domingo, 22 de março de 2009

Nos domínios do Filho do Sol - Capítulo 6

Ao tentarmos sair do nosso quarto, por alguma estranha razão a chave não rodava na fechadura.

Tivemos de pular a janela e reportar o fato à recepção do Hotel, onde deixamos a roupa para lavar.

Fomos tomar o café da manhã no 6 de Agosto, após o que embarcamos na lancha Dínamo VI, pilotada por um valente aymará chamado Bernardo.

O barco seguia em meio a ondas, chuvas e ventos fortes. Bernardo contava-nos fatos que nos esclareciam um pouco mais a respeito da vida na Bolívia.

Aprendemos que os indígenas eram obrigados a participar de todos os festejos da Igreja, pena de não terem seus casamentos reconhecidos, seus filhos batizados e não arranjarem trabalho.

Este é obrigatório para os índios, pois a finalidade dos seus ganhos é o pagamento de um imposto que é descendente direto da encomienda.

Chegamos primeiro na Ilha da Lua, que subimos até o topo, tendo em vista que o Templo onde se realizavam as cerimônias de que participavam Manco Capac, Mama Oclo (pronuncia-se Oh'lo) e as 25 virgens denominadas yustas ficava do lado oposto ao do atracadouro.

Para ali ingressarmos, tivemos de desembolsar 5 "bolivianos" cada um.

Deste Templo restaram apenas três paredes.

Um espaço imenso onde deveria ser um santuário estava sendo freqüentado pelas ovelhas.

Havia, ainda, uma passagem subterrânea, cuja entrada agora estava obstruída por pedras, ligando a Ilha em que estávamos à Ilha do Sol, em cuja parte norte se localizava a residência de verão do Inca e em cuja parte sul se localizavam a fonte sagrada da Eterna Juventude e o Templo do Sol.

Na parte norte da Ilha do Sol, de logo, extraíram-nos cinco "bolivianos" para entrarmos no Museu e seguirmos em direção à residência de verão do Inca.

Ainda foi-nos fornecido um guia que não deveria ter mais de onze anos de idade, que extraiu de cada um de nós 50 centavos.

A trilha seguida mostrava-se mais fácil de palmilhar do que a da Ilha da Lua.

Entretanto, o ar rarefeito provocava um cansaço extraordinário.

Cruzávamos uma praia e depois subíamos uma trilha em que a presença de degraus facilitava extraordinariamente o trânsito.

Agora, brilhava forte o sol.

Burricos, carneiros e aves aquáticas compunham a fauna.

A primeira construção com que nos deparamos era uma escola bem moderna, cujo portal, contudo, indubitavelmente, era pré-colombiano.

A trilha, com seus aclives e declives, seus sulcos cavados pela chuva e pelo vento, seus degraus cavados pelo homem finalmente foi desembocar na residência de verão do Inca.

Scheila observou que seria mais provável tratar-se de uma reconstituição do que de ruínas autênticas, pois havia pedras soltas que não resistiriam às tormentas que se desencadeavam ao final da tarde.

Encontramos nas ruínas um casal de gaúchos que se dirigiu ao nosso barco, para voltar a Copacabana.

Atracada a lancha no lado sul, saltamos incontinenti, os cinco argentinos e quatro brasileiros, deixando os gaúchos e o bom Bernardo no barco, sem que ele nos pudesse avisar de que a importância daquela imponente escadaria residia apenas em ser a via de acesso à fonte sagrada.

Ultrapassada esta, prosseguimos, os quatro brasileiros à frente, os cinco argentinos atrás, em direção ao topo, crentes de que lá estaria o Templo do Sol.

Uma hora de frustrante caminhada até o topo da ilha e nada do tal Templo!

A edificação com que deparamos ali abrigava o Museu Bio-Ecológico do Lago Titicaca.

Ao regressarmos, despedimo-nos de três dos argentinos, que acamparam na Ilha.

Éramos agora na lancha oito passageiros: seis brasileiros e duas argentinas.

Bernardo ainda costeou a Ilha para que pudéssemos fotografar o Templo do Sol.

Começava a fechar-se o tempo.

Atracamos em uma enseada.

Alguns de nós não viam problema em passarmos a noite ali, mas havia outros, intranqüilos, que ansiavam por chegar a Copacabana.

Desafiando a fúria do deus do Lago, que enviava açoites de chuva e vento àquela casca de noz que singrava aquelas águas geladas, nosso valente piloto prosseguia em direção à cidade.

Cada passageiro rezava a seu modo, procurava tranqüilizar os mais apavorados, lutava contra o mareio.

Apesar da tempestade, não houve black out, o que permitia visualizar pela proa as luzes da cidade e, pois, mantinha um ponto de referência para o nosso piloto.

O bravo Bernardo conseguiu localizar a cidade, atracar e voltar para os seus.

Retornando ao nosso Hotel, conseguimos tomar um banho quente e pegamos a roupa lavada, paga à parte.

Reservamos, ainda, passagens para Puno, no Peru, à uma e meia da tarde do dia seguinte.

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