Chegando ao Aeroporto Juan Santamaría, na Costa Rica, passamos rapidamente pela imigração.
Resolvemos tomar um táxi até o terminal rodoviário de onde sairiam os ônibus para Sámara, tendo combinado o preço de 8 dólares.
No mesmo táxi, ia um norte-americano, natural da Carolina do Sul - a este nem dava para chamar de ianque, já que seu Estado abraçara a causa dos confederados -, que residia em um condomínio fechado e havia combinado com o motorista 10 dólares.
Ao perceber que pagaríamos menos que ele, mesmo sem saber uma só palavra de espanhol, conseguiu reduzir a tarifa para o preço que combináramos e ainda pagou a nossa corrida.
Em seguida, o táxi deixou-nos no terminal da Viação Alfaro.
Pegamos um ônibus extra, que sairia às 12h45, tendo conseguido as últimas passagens.
Seguimos por terra até o Golfo de Nicoya, onde atravessamos o Pacífico a ferry boat, cujo pagamento não estava incluído na passagem de ônibus.
Revoadas de gaivotas e cormorões cruzavam o trajeto do ferry atrás dos detritos, fazendo um barulho infernal.
Tomamos novamente a estrada, chegando à noite em Sámara.
Conseguimos hospedagem no Hotel Marbella, de propriedade de um jovem tcheco, muito simpático - ao contrário da maior parte dos europeus que ali viviam -, que deixara seu país algum tempo depois da posse de Vaclav Havel, de quem fora partidário na época do regime stalinista, e com quem conversávamos em inglanhol.
Fomos jantar no Restaurante Sol y Playa, tendo eu pedido um arroz com polvo e Scheila um sanduíche de tomate e queijo.
A praia, realmente, era a mais tranqüila das praias do Pacífico que até então conhecêramos.
Havia um grande recife de coral que amortecia a violência das ondas.
Volta e meia, víamos pelicanos mergulharem à procura do alimento para seus filhotes.
Entretanto, isto não significava serem as águas tranqüilas.
Normalmente, entrávamos na foz de alguns rios limpos que ali desaguavam e que, no encontro com o mar, por alguma razão, sofriam um aumento na temperatura de suas águas.
Não raro, víamos narcejas com o seu andar dançante à procura de moluscos.
Informaram-nos de que a alguns quilômetros dali havia uma praia ainda mais tranqüila e limpa denominada Carrillo, a curta distância de Sámara.
Procuramos um local que nos alugasse bicicletas.
O que tinha o preço mais em conta era um hotel de propriedade de italianos.
Entretanto, não se contentaram em exigir os nossos passaportes apenas para o efeito de identificação, como seria razoável.
Queriam ficar com eles como garantia, o que é extremamente imprudente em país estrangeiro.
Resolvemos então seguir a pé pelas areias de Sámara para, depois, contornarmos o rochedo extremamente largo que a separava de Carrillo, na qual entramos pelo mato.
A praia, mais deserta que Sámara, de fato tinha águas mais tranqüilas, onde pelicanos, gaivotas e andorinhas-do-mar - foi a primeira vez que vi esta, que eu considero a mais bela dentre as parentes da gaivota, fora de uma gravura de livro ou de um documentário cinematográfico - faziam loopings espetaculares para mergulharem atrás do peixe.
Fomos informados de que nela fora feito o filme em que Gérard Depardieu interpretara Cristóvão Colombo - 1492, de Ridley Scott -.
O caminho entre Sámara e Carrillo lembrava um poema de Baudelaire: um céu azul, sem nuvens, um verde vivo das folhagens, alguns sítios e uma grande concentração de urubus sobre a carniça de um burro.
Na praia de Sámara havia hotéis que ofereciam uma grande variedade de esportes aquáticos e aluguel de cavalos.
Restaurantes e campings também não faltavam.
Quase todos pertenciam a europeus - franceses, italianos, espanhóis, alemães -, que, em não pequeno número, julgavam estar fazendo um grande favor à população local por levarem a sua condição de seres superiores para iluminarem o país.
Os costarricenses, de um modo geral, eram mais cordatos, mais simpáticos.
Lembro que em uma lancheria onde pretendíamos almoçar pedimos uma água de côco.
Embora ali não houvesse, imediatamente saíram e compraram dois côcos verdes para os turistas brasileiros que ali iam almoçar.
Tomamos ao cabo de alguns dias o ônibus para San José e, de lá, fomos ao Aeroporto para pegarmos o vôo para Caracas.
A atendente estudava português e, ao ver que éramos brasileiros, teve a oportunidade de testar seus conhecimentos.
Tínhamos sido amplamente prevenidos em relação a Caracas, quanto a ser uma cidade extremamente perigosa, onde havia muitos assaltos.
Nossa primeira experiência com os venezuelanos fora por ocasião de nossa lua-de-mel na Isla Margarita, em 1995, o ponto mais meridional a que Cristóvão Colombo chegara, onde a Espanha mantivera fortes contra os piratas e corsários do Caribe e, até hoje, grande exportadora de pérolas.
A impressão que tivéramos era de um povo alegre, trabalhador e que gostava dos brasileiros, dada a festa que faziam cada vez que se revelava a nossa nacionalidade, festa que não faziam nem para os americanos, nem para os alemães, nem para os franceses.
Ao chegarmos, trocamos nossos traveller's checks e nos dirigimos ao posto de turismo oficial, no Aeroporto.
Conseguimos hospedagem em hotel no centro de Caracas, com habitação ampla, banho privado, água quente.
No dia seguinte, fomos conhecer a cidade, em busca de lugares que, efetivamente, lembrassem Simón Bolívar.
Scheila fotografou-me ao pé de uma sua estátua eqüestre e, depois, fomos à casa onde nasceu, transformada em museu onde as fotos somente eram permitidas sem flash.
Mais que um herói nacional que tentara concretizar os ideais do iluminismo, mais que um personagem histórico, Bolívar era, tal como Sepé Tiaraju, como Tiradentes, como Zumbi dos Palmares, como Bento Gonçalves, um herói mítico.
Sua biografia romanesca, plena de lances épicos, frases históricas, casos de amor extraconjugais, gestos de extrema generosidade, fez do Libertador uma presença marcante mesmo no final do século XX, pois o seu sonho foi a integração da América Latina.
No imaginário popular, Bolivar ultrapassou os limites da condição humana, para alcançar o objetivo de terminar o martírio imposto pelos espanhóis aos latino-americanos. Note-se que, nesta época, sequer havia ainda a utilização do adjetivo "bolivariano" para designar a República da Venezuela.
Estivemos ainda na Corte Superior de Justiça e na Igreja de São Francisco de Assis.
Notamos que a cidade estava bem servida, tal como a Cidade do México, de linhas de metrô.
Este, ali, não era concebido como uma espécie de trem de subúrbio, ao contrário do que ocorria em Belo Horizonte.
Ao contrário, verificava-se que os seus usuários deviam pertencer, de um modo geral, à classe média alta.
Resolvemos tomar um táxi até o terminal rodoviário de onde sairiam os ônibus para Sámara, tendo combinado o preço de 8 dólares.
No mesmo táxi, ia um norte-americano, natural da Carolina do Sul - a este nem dava para chamar de ianque, já que seu Estado abraçara a causa dos confederados -, que residia em um condomínio fechado e havia combinado com o motorista 10 dólares.
Ao perceber que pagaríamos menos que ele, mesmo sem saber uma só palavra de espanhol, conseguiu reduzir a tarifa para o preço que combináramos e ainda pagou a nossa corrida.
Em seguida, o táxi deixou-nos no terminal da Viação Alfaro.
Pegamos um ônibus extra, que sairia às 12h45, tendo conseguido as últimas passagens.
Seguimos por terra até o Golfo de Nicoya, onde atravessamos o Pacífico a ferry boat, cujo pagamento não estava incluído na passagem de ônibus.
Revoadas de gaivotas e cormorões cruzavam o trajeto do ferry atrás dos detritos, fazendo um barulho infernal.
Tomamos novamente a estrada, chegando à noite em Sámara.
Conseguimos hospedagem no Hotel Marbella, de propriedade de um jovem tcheco, muito simpático - ao contrário da maior parte dos europeus que ali viviam -, que deixara seu país algum tempo depois da posse de Vaclav Havel, de quem fora partidário na época do regime stalinista, e com quem conversávamos em inglanhol.
Fomos jantar no Restaurante Sol y Playa, tendo eu pedido um arroz com polvo e Scheila um sanduíche de tomate e queijo.
A praia, realmente, era a mais tranqüila das praias do Pacífico que até então conhecêramos.
Havia um grande recife de coral que amortecia a violência das ondas.
Volta e meia, víamos pelicanos mergulharem à procura do alimento para seus filhotes.
Entretanto, isto não significava serem as águas tranqüilas.
Normalmente, entrávamos na foz de alguns rios limpos que ali desaguavam e que, no encontro com o mar, por alguma razão, sofriam um aumento na temperatura de suas águas.
Não raro, víamos narcejas com o seu andar dançante à procura de moluscos.
Informaram-nos de que a alguns quilômetros dali havia uma praia ainda mais tranqüila e limpa denominada Carrillo, a curta distância de Sámara.
Procuramos um local que nos alugasse bicicletas.
O que tinha o preço mais em conta era um hotel de propriedade de italianos.
Entretanto, não se contentaram em exigir os nossos passaportes apenas para o efeito de identificação, como seria razoável.
Queriam ficar com eles como garantia, o que é extremamente imprudente em país estrangeiro.
Resolvemos então seguir a pé pelas areias de Sámara para, depois, contornarmos o rochedo extremamente largo que a separava de Carrillo, na qual entramos pelo mato.
A praia, mais deserta que Sámara, de fato tinha águas mais tranqüilas, onde pelicanos, gaivotas e andorinhas-do-mar - foi a primeira vez que vi esta, que eu considero a mais bela dentre as parentes da gaivota, fora de uma gravura de livro ou de um documentário cinematográfico - faziam loopings espetaculares para mergulharem atrás do peixe.
Fomos informados de que nela fora feito o filme em que Gérard Depardieu interpretara Cristóvão Colombo - 1492, de Ridley Scott -.
O caminho entre Sámara e Carrillo lembrava um poema de Baudelaire: um céu azul, sem nuvens, um verde vivo das folhagens, alguns sítios e uma grande concentração de urubus sobre a carniça de um burro.
Na praia de Sámara havia hotéis que ofereciam uma grande variedade de esportes aquáticos e aluguel de cavalos.
Restaurantes e campings também não faltavam.
Quase todos pertenciam a europeus - franceses, italianos, espanhóis, alemães -, que, em não pequeno número, julgavam estar fazendo um grande favor à população local por levarem a sua condição de seres superiores para iluminarem o país.
Os costarricenses, de um modo geral, eram mais cordatos, mais simpáticos.
Lembro que em uma lancheria onde pretendíamos almoçar pedimos uma água de côco.
Embora ali não houvesse, imediatamente saíram e compraram dois côcos verdes para os turistas brasileiros que ali iam almoçar.
Tomamos ao cabo de alguns dias o ônibus para San José e, de lá, fomos ao Aeroporto para pegarmos o vôo para Caracas.
A atendente estudava português e, ao ver que éramos brasileiros, teve a oportunidade de testar seus conhecimentos.
Tínhamos sido amplamente prevenidos em relação a Caracas, quanto a ser uma cidade extremamente perigosa, onde havia muitos assaltos.
Nossa primeira experiência com os venezuelanos fora por ocasião de nossa lua-de-mel na Isla Margarita, em 1995, o ponto mais meridional a que Cristóvão Colombo chegara, onde a Espanha mantivera fortes contra os piratas e corsários do Caribe e, até hoje, grande exportadora de pérolas.
A impressão que tivéramos era de um povo alegre, trabalhador e que gostava dos brasileiros, dada a festa que faziam cada vez que se revelava a nossa nacionalidade, festa que não faziam nem para os americanos, nem para os alemães, nem para os franceses.
Ao chegarmos, trocamos nossos traveller's checks e nos dirigimos ao posto de turismo oficial, no Aeroporto.
Conseguimos hospedagem em hotel no centro de Caracas, com habitação ampla, banho privado, água quente.
No dia seguinte, fomos conhecer a cidade, em busca de lugares que, efetivamente, lembrassem Simón Bolívar.
Scheila fotografou-me ao pé de uma sua estátua eqüestre e, depois, fomos à casa onde nasceu, transformada em museu onde as fotos somente eram permitidas sem flash.
Mais que um herói nacional que tentara concretizar os ideais do iluminismo, mais que um personagem histórico, Bolívar era, tal como Sepé Tiaraju, como Tiradentes, como Zumbi dos Palmares, como Bento Gonçalves, um herói mítico.
Sua biografia romanesca, plena de lances épicos, frases históricas, casos de amor extraconjugais, gestos de extrema generosidade, fez do Libertador uma presença marcante mesmo no final do século XX, pois o seu sonho foi a integração da América Latina.
No imaginário popular, Bolivar ultrapassou os limites da condição humana, para alcançar o objetivo de terminar o martírio imposto pelos espanhóis aos latino-americanos. Note-se que, nesta época, sequer havia ainda a utilização do adjetivo "bolivariano" para designar a República da Venezuela.
Estivemos ainda na Corte Superior de Justiça e na Igreja de São Francisco de Assis.
Notamos que a cidade estava bem servida, tal como a Cidade do México, de linhas de metrô.
Este, ali, não era concebido como uma espécie de trem de subúrbio, ao contrário do que ocorria em Belo Horizonte.
Ao contrário, verificava-se que os seus usuários deviam pertencer, de um modo geral, à classe média alta.
Sem quaisquer incidentes de maior relevância, retornamos ao Brasil, entrando nas nossas cogitações os sítios arqueológicos no nosso país.
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