando o ecossistema. Rafael nos contou que no mangue havia exemplares de jacarés e guaxinins e que a usina, encarregada de proteger aquela área, já que é foreira da União, ofereceu aos posseiros terreno escriturado para saírem dali e fixarem moradia em local um pouco mais afastado do mangue, podendo eles continuar a caçar caranguejos, mas eles não aceitaram.
Voltamos para a casa para pegarmos Consuelo e Bruno e nossa bagagem para voltarmos para Recife. Quando chegamos a casa do Rafael já era noite fechada. Antes de passarmos para o carro do Bruno, Rafael nos levou à casa em frente, onde morava seu sogro, no mesmo condomínio, para conhecermos o irmão de Luck, Ollie, mais caramelado e cachorro-propaganda. Conhecemos também o sogro e o cunhado de Rafael.
Voltamos a nossa pousada, onde mais tarde Consuelo e Bruno nos pegaram para jantarmos.
Assim que nos deixaram no hotel, disseram que passariam para nos pegar no dia seguinte, às dez horas da manhã. Já levaríamos nossa bagagem, pois às três da tarde teríamos que estar no aeroporto onde embarcaríamos para Teresina.
No dia seguinte, pagas as contas no Hotel, Bruno levou-nos à casa de sua mãe, onde vimos a fita em que Bruno registrou a viagem de navio, inclusive a cena em que Ricardo aparece dançando com a bailarina russa. Mostramos a filmagem que fizemos da Pedra do Ingá. Conhecemos também a mãe do Bruno, uma senhora bastante simpática.
Depois fomos ao Shopping Recife. Compramos nossos chapéus de pano, almoçamos, compramos filme e vimos, ao sairmos, uma apresentação de festival de dança junina. Belíssimo!
Fomos ao aeroporto pegamos nossa mochila grande que ficou lá, redistribuímos a bagagem e partimos para Teresina. Achávamos que o vôo era direto, mas tinha escala em Fortaleza. Ao invés de chegarmos às 17h, chegamos às 18h30 e já eram quase 19h quando pegamos o táxi. Iríamos para a rodoviária para pegar um ônibus para Piripiri. Resolvemos prosseguir no táxi, ou chegaríamos depois da meia-noite, e teríamos de levantar às 6h do dia seguinte. O táxi levou-nos primeiramente à cidade, mas o único hotel de que tínhamos referência no centro tinha um aspecto horroroso. Ficamos sabendo depois que havia um melhorzinho, mas como tínhamos reserva para o dia seguinte no hotel fazenda, resolvemos antecipar a nossa chegada lá. Chegamos no hotel por volta das 22h15.
No dia seguinte, acordamos às 6h, tomamos café no Hotel Fazenda Sete Cidades. Os passarinhos –cardeais e asas-brancas, sobretudo – vinham às mesas para catarem as migalhas de pão que os hóspedes deixavam e, não raro, pousavam na cabeça ou no dedo do pessoal do Hotel. Travamos conhecimento com um casal de paulistanos que nos ofereceu carona no micro-ônibus que haviam fretado. Nós ficamos em dúvida, porque eles não ficariam à vontade. Então, resolvemos ir no ônibus do IBAMA, que passava na porta do hotel. Mas, chegando lá, só havia dois guias: uma que já estava acertada com este casal mais idoso e outro que estava com outro casal mais jovem, também de paulistanos. Resolvemos, então, aceitar a carona, mas nos arrependemos por termos impossibilitado a condução da excursão do nosso gosto e não ficamos à vontade, pois só poderíamos arriscar qualquer conclusão ou hipótese que tivesse o selo do academicamente aprovado.
O senhor, que tinha uma extraordinária capacidade para reproduzir, com rapidez, no papel os desenhos nas rochas e as próprias formações e nos indicou o livro Pré-história do Nordeste, disse que o trabalho do geólogo Reinaldo Coutinho, que ali fazia as escavações no Parque, esposava a teoria dos OVNIs de von Däniken. Ao lermos o texto em questão – O enigma de Sete Cidades – vimos que fizera apenas um levantamento do que haviam escrito sobre o local e, com espírito científico, mencionara também a tese dos OVNIs, sem, no entanto, se verificar uma única linha que conduzisse à conclusão de que concordava com o "ufólogo" suíço, adotando, antes, uma postura que jamais poderia ser considerada uma heresia acadêmica.
A visita começou pela 6ª Cidade, onde se destaca a Pedra que, de um lado, semelha a uma tartaruga, com um “casco” composto por vários hexágonos, e de outro, lembra um elefante, com tromba e presas.
Dali, fomos à 2ª Cidade, onde passamos sob o “Arco do Triunfo”, seguimos uma trilha até a Pedra da Biblioteca, na qual existe uma marquise e que se acha próxima a um mirante de onde se podem ver todas as Cidades componentes do Parque. Havia, ali, pinturas rupestres, onde foram identificadas, dentre outros símbolos, a espiral e a cruz suástica. O piso se mostrava muito interessante, parecendo que fora assentado pelo homem.
Na 5ª Cidade, vimos na Furna do Índio inscrições rupestres e uma caixa de marimbondos que desencorajava a aproximação. No interior da furna, havia uma entrada quadrangular. A parte superior da rocha que lembrava o telhado de uma casa celta.
Na 4ª Cidade, visitamos a Gruta do Catirina, com sua entrada quadrangular, que abrigou um curandeiro que fazia curas com ervas e ali vivia como eremita. O agrupamento de formações rochosas que lembravam grandes edifícios estavam cercados por muralhas de pedra com aberturas que semelhavam muito a um portal. Na mesma 4ª Cidade visitamos a formação conhecida como Mapa do Brasil.
Na 3ª Cidade, destaca-se a Pedra Cara do Diabo, onde bate o sol nascente no solstício de inverno, passando os raios por um pequeno furo feito na rocha, descoberto por Reinaldo Coutinho. Visualizei outro buraco que poderia corresponder a outra marcação de tempo. Havia, ao lado do primeiro furo, vários riscos que corresponderiam, talvez, a um calendário.
Na 1ª Cidade, destacavam-se os “canhões”, cilindros que se postavam sobre as formações. Dentre os animais, vimos na 1ª Cidade um mocó – um roedor – e, nas proximidades da represa existente perto do hotel do IBAMA, iguanas.
Descemos na entrada do Parque para comprarmos o livro do Reinaldo, mas esqueci a mochila no carro do casal de paulistanos, que arrancou logo que descemos, antes mesmo que pudéssemos dizer qualquer coisa. Só fui encontrá-la às 21h, depois de muita preocupação, pois estava com nossos documentos e com a máquina fotográfica. Almoçamos uma comida deliciosa e conversamos com o outro casal de São Paulo, Kátia e Paulo, que, por sinal, estava indo também para Parnaíba. Vimos, ainda, uma raposa lutando para defender o seu almoço contra ávidos urubus. Pegamos o ônibus do IBAMA que voltava às 17h e ficamos no Hotel, aguardando a chegada do casal com a mochila, já que eles tinham saído para jantar.
No dia seguinte, acordei cedo, aproveitei para colocar as anotações em dia e arrumei a bagagem para irmos a Parnaíba, pegando o ônibus das 8h40. Chegando em Piracuruca, Kátia e Paulo entraram no ônibus. Tinham perdido o horário e pegaram um táxi até a próxima cidade. Chegando em Parnaíba, ligamos para o Hotel Rio Poty, em Luís Correia, e combinamos um bom preço. Após instalados, fomos à praia almoçar, mas todas as barracas estavam fechadas, pois além de ser baixa temporada era dia de semana. Almoçamos na primeira que encontramos aberta depois de andarmos cerca de uns 600 metros. Depois, voltamos ao hotel, vimos o jogo do Brasil x Marrocos, com a vitória brasileira por 3 a 0. À noite, saímos para ir ao centro de Luís Correia, mas não havia muita coisa funcionando. Comemos um sanduíche em uma lanchonete e depois voltamos ao hotel.
No outro dia, fizemos o passeio de chalana pelo Delta do Parnaíba, um passeio belíssimo. Passamos por igarapés, aldeias de pescadores, mangues, lugares paradisíacos. Muitas vezes, passávamos por jacarés e por aves. A primeira parada era em uma ilha, na margem maranhense do rio, onde havia uma duna que atravessávamos cerca de 500 metros para chegarmos a uma praia de mar aberto, onde nos banhamos. Depois, voltamos e nadamos no rio, cuja água era salobra. Após o banho, almoçamos. A segunda parada era na Ilha Grande de Santa Isabel em uma pequena praia cuja água era totalmente doce, onde nos arrumaram uma mesa para que comêssemos caranguejos. Ricardo comia feliz da vida, e jogava o resto para os peixinhos. Depois, retornamos e pedimos que nos deixassem no centro, na praça da Igreja. Dali, fomos caminhando por um calçadão até o terminal, onde pegamos um ônibus até Luís Correia. Dentro do ônibus estavam a Kátia e o Paulo, que perguntaram se queríamos rachar com eles um aluguel de carro no dia seguinte. Depois que chegamos no hotel, ficamos conversando na piscina até anoitecer. Nesta noite, jantamos no próprio hotel.
Enquanto esperávamos pelo carro que alugamos, liguei para o meu pai pelo aniversário.
O primeiro passeio foi à Pedra do Sal. O caminho é belíssimo. Lá há um farol e à esquerda deste, uma enseada, à direita, mar aberto. Na enseada havia várias barraquinhas de praia, todas vazias, pois era dia de semana, mas ainda assim a praia estava cheia de detritos jogados pelos banhistas, como papéis, plásticos e cacos de vidro.
De lá, fomos ao restaurante do Zé Grosso, à margem do rio, onde comemos uma pescada frita, que estava deliciosa.
Depois rumamos para a última praia acessível por estrada asfaltada: Macapá, cerca de 40 km de Parnaíba, no sentido oposto ao que estávamos. A estrada asfaltada termina em um pequeno abismo para o mar, o local é lindíssimo. Explicaram-nos que o mar está subindo naquele local e tomando parte da ponta de terra. Fomos até o único hotel que existe nesta praia: muito gracioso, com um estilo rústico, construído em torno de um pátio interno, cuja frente está voltada para uma das ilhas, que forma um pequeno delta entre o rio e o mar. Do lado esquerdo, vê-se o mar aberto e, do lado direito, a saída do rio para o mar. Esta saída é feita por várias ilhas, mas de onde estávamos só se podia ver uma. Na frente do hotel há uma passarela suspensa que leva até o restaurante da praia e em frente há várias barraquinhas de palha. É o tipo do local para descansar alguns dias e fugir do stress da cidade grande. Entramos naquela água tranqüila e limpa onde o rio se mistura com o mar.
Depois de tomarmos um suco, fomos conhecer outra praia, a do Coqueiro, onde fomos comer no restaurante da D. Maria. Depois que fizemos o pedido (era em torno de quatro horas da tarde), dirigi-me à praia e entrei numa pequena e convidativa enseada formada por recifes. Fiquei na água sozinha por uns cinco minutos, quando apareceram a Kátia e o Paulo. Depois veio o Ricardo, que não resistiu àquela água deliciosa. Depois que saímos, tomamos uma ducha de água doce e fomos almoçar/jantar, pois quando terminamos já eram cerca de 5 h da tarde.
Antes de sairmos de Coqueiro, fomos conhecer um resort recém-inaugurado, para o qual Kátia e Paulo estavam pensando em passar no dia seguinte, pois apesar de o hotel em que estávamos ficar na praia de Atalaia, distava do mar cerca de uns 700 m. O resort era excelente, os quartos muito bons, a piscina um pouco pequena. A recepcionista era super-simpática e mostrou-nos todo o hotel. Os melhores quartos eram os da suíte, com vista para o mar e banheira de hidromassagem.
Depois de voltarmos ao nosso hotel, de noite fomos ao centro de Luís Correia tomar sorvete. Quando voltamos, arrumei as malas, pois no dia seguinte seguia viagem.
Sexta-feira. Levantamos cerca de 7h. Ricardo fez a barba, crescida desde domingo. Tomamos café bem tranqüilos. Depois, fiquei em uma mesinha do pátio do nosso quarto que dava direto para a piscina, de frente para ela, para colocar as anotações em dia. O jardineiro estava cuidando do jardim e há um outro funcionário arrumando as cadeiras, pois com certeza no dia seguinte – sábado – o Hotel estaria cheio.
Pegamos táxi para o aeroporto. No guichê da Aviação Nordeste reencontramos o motorista do casal que nos dera carona em Sete Cidades. Ele nos narrou a história da Guerra do Jenipapo, ocorrida na região quando Fidié defendeu a soberania portuguesa em território brasileiro até ser derrotado pelas tropas de D. Pedro I.
Tomamos o avião para São Luiz. Deixamos as mochilas no bagageiro, levando só a mochilinha inka e a filmadora. Pegamos alguns prospectos no aeroporto, contendo mapas da cidade e alguns escritos sobre cada um dos lugares de interesse para visitação. Por sinal, o atendimento a turistas é excelente, ganhamos até uma lembrança da cidade. Vimos o Palácio La Ravardière, dedicado ao colonizador francês Daniel de la Touche, que erigiu, em 1612, o forte que daria nome à cidade, o vizinho Palácio dos Leões, em processo de restauração, erigido onde se situava antes o forte francês. Visitamos a Fonte do Ribeirão, com grades através das quais se vêem os túneis subterrâneos que percorrem todo o sub-solo da cidade. No Centro Histórico, descemos as escadarias do Beco da Catarina Mina – dedicado a uma escrava liberta que conquistara grande fortuna – e vimos ali as ruas estreitas com calçamento que lembravam uma São Luiz de vinte anos atrás que eu conheci quando lá morei aos onze anos. O Ricardo fez questão de entrar no Museu de Artes Visuais, onde se viam, além do famoso quadro alegórico da morte de Gonçalves Dias, azulejos lusitanos que lembravam muito o padrão visto na Colônia do Sacramento, no Uruguai, e bicos de pena de Tarsila do Amaral que, de tão graciosos, nem de longe se diria serem da mesma autora do Abaporu. Visitamos, ainda, o Convento das Mercês e a Fonte das Pedras, situada no mesmo lugar em que acampara o caboclo Jerônimo de Albuquerque em 1615 na véspera do combate que suas tropas deram a La Ravardière. Antes de voltar para o aeroporto e embarcar para Belém, tirei uma foto em frente ao Colégio Dom Bosco, onde estudei.
Antes de voltarmos, e já no aeroporto, ligamos para um hotel em Belém, próximo ao Museu Emílio Goeldi.
Depois do café, dirigimo-nos ao museu. Já na chegada a cidade nos pareceu caríssima: o táxi comum até o aeroporto custava vinte reais, o do aeroporto era bem mais caro; o hotel, noventa reais, e não era lá essas coisas. Fomos caminhando até o museu, cerca de uns seis a sete quarteirões. Lá vimos alguns bichos do mini-zoo. O Ricardo se encantou com o filhotinho do peixe-boi, especialmente, e com as cotias que passavam livres pelo parque.
Vimos na exposição permanente as cerâmicas marajoara, tapajônica e amapaense, incrivelmente elaboradas e que se assemelhavam muito à cerâmica mochica e da Mesoamérica. Vimos que se repetia também a simbologia da espiral e da escada (ascenção espiritual) e ainda cruzes. A arte da Ilha de Marajó apresentava nas urnas desenhos com espiral em alto relevo e cruzes. Macacos e serpentes eram motivos freqüentes. Havia, ainda, urna para enterramento secundário com figuras em alto-relevo que pareciam caracteres que, talvez, estivessem contando a história do morto. Da Ilha de Marajó viam-se também urnas antropomorfas para enterramento secundário, com abundância de escadas e espirais e relembrando o estilo mesoamericano. Localizadas no Baixo Rio Urubu, perto do Lago de Silves (AM), urnas antropomorfas para enterramento secundário com figuras humanas em alto-relevo cuja estética lembrava também a Mesoamérica. Ao longo dos rios e igarapés do Amapá, foram encontrados vasos com altos-relevos que lembravam figuras humanas, em estilo próximo ao mesoamericano, vasos quadrangulares com alças semelhantes a felinos e duas extremidades que se assemelhavam a aves, com vários sinais laterais que poderiam ser, talvez, letras de algum alfabeto desconhecido hoje em dia, urnas antropomorfas com desenhos meio apagados, de estilo similar ao mochica, urnas zoomorfas que lembravam as culturas da América Central. Na Cultura Santarém, viam-se vasos altamente estilizados, lembrando candelabros, com desenhos e figuras zoomorfas em alto-relevo, parecendo uma mistura do estilo mochica com o centro-americano. Viam-se estátuas antropomorfas do sexo feminino, parecidas com as mochicas, excetuando-se o rosto, vasos zoomorfos, vasos antropomorfos com desenhos. Havia numa parede a foto de inscrições rupestres em baixo-relevo na Pedra do Pereira, no Estado de Roraima. Vários dentre os caracteres lembravam letras. Ao longo do rio Camutins, em Marajó, encontraram uma urna para enterramento enfeitada por escadas e cruzes vazadas, uma enorme urna redonda para enterramento, onde caberia uma múmia humana inteira, e cujas alças tinham formas humanas, um vaso com quatro pomos que formam um cruz redonda em alto-relevo. Os pomos têm em seu interior desenhos iguais. Nota-se entre eles escadas saídas do exterior de um círculo com espiral dentro. Mais dois vasos em que se notam escada e espiral.
Em torno das 14h fomos a um restaurante próximo ao hotel chamado Lá em casa, cuja comida regional (pirarucu ensopado no leite de coco) era deliciosa e cuja dona era simpaticíssima, mas os preços eram extremamente salgados.
Depois fomos ao Centro Histórico, passamos pelo Teatro da Paz, na Praça da República e no porto fluvial. Vimos (mas não entramos, pois nos disseram que era perigoso) o Mercado Ver-o-Peso. Era belíssimo por fora, mas nas proximidades sentimos um clima tenso e ameaça de perigo. Havia dezenas de homens mal-encarados, que olhavam para nós e cochichavam quando passávamos. Fomos então ao Forte do Castelo, que deu origem à cidade no ano de 1616, e dali pudemos filmar e fotografar o Mercado, pois ficava do lado oposto, com a diferença de ser mais seguro o ponto onde estávamos, devido à presença maciça de guardas. O Forte, ainda, dava para uma praça onde se situava a Catedral da Sé. Depois fomos ver os Palácios Lauro Sodré – onde havia uma exposição de Portinari – e Antônio Lemos. De lá fomos caminhando até o Shopping Iguatemi, onde lanchamos e compramos alguns remédios. De lá pegamos um táxi para o hotel, pois estávamos com os pés doendo de tanto andar. Eram cerca de cinco horas da tarde, e estávamos andando desde as 9 h da manhã. Não saímos mais, fomos dormir cedo, pois no dia seguinte teríamos de pegar um vôo que sairia às 8h para Santarém e arrumamos a bagagem.
Levantamos cedo, tomamos banho, acabamos de arrumar a bagagem. Tomamos rápido o café da manhã e fomos ao aeroporto. Antes de sairmos, assistimos a uma pequena discussão entre os taxistas sobre qual dos motoristas nos levaria. A única conclusão a que cheguei é que se eles cobrassem mais barato teriam com certeza mais fregueses. Embarcamos às 7h30, o vôo saía às 8h. Neste meio tempo, colocamos nossas anotações em dia.
Chegamos a Santarém às 9h (hora de Brasília), mas tivemos de atrasar o relógio em uma hora, por causa do fuso horário. Informaram-nos no aeroporto que havia uma lancha saindo às 9h para Alenquer. Deixamos uma das nossas mochilas no guarda-volumes do aeroporto e pegamos um táxi que nos cobrou vinte e cinco reais até o porto. Ao chegarmos lá, soubemos que, por ser domingo, a lancha somente sairia às 12h. Enquanto aguardávamos a lancha, fomos informados de que nas proximidades de Alenquer existe um quilombo denominado Pacoval, onde os negros mantêm muitas de suas características culturais originárias. Também nos informaram que outros quilombos existiam espalhados pelo Estado do Pará. Já tinha ouvido falar deles quando estudei História do Brasil na Universidade com o Professor Victor Leonardi.
Chegamos às 2h da tarde em Alenquer. Vimos dois hotéis, o Vitória Régia e o Pepita. Este último é o dobro do preço, mas os quartos são mais claros e arejados.
Descemos na entrada do Parque para comprarmos o livro do Reinaldo, mas esqueci a mochila no carro do casal de paulistanos, que arrancou logo que descemos, antes mesmo que pudéssemos dizer qualquer coisa. Só fui encontrá-la às 21h, depois de muita preocupação, pois estava com nossos documentos e com a máquina fotográfica. Almoçamos uma comida deliciosa e conversamos com o outro casal de São Paulo, Kátia e Paulo, que, por sinal, estava indo também para Parnaíba. Vimos, ainda, uma raposa lutando para defender o seu almoço contra ávidos urubus. Pegamos o ônibus do IBAMA que voltava às 17h e ficamos no Hotel, aguardando a chegada do casal com a mochila, já que eles tinham saído para jantar.
No dia seguinte, acordei cedo, aproveitei para colocar as anotações em dia e arrumei a bagagem para irmos a Parnaíba, pegando o ônibus das 8h40. Chegando em Piracuruca, Kátia e Paulo entraram no ônibus. Tinham perdido o horário e pegaram um táxi até a próxima cidade. Chegando em Parnaíba, ligamos para o Hotel Rio Poty, em Luís Correia, e combinamos um bom preço. Após instalados, fomos à praia almoçar, mas todas as barracas estavam fechadas, pois além de ser baixa temporada era dia de semana. Almoçamos na primeira que encontramos aberta depois de andarmos cerca de uns 600 metros. Depois, voltamos ao hotel, vimos o jogo do Brasil x Marrocos, com a vitória brasileira por 3 a 0. À noite, saímos para ir ao centro de Luís Correia, mas não havia muita coisa funcionando. Comemos um sanduíche em uma lanchonete e depois voltamos ao hotel.
No outro dia, fizemos o passeio de chalana pelo Delta do Parnaíba, um passeio belíssimo. Passamos por igarapés, aldeias de pescadores, mangues, lugares paradisíacos. Muitas vezes, passávamos por jacarés e por aves. A primeira parada era em uma ilha, na margem maranhense do rio, onde havia uma duna que atravessávamos cerca de 500 metros para chegarmos a uma praia de mar aberto, onde nos banhamos. Depois, voltamos e nadamos no rio, cuja água era salobra. Após o banho, almoçamos. A segunda parada era na Ilha Grande de Santa Isabel em uma pequena praia cuja água era totalmente doce, onde nos arrumaram uma mesa para que comêssemos caranguejos. Ricardo comia feliz da vida, e jogava o resto para os peixinhos. Depois, retornamos e pedimos que nos deixassem no centro, na praça da Igreja. Dali, fomos caminhando por um calçadão até o terminal, onde pegamos um ônibus até Luís Correia. Dentro do ônibus estavam a Kátia e o Paulo, que perguntaram se queríamos rachar com eles um aluguel de carro no dia seguinte. Depois que chegamos no hotel, ficamos conversando na piscina até anoitecer. Nesta noite, jantamos no próprio hotel.
Enquanto esperávamos pelo carro que alugamos, liguei para o meu pai pelo aniversário.
O primeiro passeio foi à Pedra do Sal. O caminho é belíssimo. Lá há um farol e à esquerda deste, uma enseada, à direita, mar aberto. Na enseada havia várias barraquinhas de praia, todas vazias, pois era dia de semana, mas ainda assim a praia estava cheia de detritos jogados pelos banhistas, como papéis, plásticos e cacos de vidro.
De lá, fomos ao restaurante do Zé Grosso, à margem do rio, onde comemos uma pescada frita, que estava deliciosa.
Depois rumamos para a última praia acessível por estrada asfaltada: Macapá, cerca de 40 km de Parnaíba, no sentido oposto ao que estávamos. A estrada asfaltada termina em um pequeno abismo para o mar, o local é lindíssimo. Explicaram-nos que o mar está subindo naquele local e tomando parte da ponta de terra. Fomos até o único hotel que existe nesta praia: muito gracioso, com um estilo rústico, construído em torno de um pátio interno, cuja frente está voltada para uma das ilhas, que forma um pequeno delta entre o rio e o mar. Do lado esquerdo, vê-se o mar aberto e, do lado direito, a saída do rio para o mar. Esta saída é feita por várias ilhas, mas de onde estávamos só se podia ver uma. Na frente do hotel há uma passarela suspensa que leva até o restaurante da praia e em frente há várias barraquinhas de palha. É o tipo do local para descansar alguns dias e fugir do stress da cidade grande. Entramos naquela água tranqüila e limpa onde o rio se mistura com o mar.
Depois de tomarmos um suco, fomos conhecer outra praia, a do Coqueiro, onde fomos comer no restaurante da D. Maria. Depois que fizemos o pedido (era em torno de quatro horas da tarde), dirigi-me à praia e entrei numa pequena e convidativa enseada formada por recifes. Fiquei na água sozinha por uns cinco minutos, quando apareceram a Kátia e o Paulo. Depois veio o Ricardo, que não resistiu àquela água deliciosa. Depois que saímos, tomamos uma ducha de água doce e fomos almoçar/jantar, pois quando terminamos já eram cerca de 5 h da tarde.
Antes de sairmos de Coqueiro, fomos conhecer um resort recém-inaugurado, para o qual Kátia e Paulo estavam pensando em passar no dia seguinte, pois apesar de o hotel em que estávamos ficar na praia de Atalaia, distava do mar cerca de uns 700 m. O resort era excelente, os quartos muito bons, a piscina um pouco pequena. A recepcionista era super-simpática e mostrou-nos todo o hotel. Os melhores quartos eram os da suíte, com vista para o mar e banheira de hidromassagem.
Depois de voltarmos ao nosso hotel, de noite fomos ao centro de Luís Correia tomar sorvete. Quando voltamos, arrumei as malas, pois no dia seguinte seguia viagem.
Sexta-feira. Levantamos cerca de 7h. Ricardo fez a barba, crescida desde domingo. Tomamos café bem tranqüilos. Depois, fiquei em uma mesinha do pátio do nosso quarto que dava direto para a piscina, de frente para ela, para colocar as anotações em dia. O jardineiro estava cuidando do jardim e há um outro funcionário arrumando as cadeiras, pois com certeza no dia seguinte – sábado – o Hotel estaria cheio.
Pegamos táxi para o aeroporto. No guichê da Aviação Nordeste reencontramos o motorista do casal que nos dera carona em Sete Cidades. Ele nos narrou a história da Guerra do Jenipapo, ocorrida na região quando Fidié defendeu a soberania portuguesa em território brasileiro até ser derrotado pelas tropas de D. Pedro I.
Tomamos o avião para São Luiz. Deixamos as mochilas no bagageiro, levando só a mochilinha inka e a filmadora. Pegamos alguns prospectos no aeroporto, contendo mapas da cidade e alguns escritos sobre cada um dos lugares de interesse para visitação. Por sinal, o atendimento a turistas é excelente, ganhamos até uma lembrança da cidade. Vimos o Palácio La Ravardière, dedicado ao colonizador francês Daniel de la Touche, que erigiu, em 1612, o forte que daria nome à cidade, o vizinho Palácio dos Leões, em processo de restauração, erigido onde se situava antes o forte francês. Visitamos a Fonte do Ribeirão, com grades através das quais se vêem os túneis subterrâneos que percorrem todo o sub-solo da cidade. No Centro Histórico, descemos as escadarias do Beco da Catarina Mina – dedicado a uma escrava liberta que conquistara grande fortuna – e vimos ali as ruas estreitas com calçamento que lembravam uma São Luiz de vinte anos atrás que eu conheci quando lá morei aos onze anos. O Ricardo fez questão de entrar no Museu de Artes Visuais, onde se viam, além do famoso quadro alegórico da morte de Gonçalves Dias, azulejos lusitanos que lembravam muito o padrão visto na Colônia do Sacramento, no Uruguai, e bicos de pena de Tarsila do Amaral que, de tão graciosos, nem de longe se diria serem da mesma autora do Abaporu. Visitamos, ainda, o Convento das Mercês e a Fonte das Pedras, situada no mesmo lugar em que acampara o caboclo Jerônimo de Albuquerque em 1615 na véspera do combate que suas tropas deram a La Ravardière. Antes de voltar para o aeroporto e embarcar para Belém, tirei uma foto em frente ao Colégio Dom Bosco, onde estudei.
Antes de voltarmos, e já no aeroporto, ligamos para um hotel em Belém, próximo ao Museu Emílio Goeldi.
Depois do café, dirigimo-nos ao museu. Já na chegada a cidade nos pareceu caríssima: o táxi comum até o aeroporto custava vinte reais, o do aeroporto era bem mais caro; o hotel, noventa reais, e não era lá essas coisas. Fomos caminhando até o museu, cerca de uns seis a sete quarteirões. Lá vimos alguns bichos do mini-zoo. O Ricardo se encantou com o filhotinho do peixe-boi, especialmente, e com as cotias que passavam livres pelo parque.
Vimos na exposição permanente as cerâmicas marajoara, tapajônica e amapaense, incrivelmente elaboradas e que se assemelhavam muito à cerâmica mochica e da Mesoamérica. Vimos que se repetia também a simbologia da espiral e da escada (ascenção espiritual) e ainda cruzes. A arte da Ilha de Marajó apresentava nas urnas desenhos com espiral em alto relevo e cruzes. Macacos e serpentes eram motivos freqüentes. Havia, ainda, urna para enterramento secundário com figuras em alto-relevo que pareciam caracteres que, talvez, estivessem contando a história do morto. Da Ilha de Marajó viam-se também urnas antropomorfas para enterramento secundário, com abundância de escadas e espirais e relembrando o estilo mesoamericano. Localizadas no Baixo Rio Urubu, perto do Lago de Silves (AM), urnas antropomorfas para enterramento secundário com figuras humanas em alto-relevo cuja estética lembrava também a Mesoamérica. Ao longo dos rios e igarapés do Amapá, foram encontrados vasos com altos-relevos que lembravam figuras humanas, em estilo próximo ao mesoamericano, vasos quadrangulares com alças semelhantes a felinos e duas extremidades que se assemelhavam a aves, com vários sinais laterais que poderiam ser, talvez, letras de algum alfabeto desconhecido hoje em dia, urnas antropomorfas com desenhos meio apagados, de estilo similar ao mochica, urnas zoomorfas que lembravam as culturas da América Central. Na Cultura Santarém, viam-se vasos altamente estilizados, lembrando candelabros, com desenhos e figuras zoomorfas em alto-relevo, parecendo uma mistura do estilo mochica com o centro-americano. Viam-se estátuas antropomorfas do sexo feminino, parecidas com as mochicas, excetuando-se o rosto, vasos zoomorfos, vasos antropomorfos com desenhos. Havia numa parede a foto de inscrições rupestres em baixo-relevo na Pedra do Pereira, no Estado de Roraima. Vários dentre os caracteres lembravam letras. Ao longo do rio Camutins, em Marajó, encontraram uma urna para enterramento enfeitada por escadas e cruzes vazadas, uma enorme urna redonda para enterramento, onde caberia uma múmia humana inteira, e cujas alças tinham formas humanas, um vaso com quatro pomos que formam um cruz redonda em alto-relevo. Os pomos têm em seu interior desenhos iguais. Nota-se entre eles escadas saídas do exterior de um círculo com espiral dentro. Mais dois vasos em que se notam escada e espiral.
Em torno das 14h fomos a um restaurante próximo ao hotel chamado Lá em casa, cuja comida regional (pirarucu ensopado no leite de coco) era deliciosa e cuja dona era simpaticíssima, mas os preços eram extremamente salgados.
Depois fomos ao Centro Histórico, passamos pelo Teatro da Paz, na Praça da República e no porto fluvial. Vimos (mas não entramos, pois nos disseram que era perigoso) o Mercado Ver-o-Peso. Era belíssimo por fora, mas nas proximidades sentimos um clima tenso e ameaça de perigo. Havia dezenas de homens mal-encarados, que olhavam para nós e cochichavam quando passávamos. Fomos então ao Forte do Castelo, que deu origem à cidade no ano de 1616, e dali pudemos filmar e fotografar o Mercado, pois ficava do lado oposto, com a diferença de ser mais seguro o ponto onde estávamos, devido à presença maciça de guardas. O Forte, ainda, dava para uma praça onde se situava a Catedral da Sé. Depois fomos ver os Palácios Lauro Sodré – onde havia uma exposição de Portinari – e Antônio Lemos. De lá fomos caminhando até o Shopping Iguatemi, onde lanchamos e compramos alguns remédios. De lá pegamos um táxi para o hotel, pois estávamos com os pés doendo de tanto andar. Eram cerca de cinco horas da tarde, e estávamos andando desde as 9 h da manhã. Não saímos mais, fomos dormir cedo, pois no dia seguinte teríamos de pegar um vôo que sairia às 8h para Santarém e arrumamos a bagagem.
Levantamos cedo, tomamos banho, acabamos de arrumar a bagagem. Tomamos rápido o café da manhã e fomos ao aeroporto. Antes de sairmos, assistimos a uma pequena discussão entre os taxistas sobre qual dos motoristas nos levaria. A única conclusão a que cheguei é que se eles cobrassem mais barato teriam com certeza mais fregueses. Embarcamos às 7h30, o vôo saía às 8h. Neste meio tempo, colocamos nossas anotações em dia.
Chegamos a Santarém às 9h (hora de Brasília), mas tivemos de atrasar o relógio em uma hora, por causa do fuso horário. Informaram-nos no aeroporto que havia uma lancha saindo às 9h para Alenquer. Deixamos uma das nossas mochilas no guarda-volumes do aeroporto e pegamos um táxi que nos cobrou vinte e cinco reais até o porto. Ao chegarmos lá, soubemos que, por ser domingo, a lancha somente sairia às 12h. Enquanto aguardávamos a lancha, fomos informados de que nas proximidades de Alenquer existe um quilombo denominado Pacoval, onde os negros mantêm muitas de suas características culturais originárias. Também nos informaram que outros quilombos existiam espalhados pelo Estado do Pará. Já tinha ouvido falar deles quando estudei História do Brasil na Universidade com o Professor Victor Leonardi.
Chegamos às 2h da tarde em Alenquer. Vimos dois hotéis, o Vitória Régia e o Pepita. Este último é o dobro do preço, mas os quartos são mais claros e arejados.
Antes de colocarmos nossas coisas na pousada, fomos à casa do Dr. Monteiro, para pedirmos permissão e informações para irmos à Cidade dos Deuses, situada em sua fazenda.
Uma garotinha apareceu e disse que ele estava descansando. Fomos então ao hotel, tomamos um banho, saímos para comer algo e depois voltamos novamente à casa dele. Ninguém atendeu à porta.
Fomos então saber notícias dos ônibus que vão a Monte Alegre. Disseram-nos que sempre saíam às onze da noite, mas na segunda e na terça só sairiam por volta das 9h30 da manhã. Chegamos então à conclusão de que, mesmo vendo a cidade no outro dia, teríamos de ficar mais uma noite, para sair na terça de manhã e chegar à tarde, em uma viagem de quatro a cinco horas de duração em um “pinga-pinga”. Disseram que talvez houvesse um ônibus que sairia às onze da noite, mas não era certeza, e que, se o tomássemos, chegaríamos entre 3h30 e 4h da manhã.
Voltamos à casa do Dr. Monteiro. Desta vez, uma moça na faixa etária dos vinte atendeu-nos e disse que o ingresso para a Cidade dos Deuses custava dois reais por pessoa.
Combinamos com um taxista que nos pegasse no hotel, no dia seguinte, às 7h da manhã.
Informaram-nos na cidade que havia uma lancha que partiria para Santarém às 12h. Decidimos, caso chegássemos antes das 12h, tomá-la e depois, se chegássemos até as duas da tarde, poderíamos pegar a lancha para Monte Alegre no mesmo dia.
Voltamos ao hotel, descansamos, colocamos em dia as anotações. Jantamos, fomos dormir para acordar cedo no dia seguinte. A cidade estava em alvoroço com a festa que estava sendo feita pela vinda de novos geradores de energia – festa, esta, que se justificava em virtude de ser comum no interior paraense o racionamento de energia elétrica, embora muito se falasse no TRAMOESTE, programa destinado a fazer com que a energia de Tucuruí abrangesse outros municípios no meio da selva – .
Levantamos às dez para as seis, quando vimos uma caranguejeira em um dos cantos do quarto. Vestimo-nos rapidamente e abrimos a porta para facilitar a fuga, se necessário.
Acabamos de arrumar as coisas e fomos tomar café. Depois, ficamos esperando o taxista passar para nos pegar. Às 7h05, ele chegou. Fomos ainda abastecer o carro e depois pegamos a estrada.
No começo estava boa, mas os últimos 10 km e,
principalmente, os últimos 5km estavam
terríveis. Aquilo era estrada para cavalo ou bicicleta, mas o carro chegou.
Era uma família que, em meio a cães, galinhas e patos, sob um galpão, estava a descascar a mandioca. Uma moça pediu-nos a autorização e um garoto de seus onze anos nos acompanhou.
Quando entrei na “cidade”, tive uma sensação esquisita de que rituais de magia negra se faziam ali. Uma formação que lembrava um cálice, que filmei de uma pedra bem alta, ao ser dado o zoom, parecia ter em uma de suas faces uma cara monstruosa que mostrava maldade.
Inobstante, a “cidade” é realmente incrível e provoca, ao mesmo tempo, a imaginação e a especulação intelectual: os “muros” são da mesma altura e formam diversas “salas”, algumas grandes, mais centrais (5x10 m) e várias laterais (3x2 m), dispostas simetricamente, uma ao lado da outra. Nas extremidades da “sala” grande, este conjunto era cercado por uma murada maior. Havia quatro ou mais destes conjuntos, um do lado do outro. Havia, ainda, à frente das “salas”, pela altura do “salão” central, duas paredes de pedra semelhantes a um corredor que iam dar em uma abertura que parecia um portal arredondado.
Depois de andarmos por mais de uma hora pela “Cidade”, voltamos a Alenquer. Chegando lá às 11h30, conseguimos pegar a lancha para Santarém. Informaram-nos, no caminho, que sairia uma lancha para Monte Alegre às 2h30 da tarde. Quando chegamos a Santarém, contudo, soubemos que, por ser feriado municipal – Santarém fora fundada em 22 de junho de 1661 e, portanto, era aniversário da cidade –, a lancha para Monte Alegre saíra duas horas mais cedo.
Depois de muito perguntarmos, soubemos que havia um barco que ia para Macapá (AP), que passaria em Monte Alegre, só que sairia às seis horas da tarde, chegando por volta das onze da noite. O barco era uma gaiola e as pessoas já tinham pendurado suas redes. Mandamos nossas mochilas e depois passamos por uma fina tábua que ligava o barco ao cais. Ficamos lá algum tempo. Costurei a alça da minha mochilinha inka, que estava quase saindo. Comecei a colocar as anotações em dia quando o barco começou a balançar muito. Como estava começando a enjoar, saímos do barco e fomos para uma pracinha em frente (a praça da matriz). Quando saímos, a tabuinha já tinha sido colocada em uma posição melhor. Como o barco estava mais próximo do cais, pudemos descer apoiando-nos na própria embarcação.
Ficamos na pracinha, à sombra das árvores, esperando o tempo passar. Ali ficava a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, erigida em 1761 sobre um antigo cemitério dos índios tupaius. A torre do lado esquerdo desabara em 1851, demolida a outra, por precaução no mesmo ano. Entre 1876 e 1881, foram restauradas as paredes e as torres foram reconstruídas entre 1930 e 1933. Um senhor que viu o Ricardo anotando os dados da igreja indicou-lhe uma placa junto ao crucifixo, que fora mandado erigir em 1846 pelo naturalista alemão Carl Friedrich Philip von Martius, em agradecimento pelo fato de se ter salvado, em 1819, de um naufrágio nas águas do Amazonas próximo a Santarém. Os arcos nas janelas do anexo da Catedral lembravam ogivas de janela árabe. Conhecemos um casal de Manaus, Jefferson e Edileude, que estava com um bebezinho, sobrinho desta última, e que, dentre outras coisas, nos esclareceu sobre o menor preço possível para uma corrida de táxi de Santarém a Alter-do-Chão, já que ali os taxistas cobravam os olhos da cara, principalmente quando percebiam que o freguês não era conhecedor da região.
O barco saiu às 19h e, enquanto singrava as águas barrentas do Amazonas, enfrentou uma chuvarada com vento que determinou a baixa dos toldos e um resfriado para o Ricardo. Chegamos à meia-noite. Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse à Casa de Férias, o local mais recomendado por todas as pessoas com quem conversamos, anexo ao Colégio das Freiras. Chegando lá, fomos atendidos pelo rapaz que tomava conta, que nos disse que não havia quartos disponíveis. Achamos mais que era preguiça do “cara” em nos atender àquela hora. Fomos então procurar outro hotel e o taxista nos levou ao Flor de Minas, um hotelzinho bem simples. No quarto, só havia a cama e o ventilador e um banheiro sem portas. Os donos, muito atenciosos, e, pelo que pudemos perceber, éramos os únicos clientes.
Acordamos cerca de 6h30, arrumamo-nos e, enquanto eu dava um jeito no quarto e organizava nossas coisas, Ricardo foi descendo para tomar o café e conversando com os proprietários. Foi informado sobre uma pessoa, o Sr. Alôncio, que tinha uma toyota e sempre levava as pessoas para conhecer as inscrições. Depois do café, fomos procurá-lo e combinamos que em trinta minutos passaria no hotel para nos pegar. Retornando, colocamos calças compridas e tênis de cano longo, abastecemos nosso cantil, recarregamos a bateria da filmadora e trocamos o filme da máquina.
A toyota chegou e partimos. Experimentamos a verdadeira sensação de estarmos passando no meio da selva amazônica. A toyota vai a lugares a que nem com boa vontade vão os carros comuns. Ricardo adorou passear com a toyota.
Fomos passando e o Sr. Alôncio nos mostrava os pontos principais. Começamos pelo final da estrada – se é que aquilo se pode chamar de estrada –: dava exatamente na caverna em que Anna Roosevelt descobrira a ossada humana e analisara as inscrições, que datara de 12.000 a. C. Depois fomos a um monte que tinha em sua parte mais elevada um paredão com várias inscrições, algumas lembrando letras, outras, reproduzindo a vida diária. A vista lá de cima era espetacular: abaixo, à direita, o rio Gurubatuba, afluente menor do Amazonas, à esquerda, a planície amazônica. Depois passamos pela Pedra da Tartaruga, uma formação rochosa interessante e pela Pedra do Pilão. Por último, paramos no Monte do Sol e da Lua, por onde subimos. O local onde estão as inscrições é altíssimo, a subida é íngreme e o sol estava escaldante. Enquanto subi, percebi que do lado do monte em que se situa a maior parte das inscrições a rocha formava uma figura humana de dimensões astronômicas, muito parecida com uma estela maia, só que vinte vezes maior. A vista lá de cima é belíssima, porque esta serra fica isolada em uma imensa planície. Consegui detectar vários sóis e a minha suposição é que o que as pessoas chamam de lua seja apenas uma outra posição solar em outra época do ano. Seria ali, talvez, uma marca de solstícios e equinócios. A descida foi terrível, pois havia muitas pedras soltas.
Chegando à cidade, fomos direto ao Banco do Brasil, pagamos nosso guia-motorista e encontramos um restaurante pequeno com comida deliciosa – serviram-nos pirarucu frito e ensopado, acompanhado de salada, arroz e feijão –, quase em frente ao Banco. De lá, fomos caminhando em direção ao hotel, pois estávamos próximos. Chegamos lá no exato momento em que começava o jogo do Brasil com a Noruega. Fomos para o quarto e tomamos banho. Estávamos grudentos e tínhamos que aproveitar a água, já que era comum esta faltar e que o hotel não tinha caixa d’água para tais emergências. Não assistimos à derrota, resolvemos descansar por estarmos exaustos. Ao baixar o sol, saímos para comprar Cebion, pois o Ricardo estava gripando e eu também. Depois fomos ao porto, pois nos disseram que, de tardezinha, sempre apareciam botos pelo cais, mas não vimos nenhum. Voltamos ao hotel para podermos sair no outro dia cedo, pois só há um horário para saída da lancha para Santarém: 5h da manhã. Há também um barco que sai às 9h da noite e chega às 3h da manhã, um horário péssimo para procurar hotel. E, além do mais, queríamos ir direto para Alter-do-Chão.
Acordamos às 4h, vestimo-nos rapidamente, não pudemos nos lavar, pois estava novamente faltando água. O Sr. Alôncio, na sua toyota, já estava nos esperando. Partimos às 5h, ainda escuro, e combinamos com um taxista que, por vinte reais, nos levasse a Alter-do-Chão, já que ficava esta a 38 km de Santarém. Combinamos, ainda, que nos pegasse no domingo, às 6h30, para nos levar ao aeroporto, pelo mesmo preço de vinte reais, trato que ele descumpriria, mais tarde.
Chegando em Alter-do-Chão, vi duas pousadas, ambas muito boas. Mas a simpatia da Heloísa, dona da Tupaiulândia, fez com que optasse por esta. Às 10h30 tínhamos tomado nosso café da manhã e conversado um pouco com ela. Era dia de folga da camareira e ela pretendia ir a Santarém fazer algumas compras no supermercado. Por isto, resolveu deixar um dos portões sem tranca para que pudéssemos sair e voltar quando quiséssemos.
Passeamos pela beira do rio, onde havia um calçadão. Vimos uma praia do lado da cidade com barraquinhas. Os barcos que levam as pessoas para as barraquinhas da ilha, que está parcialmente coberta pelas águas. O local, realmente, é belíssimo. Em frente ao calçadão, situa-se a praça da igreja e, ao lado da praça, um restaurante enorme. Fomos até o fim do calçadão – ou começo, dependendo de onde se entre –, ao restaurante recomendado pela Heloísa e pedimos nossa comida para as três horas da tarde. Ficamos ainda um pouco no calçadão, descansando em um banco à sombra de uma árvore, olhando algumas crianças pulando de um trampolim improvisado. Havia somente duas pessoas tomando banho na ilha e um barquinho cruzava o rio numa paisagem digna de um quadro.
O tempo começou a fechar e, como estávamos resfriados, resolvemos voltar para o hotel. Fomos para o nosso chalé, tomamos banho, abrimos as janelas para ventilar e descansamos um pouco.
Às 14h30, fomos ao restaurante almoçar. Assim que acabamos de comer, estourou uma tempestade. Ficamos ainda uns quarenta minutos no restaurante olhando a chuva e conversando com a proprietária. Assim que a chuva melhorou, ela nos emprestou uma sombrinha para podermos voltar. Passamos pelo museu de arte indígena, mas estava fechado. Então, fomos para nossa pousada para descansarmos. Chegamos por volta de 16h30, ou, no horário de Brasília, 17h30.
Acordamos com a claridade do sol saindo. Em Porto Alegre, tínhamos o hábito de acordar entre 8 e 10 h da manhã, dependendo do dia da semana e dos compromissos. Mas nesta viagem habituamo-nos a acordar sempre de madrugada e já naturalmente entre 8 e 9h da noite íamos dormir. Tomamos café por volta das 8h30/9h e depois fomos à praia, não sem antes entregar a sombrinha no restaurante em que comêramos no dia anterior. Fomos, em seguida, aos barquinhos que conduziam até a ilha. Enquanto nos dirigíamos ao atracadouro, avistamos botos na água. A travessia foi deliciosa, pois as águas eram tranqüilíssimas. O velhinho que conduzia o barco nos contou que os botos engravidavam as mulheres e que as lavadeiras menstruadas não iam ao rio para não serem atacadas.
Fomos à única barraquinha que estava funcionando na ilha durante a semana. Alugamos uma cadeira confortável. À frente, um rapaz alugava caiaques e vendia águas-de-coco. Instalamo-nos em uma mesinha que ficava embaixo de uma árvore, da qual se viam os dois lados da praia. Por ela caminhamos e na volta tomamos banho nas águas cristalinas do lago, formado pelos igarapés, que deságua no rio Tapajós. Havia uns peixinhos pequeninos, denominados “charutinhos”, que ficavam sempre em volta da gente. Pedimos um tucunaré assado na brasa, delicioso. Aproveitei para colocar as anotações em dia enquanto Ricardo lia o livro do Pablo Villarrubia Mauso, que ele não perdia uma oportunidade sequer para criticar por ter forçado o tempo inteiro a localização de vestígios de OVNIs, quando era muito mais sedutora, provável e fascinante a possibilidade de se verificar a existência ou não de civilização em território brasileiro antes de Cabral.
Voltando a Alter-do-Chão, fomos visitar o Centro de Preservação da Arte, Ciência e Cultura Indígena, antes referido como museu. Ali se vêem peças das vários tribos amazônicas, com especial destaque para a cerâmica de Marajó e do Tapajós. Havia ali réplicas de peças da cerâmica tapajônica cujos originais foram datados do ano 8.000 a. C. Vimos ali os utensílios e vestes de tribos que estão questionando em juízo seu desalojamento para dar lugar a grandes usinas e por trás das quais muitos preferem ver interesses escusos de brancos. Vimos o produto do trabalho de tribos como os waimiri, cuja música se caracteriza por uma escala eneatônica (nove tons), a exemplo do que ocorre com a música dos aborígenes da Oceania. Os tikuna, apesar de 400 anos de tentativa de integração forçada, mantiveram ao longo do tempo sua cultura. Os tukanos têm sido diuturnamente catequizados por diversas seitas religiosas que disputam a apropriação de suas almas. A origem dos jurunas é obscura, mas há a suspeita de que descendam dos índios do altiplano andino. Os assurini apresentam em suas pinturas motivos gregos, figuras geométricas altamente elaboradas. Havia vestes de uma das tribos que observei que apresentavam semelhança com as andinas, não obstante a maioria dos estudiosos negue qualquer tipo de contacto entre estas tribos e a avançadíssima civilização que se desenvolveu na parte mais ocidental da América do Sul. O falicismo, freqüente na arte dos índios andinos e mesoamericanos aparece representado em muitas das peças. A música apresentada como fundo da exposição também lembra a andina, inclusive com a flauta de pã.
No dia seguinte, enquanto caminhávamos na praia da ilha, reencontramos o casal que conhecêramos ao embarcarmos para Monte Alegre e estavam com Ednéa, irmã de Edileude e mãe do bebê referido acima, mais a irmã mais velha deste, chamada Dauíla, mais uma tia desta última, dois anos mais velha, chamada Érica. Por coincidência, estavam hospedados no mesmo hotel. Ficamos com eles até o dia seguinte, sábado, cerca de 1h da tarde, quando voltaram para o hotel, pois o táxi passaria para pegá-los às 14h. Assistiriam ao jogo do Brasil contra o Chile – vitória brasileira por 4 x 1 – às 15h no barco que sairia às 17h para Manaus. Ficamos um pouco mais na praia, pois amanhecera chovendo e só por volta das 12h o tempo firmara e o sol abrira de vez.
À noite teria que arrumar as bagagens, pois no dia seguinte voltaríamos a Porto Alegre, com uma conexão de 4 a 5 horas em Manaus, que seriam aproveitadas para conhecer a cidade.
No dia seguinte, levantamos antes das seis horas da manhã. Arrumamos as bagagens, tomamos café. Havia uns beijus (ou, como chamados ali, tapiocas) quentinhos com manteiga preparados por Heloísa aos quais não resisti. O taxista já estava nos esperando. Quando chegamos e íamos pagar os vinte combinados antecipadamente, ele nos cobrou quarenta.
Na conexão de Manaus, cerca de cinco horas em terra, como os táxis cobravam cerca de 30 reais para irem até o centro e já estávamos injuriadíssimos com eles por causa da exploração, pegamos um ônibus que saía a cada 40 minutos. Deixamos nossa bagagem de mão guardada no aeroporto e só levamos a máquina fotográfica. Passeamos pelo centro, fomos ao Teatro Amazonas. Como era domingo, estava fechado para visitação, mas mesmo assim se podia visualizar a arquitetura do Teatro, testemunha dos tempos do esplendor dos barões da borracha. De lá fomos caminhando até a Praça da Matriz. Passamos em meio à zona franca, mas, em virtude de ser Domingo, todas as lojas estavam fechadas. A praça da igreja estava movimentadíssima. Vimos o prédio da alfândega – uma construção antiga que merece ser vista –, o mercado municipal e o porto. Aquela parte da cidade estava agitadíssima, com pessoas passeando por todos os lados. Pegamos então o ônibus de volta para o aeroporto, e embarcamos para Porto Alegre. Ainda tivemos uma conexão de duas horas em São Paulo.
Ficamos na pracinha, à sombra das árvores, esperando o tempo passar. Ali ficava a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, erigida em 1761 sobre um antigo cemitério dos índios tupaius. A torre do lado esquerdo desabara em 1851, demolida a outra, por precaução no mesmo ano. Entre 1876 e 1881, foram restauradas as paredes e as torres foram reconstruídas entre 1930 e 1933. Um senhor que viu o Ricardo anotando os dados da igreja indicou-lhe uma placa junto ao crucifixo, que fora mandado erigir em 1846 pelo naturalista alemão Carl Friedrich Philip von Martius, em agradecimento pelo fato de se ter salvado, em 1819, de um naufrágio nas águas do Amazonas próximo a Santarém. Os arcos nas janelas do anexo da Catedral lembravam ogivas de janela árabe. Conhecemos um casal de Manaus, Jefferson e Edileude, que estava com um bebezinho, sobrinho desta última, e que, dentre outras coisas, nos esclareceu sobre o menor preço possível para uma corrida de táxi de Santarém a Alter-do-Chão, já que ali os taxistas cobravam os olhos da cara, principalmente quando percebiam que o freguês não era conhecedor da região.
O barco saiu às 19h e, enquanto singrava as águas barrentas do Amazonas, enfrentou uma chuvarada com vento que determinou a baixa dos toldos e um resfriado para o Ricardo. Chegamos à meia-noite. Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse à Casa de Férias, o local mais recomendado por todas as pessoas com quem conversamos, anexo ao Colégio das Freiras. Chegando lá, fomos atendidos pelo rapaz que tomava conta, que nos disse que não havia quartos disponíveis. Achamos mais que era preguiça do “cara” em nos atender àquela hora. Fomos então procurar outro hotel e o taxista nos levou ao Flor de Minas, um hotelzinho bem simples. No quarto, só havia a cama e o ventilador e um banheiro sem portas. Os donos, muito atenciosos, e, pelo que pudemos perceber, éramos os únicos clientes.
Acordamos cerca de 6h30, arrumamo-nos e, enquanto eu dava um jeito no quarto e organizava nossas coisas, Ricardo foi descendo para tomar o café e conversando com os proprietários. Foi informado sobre uma pessoa, o Sr. Alôncio, que tinha uma toyota e sempre levava as pessoas para conhecer as inscrições. Depois do café, fomos procurá-lo e combinamos que em trinta minutos passaria no hotel para nos pegar. Retornando, colocamos calças compridas e tênis de cano longo, abastecemos nosso cantil, recarregamos a bateria da filmadora e trocamos o filme da máquina.
A toyota chegou e partimos. Experimentamos a verdadeira sensação de estarmos passando no meio da selva amazônica. A toyota vai a lugares a que nem com boa vontade vão os carros comuns. Ricardo adorou passear com a toyota.
Fomos passando e o Sr. Alôncio nos mostrava os pontos principais. Começamos pelo final da estrada – se é que aquilo se pode chamar de estrada –: dava exatamente na caverna em que Anna Roosevelt descobrira a ossada humana e analisara as inscrições, que datara de 12.000 a. C. Depois fomos a um monte que tinha em sua parte mais elevada um paredão com várias inscrições, algumas lembrando letras, outras, reproduzindo a vida diária. A vista lá de cima era espetacular: abaixo, à direita, o rio Gurubatuba, afluente menor do Amazonas, à esquerda, a planície amazônica. Depois passamos pela Pedra da Tartaruga, uma formação rochosa interessante e pela Pedra do Pilão. Por último, paramos no Monte do Sol e da Lua, por onde subimos. O local onde estão as inscrições é altíssimo, a subida é íngreme e o sol estava escaldante. Enquanto subi, percebi que do lado do monte em que se situa a maior parte das inscrições a rocha formava uma figura humana de dimensões astronômicas, muito parecida com uma estela maia, só que vinte vezes maior. A vista lá de cima é belíssima, porque esta serra fica isolada em uma imensa planície. Consegui detectar vários sóis e a minha suposição é que o que as pessoas chamam de lua seja apenas uma outra posição solar em outra época do ano. Seria ali, talvez, uma marca de solstícios e equinócios. A descida foi terrível, pois havia muitas pedras soltas.
Chegando à cidade, fomos direto ao Banco do Brasil, pagamos nosso guia-motorista e encontramos um restaurante pequeno com comida deliciosa – serviram-nos pirarucu frito e ensopado, acompanhado de salada, arroz e feijão –, quase em frente ao Banco. De lá, fomos caminhando em direção ao hotel, pois estávamos próximos. Chegamos lá no exato momento em que começava o jogo do Brasil com a Noruega. Fomos para o quarto e tomamos banho. Estávamos grudentos e tínhamos que aproveitar a água, já que era comum esta faltar e que o hotel não tinha caixa d’água para tais emergências. Não assistimos à derrota, resolvemos descansar por estarmos exaustos. Ao baixar o sol, saímos para comprar Cebion, pois o Ricardo estava gripando e eu também. Depois fomos ao porto, pois nos disseram que, de tardezinha, sempre apareciam botos pelo cais, mas não vimos nenhum. Voltamos ao hotel para podermos sair no outro dia cedo, pois só há um horário para saída da lancha para Santarém: 5h da manhã. Há também um barco que sai às 9h da noite e chega às 3h da manhã, um horário péssimo para procurar hotel. E, além do mais, queríamos ir direto para Alter-do-Chão.
Acordamos às 4h, vestimo-nos rapidamente, não pudemos nos lavar, pois estava novamente faltando água. O Sr. Alôncio, na sua toyota, já estava nos esperando. Partimos às 5h, ainda escuro, e combinamos com um taxista que, por vinte reais, nos levasse a Alter-do-Chão, já que ficava esta a 38 km de Santarém. Combinamos, ainda, que nos pegasse no domingo, às 6h30, para nos levar ao aeroporto, pelo mesmo preço de vinte reais, trato que ele descumpriria, mais tarde.
Chegando em Alter-do-Chão, vi duas pousadas, ambas muito boas. Mas a simpatia da Heloísa, dona da Tupaiulândia, fez com que optasse por esta. Às 10h30 tínhamos tomado nosso café da manhã e conversado um pouco com ela. Era dia de folga da camareira e ela pretendia ir a Santarém fazer algumas compras no supermercado. Por isto, resolveu deixar um dos portões sem tranca para que pudéssemos sair e voltar quando quiséssemos.
Passeamos pela beira do rio, onde havia um calçadão. Vimos uma praia do lado da cidade com barraquinhas. Os barcos que levam as pessoas para as barraquinhas da ilha, que está parcialmente coberta pelas águas. O local, realmente, é belíssimo. Em frente ao calçadão, situa-se a praça da igreja e, ao lado da praça, um restaurante enorme. Fomos até o fim do calçadão – ou começo, dependendo de onde se entre –, ao restaurante recomendado pela Heloísa e pedimos nossa comida para as três horas da tarde. Ficamos ainda um pouco no calçadão, descansando em um banco à sombra de uma árvore, olhando algumas crianças pulando de um trampolim improvisado. Havia somente duas pessoas tomando banho na ilha e um barquinho cruzava o rio numa paisagem digna de um quadro.
O tempo começou a fechar e, como estávamos resfriados, resolvemos voltar para o hotel. Fomos para o nosso chalé, tomamos banho, abrimos as janelas para ventilar e descansamos um pouco.
Às 14h30, fomos ao restaurante almoçar. Assim que acabamos de comer, estourou uma tempestade. Ficamos ainda uns quarenta minutos no restaurante olhando a chuva e conversando com a proprietária. Assim que a chuva melhorou, ela nos emprestou uma sombrinha para podermos voltar. Passamos pelo museu de arte indígena, mas estava fechado. Então, fomos para nossa pousada para descansarmos. Chegamos por volta de 16h30, ou, no horário de Brasília, 17h30.
Acordamos com a claridade do sol saindo. Em Porto Alegre, tínhamos o hábito de acordar entre 8 e 10 h da manhã, dependendo do dia da semana e dos compromissos. Mas nesta viagem habituamo-nos a acordar sempre de madrugada e já naturalmente entre 8 e 9h da noite íamos dormir. Tomamos café por volta das 8h30/9h e depois fomos à praia, não sem antes entregar a sombrinha no restaurante em que comêramos no dia anterior. Fomos, em seguida, aos barquinhos que conduziam até a ilha. Enquanto nos dirigíamos ao atracadouro, avistamos botos na água. A travessia foi deliciosa, pois as águas eram tranqüilíssimas. O velhinho que conduzia o barco nos contou que os botos engravidavam as mulheres e que as lavadeiras menstruadas não iam ao rio para não serem atacadas.
Fomos à única barraquinha que estava funcionando na ilha durante a semana. Alugamos uma cadeira confortável. À frente, um rapaz alugava caiaques e vendia águas-de-coco. Instalamo-nos em uma mesinha que ficava embaixo de uma árvore, da qual se viam os dois lados da praia. Por ela caminhamos e na volta tomamos banho nas águas cristalinas do lago, formado pelos igarapés, que deságua no rio Tapajós. Havia uns peixinhos pequeninos, denominados “charutinhos”, que ficavam sempre em volta da gente. Pedimos um tucunaré assado na brasa, delicioso. Aproveitei para colocar as anotações em dia enquanto Ricardo lia o livro do Pablo Villarrubia Mauso, que ele não perdia uma oportunidade sequer para criticar por ter forçado o tempo inteiro a localização de vestígios de OVNIs, quando era muito mais sedutora, provável e fascinante a possibilidade de se verificar a existência ou não de civilização em território brasileiro antes de Cabral.
Voltando a Alter-do-Chão, fomos visitar o Centro de Preservação da Arte, Ciência e Cultura Indígena, antes referido como museu. Ali se vêem peças das vários tribos amazônicas, com especial destaque para a cerâmica de Marajó e do Tapajós. Havia ali réplicas de peças da cerâmica tapajônica cujos originais foram datados do ano 8.000 a. C. Vimos ali os utensílios e vestes de tribos que estão questionando em juízo seu desalojamento para dar lugar a grandes usinas e por trás das quais muitos preferem ver interesses escusos de brancos. Vimos o produto do trabalho de tribos como os waimiri, cuja música se caracteriza por uma escala eneatônica (nove tons), a exemplo do que ocorre com a música dos aborígenes da Oceania. Os tikuna, apesar de 400 anos de tentativa de integração forçada, mantiveram ao longo do tempo sua cultura. Os tukanos têm sido diuturnamente catequizados por diversas seitas religiosas que disputam a apropriação de suas almas. A origem dos jurunas é obscura, mas há a suspeita de que descendam dos índios do altiplano andino. Os assurini apresentam em suas pinturas motivos gregos, figuras geométricas altamente elaboradas. Havia vestes de uma das tribos que observei que apresentavam semelhança com as andinas, não obstante a maioria dos estudiosos negue qualquer tipo de contacto entre estas tribos e a avançadíssima civilização que se desenvolveu na parte mais ocidental da América do Sul. O falicismo, freqüente na arte dos índios andinos e mesoamericanos aparece representado em muitas das peças. A música apresentada como fundo da exposição também lembra a andina, inclusive com a flauta de pã.
No dia seguinte, enquanto caminhávamos na praia da ilha, reencontramos o casal que conhecêramos ao embarcarmos para Monte Alegre e estavam com Ednéa, irmã de Edileude e mãe do bebê referido acima, mais a irmã mais velha deste, chamada Dauíla, mais uma tia desta última, dois anos mais velha, chamada Érica. Por coincidência, estavam hospedados no mesmo hotel. Ficamos com eles até o dia seguinte, sábado, cerca de 1h da tarde, quando voltaram para o hotel, pois o táxi passaria para pegá-los às 14h. Assistiriam ao jogo do Brasil contra o Chile – vitória brasileira por 4 x 1 – às 15h no barco que sairia às 17h para Manaus. Ficamos um pouco mais na praia, pois amanhecera chovendo e só por volta das 12h o tempo firmara e o sol abrira de vez.
À noite teria que arrumar as bagagens, pois no dia seguinte voltaríamos a Porto Alegre, com uma conexão de 4 a 5 horas em Manaus, que seriam aproveitadas para conhecer a cidade.
No dia seguinte, levantamos antes das seis horas da manhã. Arrumamos as bagagens, tomamos café. Havia uns beijus (ou, como chamados ali, tapiocas) quentinhos com manteiga preparados por Heloísa aos quais não resisti. O taxista já estava nos esperando. Quando chegamos e íamos pagar os vinte combinados antecipadamente, ele nos cobrou quarenta.
Na conexão de Manaus, cerca de cinco horas em terra, como os táxis cobravam cerca de 30 reais para irem até o centro e já estávamos injuriadíssimos com eles por causa da exploração, pegamos um ônibus que saía a cada 40 minutos. Deixamos nossa bagagem de mão guardada no aeroporto e só levamos a máquina fotográfica. Passeamos pelo centro, fomos ao Teatro Amazonas. Como era domingo, estava fechado para visitação, mas mesmo assim se podia visualizar a arquitetura do Teatro, testemunha dos tempos do esplendor dos barões da borracha. De lá fomos caminhando até a Praça da Matriz. Passamos em meio à zona franca, mas, em virtude de ser Domingo, todas as lojas estavam fechadas. A praça da igreja estava movimentadíssima. Vimos o prédio da alfândega – uma construção antiga que merece ser vista –, o mercado municipal e o porto. Aquela parte da cidade estava agitadíssima, com pessoas passeando por todos os lados. Pegamos então o ônibus de volta para o aeroporto, e embarcamos para Porto Alegre. Ainda tivemos uma conexão de duas horas em São Paulo.
Chegamos a casa faltando dez minutos para a meia-noite, mas só fomos dormir à 1h30 já da segunda. Às 12h30 tinha de bater o ponto eletrônico no Tribunal, ao retornar ao trabalho.
1. Estão "intimados" (hehehehe) para que da próxima vinda pelo Nordeste do Brasil venham conhecer as belezas das "Terras Alencarinas!
ResponderExcluir2. Três locais especiais já os levarei (a toda sua família) e terei prazer em ser o cicerone, com minha namorada (se já não tiver casado): a) os monólitos de Quixadá; b) a cidade de Redenção - onde se aboliu a escravatura, pioneiramente no Brasil, antes da Lei Áurea; e c) Jericoacoara no oeste - praias locais lindos!
3. Parabéns por divulgarem o Brasil e América latina, também! Parabéns pelo BLOG.
4. Humilde sugestão: coloquem mais fotos também!
Abraços humanísticos
saudações cordiais
Paulo Duarte
Obrigado, Duarte Lima. A sugestão quanto às fotos está anotada. Quanto aos lugares, idem. Minha esposa conheceu Jericoacoara em meados da década de 80, quando se formou em biblioteconomia. Quanto a Quixadá,a terra da Rachel de Queiroz, confesso que desconhecia este dado acerca dos monólitos. Abraços.
ResponderExcluirAdorei a leitura, desperta na gente a vontade de conhecer os lugares :)
ResponderExcluirConcordo com o Paulo Duarte quanto às fotos. A gente vai lendo e fica curiosa pra ver mais imagens dos lugares visitados.
Abraços!
Cau
Muito obrigado, Cláudia. Se os relatos serviram para espicaçar a curiosidade de conhecer os lugares e alimentam o desejo de se verem mais imagens a eles referentes, já valeu a pena ter organizado, mesmo com todas as minhas deficiências em termos de informática, este espaço.
ResponderExcluirVoltarei cá novamente para ler com calma...
ResponderExcluirGostei.
csd
Agradeço, Cláudia, pela visita. Por meu turno, a todos os apaixonados pela literatura recomendo que visitem o seu blog http://hasempreumlivro.blogspot.com/.
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