As férias de dezembro 1996-janeiro 1997 prometiam ser bem movimentadas.
Seguiríamos de Brasília para São Paulo e, de lá, iríamos para Lima, reiniciando a nossa peregrinação pelos domínios do Filho do Sol, passando pelas civilizações pré-incaicas, amazônicas e centro-americanas, em direção à parte do império maia exterior ao México.
Em São Paulo, adquirimos o Footprint South American Handbook, mais rico em informações do que o Frommer's, sobretudo a respeito da área que visitaríamos: os impérios pré-incaicos.
O vôo para Lima partiria às 23 h 10.
Chegamos à 1h do dia 24 de dezembro.
Ao sairmos, fomos abordados por um chofer de táxi.
Trocamos traveller's checks em uma casa de câmbio dentro do próprio aeroporto.
Liguei para o Hostal Mont Blanc, onde ficáramos da outra vez em que visitamos Lima (janeiro de 1995) e para lá nos dirigimos de táxi.
Apesar da existência de vaga para casal, recusaram-se a atender-nos, por ser madrugada, dada a extraordinária insegurança que marca a capital peruana.
O táxi, então, conduziu-nos ao Hostal Armendáriz, em Miraflores, onde tomamos um banho e dormimos.
Como Lima seria apenas o início da viagem, já que pretendíamos conhecer Chavin, teríamos de tomar o ônibus para Huaraz.
O chofer informou-nos da existência de um terminal rodoviário mais seguro do que o do centro, situado no elegante bairro San Isidro.
Mal sabíamos que era o mesmo bairro em que se situava a Embaixada do Japão, então ocupando os jornais do mundo inteiro por estar nas mãos dos integrantes do Movimiento Revolucionário Tupac-Amaru.
Ao acordarmos, esperamos longamente o café da manhã.
Verificamos que o hostal, além de um grande aquário de água salgada no refeitório, tinha uma grande quantidade de relíquias das eras incaica, mochica, Paracas e Nazca.
Tomamos um táxi algo careiro para o terminal da empresa Ormeño, em San Isidro, para sermos informados de que os ônibus da empresa somente circulavam pela Panamerican Highway, o que não era exatamente o caso de Huaraz.
Pegamos então um táxi que nos levou ao terminal de autobuses do centro de Lima, próximo ao Palacio de Justicia - o Forum.
O chofer permaneceu aguardando-nos, já que o local era perigoso demais para que demorássemos o tempo de pegar outro táxi.
Tantos batedores de carteira havia ali, que nem me preocupei em corrigir o erro que o balconista cometera ao consignar os nomes nas passagens - puseram os nomes do pai da Scheila e do meu, e nos atribuíram nacionalidade italiana -, para não os alertar da presença de um estrangeiro.
O táxi conduziu-nos então ao Museu Nacional de Arqueologia em Pueblo Libre, que estava fechado, e, dali, ao Museu Rafael Larco Herrera, onde se vêem peças da Era Mochica, do Povo Chimu, da Cultura Cupisnique - que, já no século I a. C., conhecia a flauta que na Antiguidade clássica se chamava siringe e no Brasil é denominada flauta de Pã -, da Cultura Nazca - cuja preocupação arte pela arte é mais evidente, ao contrário da arte predominantemente utilitária dos Mochicas e Cupisniques -.
A riqueza dos motivos que representavam o dia-a-dia dos Mochicas nos trabalhos em cerâmica, metal, pedra e madeira era enorme.
Mesmo estilisticamente, não deixavam de lembrar tanto os gregos - a denominada faixa grega aparece a ornar o saiote de um guerreiro num vaso mochica - como os egípcios - em outro vaso, há um deus-condor muito parecido com as representações de Horus -.
Do Museu Rafael Larco Herrera, voltamos para Miraflores pela beira-mar.
Comemos em uma pizzaria e passeamos em busca de livrarias e shoppings, olhando várias vitrinas.
Seguimos para o Museu do Ouro situado no subsolo da mesma edificação que abriga o Museu de Armas, no térreo, e o Museu de Vestimentas Pré-Colombianas, no andar superior.
Ali, eram proibidas as fotos.
Viam-se peças de todos os povos que habitaram o Peru, desde Chavin até a civilização incaica.
As cenas do cotidiano que mais se representavam eram as de batalha, cura e sexo - nestas últimas o erotismo chega ao ponto do pornográfico, reproduzindo-se inclusive zoofilia -.
Dentre os instrumentos rituais, sobressaía o Tumi, um cutelo de duas lâminas em forma de meia-lua, com a empunhadura representando a face de um guerreiro cujo chapéu seria uma das lâminas.
Havia representações de jaguares antropomorfizados.
Instrumentos musicais de madeira, cerâmica, metal e osso.
Representações de suplícios terríveis a que se submetiam os delinqüentes, evocando, inclusive, a sensação experimentada por Marlowe ao se deparar com a entrada da cidadela de Kurtz n' O coração das trevas, de Joseph Conrad, que leríamos dez anos depois.
Seguiríamos de Brasília para São Paulo e, de lá, iríamos para Lima, reiniciando a nossa peregrinação pelos domínios do Filho do Sol, passando pelas civilizações pré-incaicas, amazônicas e centro-americanas, em direção à parte do império maia exterior ao México.
Em São Paulo, adquirimos o Footprint South American Handbook, mais rico em informações do que o Frommer's, sobretudo a respeito da área que visitaríamos: os impérios pré-incaicos.
O vôo para Lima partiria às 23 h 10.
Chegamos à 1h do dia 24 de dezembro.
Ao sairmos, fomos abordados por um chofer de táxi.
Trocamos traveller's checks em uma casa de câmbio dentro do próprio aeroporto.
Liguei para o Hostal Mont Blanc, onde ficáramos da outra vez em que visitamos Lima (janeiro de 1995) e para lá nos dirigimos de táxi.
Apesar da existência de vaga para casal, recusaram-se a atender-nos, por ser madrugada, dada a extraordinária insegurança que marca a capital peruana.
O táxi, então, conduziu-nos ao Hostal Armendáriz, em Miraflores, onde tomamos um banho e dormimos.
Como Lima seria apenas o início da viagem, já que pretendíamos conhecer Chavin, teríamos de tomar o ônibus para Huaraz.
O chofer informou-nos da existência de um terminal rodoviário mais seguro do que o do centro, situado no elegante bairro San Isidro.
Mal sabíamos que era o mesmo bairro em que se situava a Embaixada do Japão, então ocupando os jornais do mundo inteiro por estar nas mãos dos integrantes do Movimiento Revolucionário Tupac-Amaru.
Ao acordarmos, esperamos longamente o café da manhã.
Verificamos que o hostal, além de um grande aquário de água salgada no refeitório, tinha uma grande quantidade de relíquias das eras incaica, mochica, Paracas e Nazca.
Tomamos um táxi algo careiro para o terminal da empresa Ormeño, em San Isidro, para sermos informados de que os ônibus da empresa somente circulavam pela Panamerican Highway, o que não era exatamente o caso de Huaraz.
Pegamos então um táxi que nos levou ao terminal de autobuses do centro de Lima, próximo ao Palacio de Justicia - o Forum.
O chofer permaneceu aguardando-nos, já que o local era perigoso demais para que demorássemos o tempo de pegar outro táxi.
Tantos batedores de carteira havia ali, que nem me preocupei em corrigir o erro que o balconista cometera ao consignar os nomes nas passagens - puseram os nomes do pai da Scheila e do meu, e nos atribuíram nacionalidade italiana -, para não os alertar da presença de um estrangeiro.
O táxi conduziu-nos então ao Museu Nacional de Arqueologia em Pueblo Libre, que estava fechado, e, dali, ao Museu Rafael Larco Herrera, onde se vêem peças da Era Mochica, do Povo Chimu, da Cultura Cupisnique - que, já no século I a. C., conhecia a flauta que na Antiguidade clássica se chamava siringe e no Brasil é denominada flauta de Pã -, da Cultura Nazca - cuja preocupação arte pela arte é mais evidente, ao contrário da arte predominantemente utilitária dos Mochicas e Cupisniques -.
A riqueza dos motivos que representavam o dia-a-dia dos Mochicas nos trabalhos em cerâmica, metal, pedra e madeira era enorme.
Mesmo estilisticamente, não deixavam de lembrar tanto os gregos - a denominada faixa grega aparece a ornar o saiote de um guerreiro num vaso mochica - como os egípcios - em outro vaso, há um deus-condor muito parecido com as representações de Horus -.
Do Museu Rafael Larco Herrera, voltamos para Miraflores pela beira-mar.
Comemos em uma pizzaria e passeamos em busca de livrarias e shoppings, olhando várias vitrinas.
Seguimos para o Museu do Ouro situado no subsolo da mesma edificação que abriga o Museu de Armas, no térreo, e o Museu de Vestimentas Pré-Colombianas, no andar superior.
Ali, eram proibidas as fotos.
Viam-se peças de todos os povos que habitaram o Peru, desde Chavin até a civilização incaica.
As cenas do cotidiano que mais se representavam eram as de batalha, cura e sexo - nestas últimas o erotismo chega ao ponto do pornográfico, reproduzindo-se inclusive zoofilia -.
Dentre os instrumentos rituais, sobressaía o Tumi, um cutelo de duas lâminas em forma de meia-lua, com a empunhadura representando a face de um guerreiro cujo chapéu seria uma das lâminas.
Havia representações de jaguares antropomorfizados.
Instrumentos musicais de madeira, cerâmica, metal e osso.
Representações de suplícios terríveis a que se submetiam os delinqüentes, evocando, inclusive, a sensação experimentada por Marlowe ao se deparar com a entrada da cidadela de Kurtz n' O coração das trevas, de Joseph Conrad, que leríamos dez anos depois.
Houve um especialmente que, pela proximidade ao exemplo de Prometeu e pelo horror singular, me chamou a atenção: o rosto do criminoso era esfolado e ele era amarrado a uma árvore ou pedra para ser comido vivo pelas aves de rapina.
Ao tomarmos um táxi do Museu do Ouro ao hostal, pedimos-lhe que ali nos fosse pegar para nos conduzir ao terminal do centro e nos acompanhar até o saguão.
Descobrimos que os preços em Lima eram mais altos do que esperávamos.
Scheila encontrou em uma livraria a Nueva crónica del buen gobierno, de Felipe Guaman Poma de Ayala, essencial ao trabalho de conclusão do curso de História na UnB que apresentara em julho de 1996.
Somando o preço do livro - três volumes - com a tarifa do correio, o numerário dispendido seria o mesmo se encomendado do Brasil.
Quando fomos embarcar, pretendíamos levar conosco a bagagem, mas fomos obrigados a despachá-las no bagageiro.
Como o ônibus era do tipo "pinga-pinga", acordávamos amiúde para verificarmos se não seriam pegas as nossas malas por engano.
Cabe lembrar que à saída de Lima havia um fortíssimo cheiro de indústria de enlatamento de pescados, mui semelhante ao de uma fábrica de celulose.
Scheila me disse que fôra o pior cheiro que já sentira, talvez, ao longo de toda a sua existência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este espaço é para a troca de idéias entre quantos tenham o interesse de o visitar. Contudo, para garantir a convivência harmônica entre os visitantes, pede-se que não se discutam temas de natureza político-partidária ou religiosa, nem se utilizem expressões não recomendáveis pelas normas vigentes de boa educação. É indispensável, para que possam ser publicados, a identificação do autor dos comentários.