Um advogado de Estado, doutorando em Direito Econômico, e uma bibliotecária de Tribunal Superior.
Pode-se imaginar que tipo de viagem faria um casal aparentemente tão prosaico?
Nada de ilusões.
Todos dois são alucinados por História, e cada qual já tinha, antes de conhecer ao outro, uma bagagem de viagens malucas na respectiva biografia.
Com isto, não fica difícil entender como fomos, minha mulher, Scheila, e eu, empreender uma viagem, como mochileiros, através dos domínios do Filho do Sol, pela Bolívia e pelo Peru.[a1]
A aventura começa às vinte e duas horas do dia 5 de janeiro de 1995 - horário de verão em Brasília -.
Tomaríamos o avião do Lloyd Aéreo Boliviano para Cochabamba, na Bolívia, às vinte e três e quarenta.
Contudo, soubemos no check in, ao despacharmos as mochilas, que o avião sofreria um atraso de uma hora, devido à inspeção da Polícia Federal.
Afinal, uma das poucas informações que se tem no Brasil a respeito de seu vizinho andino é a de que lá é comum o consumo da coca, com o que há um temor com relação ao tráfico internacional de entorpecentes.
Pousado o avião às onze e meia da noite no Aeroporto de Brasília, somente foi liberado à zero hora e quarenta minutos.
Não tenho aqui palavras para reproduzir aqui a tensão, a impaciência provocadas pela demora, pela minuciosa e necessária revista que se fazia na aeronave, o sono que, de vez em quando, nos atacava.
Nem quero.
Uma vez entrados na aeronave, o meu proverbial sono fez-me um ataque bem-sucedido.
Raramente tenho problemas de insônia.
Quando acordei, já estávamos em Cochabamba.
Eram quatro horas da manhã, pela hora de Brasília e duas pela hora local.
O aeroporto era algo notável.
A entrega de bagagens era manual, permitida, inclusive, a entrada de cachorros.
Preenchidos os dados para o controle de imigração - que não tinha nenhum agente presente a quem pudéssemos mostrar os passaportes -, pegamos as mochilas e fomos abordados por um carregador, cujo serviço dispensamos, e uma horda de taxistas, da qual escolhemos um.
O motorista que escolhemos, muito falante, de pronto queria deixar-nos em um hotel 4 estrelas.
Entretanto, conseguíramos na representação do Lloyd Aéreo Boliviano em Brasília confeccionar um guia impresso, composto de fotocópias de vários folhetos, e ainda tínhamos adquirido o Frommer's Guide to South America, com o que havia a referência a vários 3 estrelas.
Primeiro, ele nos conduziu ao Hotel Regina, que estava lotado, e depois ao Americana Hotel, onde pousamos.
A corrida custou-nos dez dólares (mais tarde soubemos que, como em regra o táxi é muito mais barato na Bolívia, o motorista deve ter dormido no auge da felicidade).
A Scheila, outrossim, chamou-me a atenção para uma atitude mui comum naquelas paragens onde floresceram tantas civilizações malgrado a arrogância européia com a qual teríamos de nos acautelar: o hábito de tomar o passaporte do viajante para anotar-lhe os dados e devolvê-lo mais tarde.
Ao contrário, ficávamos ali a observar o clerk a passar os dados constantes do passaporte para a respectiva ficha e só quando ele terminava e no-lo entregava é que nos dirigíamos para o quarto que nos fora destinado.
Assim foi o nosso primeiro dia nos domínios do Filho do Sol, mais precisamente no país em que Ernesto “Che” Guevara terminara os seus dias e que merecera uma especial menção em versos do poeta aiuruocano Dantas Mota, contidos no livro Elegias do país das Gerais.
domingo, 22 de março de 2009
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