segunda-feira, 23 de março de 2009

Uma aventura arqueológica pelo Nordeste e Norte do Brasil (texto de Scheila F. Versiani)

Parcelamos, Ricardo e eu, as nossas férias de 1998 e com a segunda parcela resolvemos fazer uma viagem para conhecermos a Pedra do Ingá, na Paraíba, as Sete Cidades no Piauí e duas localidades próximas a Santarém (PA): Alenquer, onde íamos conhecer a Cidade dos Deuses e Monte Alegre, onde há inscrições rupestres bastante interessantes.

Enquanto preparávamos nossa viagem, alguns amigos a acharam cansativa e sem atrativos e outros a consideraram muito interessante e lastimaram não estarem conosco fazendo o mesmo roteiro.

Além da aventura, pretendia coletar material para minhas pesquisas. Desejava fotografar e filmar as inscrições e as possíveis “ruínas”. Levávamos como roteiro de viagens, descontando várias “forçadas-de-barra”, para usar a expressão do Ricardo, o livro Mistérios do Brasil, do Pablo Villarrubia Mauso – que continha vários dados interessantes, entretanto – e, como de hábito, o Quatro rodas.
Foto: Furna do Índio - Sete Cidades-PI

Saímos de Porto Alegre no dia 11 de junho de 1998 às 6h45, no vôo 123 para São Paulo. Lá, fizemos conexão para Recife, onde chegamos às 12h30.

Após lancharmos no Bob’s, passeamos pelas lojinhas do segundo piso do aeroporto e guardamos uma mochila grande no porta-bagagem até domingo (dia 14), pois neste dia pegaríamos um vôo de Recife a Teresina. Ficamos então com uma mochila média e uma mochila pequena (uma mochilinha inka que sempre levo em nossas viagens, pois não ocupa muito espaço. Sempre que retorno a um mesmo lugar em dois ou três dias, deixo a mochila grande e levo a pequena, que é mais fácil de tranportar, pois posso sempre levá-la como bagagem de mão).

Este trecho da viagem nos custou mais 400 reais na passagem – cálculo posteriormente feito pela Varig, que nos veio cobrar –, sendo que, se tivéssemos alugado um carro do aeroporto de Recife, gastaríamos cerca de100 reais e nestas 4 horas teríamos ido e voltado de Ingá. Mas só chegamos a esta conclusão depois que estávamos esperando o próximo vôo de passagem na mão. Não sabíamos que a conexão iria demorar 4 horas, pensávamos que era imediata.

O vôo para Campina Grande estava previsto para as 15h45, mas saiu em torno de 16h30. Às 17h chegamos ao aeroporto de Campina Grande, onde combinaríamos com um táxi para nos levar a Ingá. Quando fomos ao ponto, só havia um, cujo motorista estava conversando com um policial muito mal-encarado.

O motorista não era, mesmo, de confiança: muita “conversa-mole”, parou em uma “blitz” na estrada e disse que era para darmos dinheiro ao guarda. Mostramos apenas nossos documentos. O guarda ficou fazendo-nos perguntas, depois de ter mandado encostar o carro. Depois disto, dispensou-nos.

O táxi corria muito e derrapava nas curvas. Sofremos maus bocados em uma distância de apenas trinta e seis quilômetros. Chegando em Ingá, o táxi ainda nos cobrou acima do combinado. Ofereceu um serviço de menos, pois no acordo estava acertado levar-nos até a Pedra do Ingá, mas como já estava escurecendo e não queríamos ficar mais naquele táxi, pedimos que nos deixasse na única pousada que havia na cidade. O aspecto exterior é de uma casa com janelas de vidros quebrados. Mas a proprietária, D. Girlene, é uma senhora muito simpática, o quarto que nos mostrou estava limpo, quando perguntei se poderia trocar a roupa de cama, ela disse que sim. Então resolvemos ficar, melhor do que voltar para Campina Grande naquele táxi. Mais uma vez, lamentei aquela conexão: se tivéssemos alugado um carro, àquela hora possivelmente já teríamos visto a Pedra e estaríamos longe.

Assim que deixamos a bagagem, saímos para caminhar na cidade. As pessoas todas simpáticas, muitas estavam sentadas conversando em suas cadeiras nas calçadas. Fomos até a pracinha da Igreja, lá tinha diversos barezinhos, informamo-nos sobre os horários de ônibus para Campina Grande, João Pessoa e Recife. Os horários não eram muito convidativos. Disseram-nos que se fôssemos para Riachão (uma cidade a 6 km, que fica entre João Pessoa e Campina Grande), teríamos ônibus de hora em hora para João Pessoa.

Havia um trailer na praça que fazia uns sanduíches e tinha um aspecto limpo. Lá comemos sanduíches com sucos, conversamos com o dono e uma moça que nos informou que o museu da Pedra estava fechado para reforma, mas que o acervo estava disponível na biblioteca da cidade, que também ficava em frente a esta praça, onde as crianças brincavam à noite e as pessoas da cidade passeavam despreocupadas.

Quando atravessávamos a praça, um taxista perguntou se queríamos um táxi e dissemos que no outro dia de manhã precisaríamos para ir à Pedra.




Voltamos à pousada e fizemos uma higiene que não chegou a ser um banho, pois o banheiro era coletivo e não estava em boas condições. Ele correspondia ao aspecto externo da pousada.

No dia seguinte, após o café e a arrumação das bagagens, o táxi nos pegou, transportando-nos à Pedra do Ingá, conhecida também como Itacoatiara.

Trata-se de um monólito gigante, todo perfurado, com círculos grandes, médios e pequenos e inscrições espalhadas pelos lados e por cima. No lado que avistamos logo que chegamos é que tem as inscrições mais intrigantes, pela profundidade dos baixos-relevos e pelas “letras” ou inscrições juntas. No meio passa o Rio Ingá, que deve seu nome a uma árvore nativa. Dali, fomos à biblioteca da cidade, onde vimos os fósseis que ali foram encontrados e ouvimos as referências ao trabalho da arqueóloga que pesquisava a Pedra e ao cidadão que evitara que o monólito se perdesse, já que havia o projeto, antes de seu tombamento, de se o utilizar para fornecer material para fazer calçamento de ruas. A Pedra era tão dura que, ao choque de outra pedra, tinia igual a um sino.











Fomos com o mesmo táxi para João Pessoa, onde o motorista nos levou até o Farol do Cabo Branco, à Praça João Pessoa, à Assembléia, ao Forum, ao Palácio do Governo e à antiga Faculdade de Direito, que funcionou no mesmo prédio que abrigou o seminário fundado em 1745 pelo jesuíta e alquimista Gabriel Malagrida. Levou-nos também à Praça da Igreja de São Francisco, datada de 1589, na vizinhança de outras casas muito antigas. As laterais que levam até a Igreja têm decorações em ladrilhos, representando a Paixão de Cristo. Fomos ainda à Catedral e, depois, descemos na Rodoviária, onde pegamos o ônibus para Recife.

Ali, pegamos o metrô para descermos na Estação Afogados, de onde tomamos o táxi para a Pousada Rosa e Silva. Quatro horas depois, Bruno e Consuelo buscam-nos para jantar e levam-nos à parte antiga da zona portuária, que foi restaurada e é agora o point da cidade. Depois, fomos a uma sorveteria e rumamos para o hotel. Bruno e Consuelo combinaram buscar-nos no outro dia, em torno das sete horas, para irmos à praia.

Às sete e dez do dia seguinte, Consuelo e Bruno passam para nos buscar e vamos com eles até a casa do irmão do Bruno, Rafael, que se juntou ao nosso grupo. Passamos para o carro dele, que já está preparado para o nosso passeio. Também foi conosco o Luck – um cão labrador que é companheiro de aventuras do Rafael e estava em uma parte fechada na parte traseira da perua –.

Rafael nos levava para Sirinhaém, antiga Serinheim, fundada pelos holandeses no período da invasão. Como o tempo estava fechado, inclusive chovendo um pouco, mostrou-nos como funcionava a usina de açúcar da família de sua esposa, que ficava poucos quilômetros antes da entrada da cidadezinha. O Engenho Novo é cercado pelas casas, pela escola e clube dos trabalhadores. Fomos à casa senhorial do Engenho, uma autêntica relíquia histórica: tem cem anos. Várias peças da casa estão mobiliadas com móveis antigos.

Depois, fomos até a abadia dos monges franciscanos – século XVII – e passamos pela frente do Engenho Velho. Fomos então até o cais para pegar a lancha que nos deixaria no outro lado, na casa, em Toquinho, cujo acesso na época das chuvas se torna difícil por terra, devido ao estado da estrada. Ficamos um pouco na casa e depois fomos à ilha. Caminhamos por volta de toda ela. Em uma de suas praias, a enseada tem a forma de uma cratera vulcânica perfeita. Enquanto caminhávamos pela volta da ilha, procurávamos as ruínas da muralha de um velho forte holandês que ali existira.

Depois de passearmos pela ilha, voltamos para a casa em que estávamos em Toquinho para podermos almoçar. Mas, antes de atracarmos, Rafael levou o Ricardo lá para o mangue em frente à casa enquanto a maré ainda estava baixa, onde eles caminharam com o Luck e ficaram com lama até os joelhos. Tirei então uma foto deles. Voltamos a casa para almoçar e descansamos um pouco na rede. À tardezinha, Rafael nos chamou para passearmos pelo mangue com a maré alta. A paisagem era belíssima, em uma das curvas que fez entrou no momento em que o sol se punha. Ainda passeamos um pouco pelo crepúsculo, a sensação era muito boa. Nesse meio tempo, Luck ficava de lá para cá, entre o meu colo e o do Ricardo, estava superdengoso.

Passamos por uma parte do mangue que estava sendo desmatada por uns posseiros que estavam, com isso, depredando o ecossistema. Rafael nos contou que no mangue havia exemplares de jacarés e guaxinins e que a usina, encarregada de proteger aquela área, já que é foreira da União, ofereceu aos posseiros terreno escriturado para saírem dali e fixarem moradia em local um pouco mais afastado do mangue, podendo eles continuar a caçar caranguejos, mas eles não aceitaram.

Voltamos para a casa para pegarmos Consuelo e Bruno e nossa bagagem para voltarmos para Recife. Quando chegamos a casa do Rafael já era noite fechada. Antes de passarmos para o carro do Bruno, Rafael nos levou à casa em frente, onde morava seu sogro, no mesmo condomínio, para conhecermos o irmão de Luck, Ollie, mais caramelado e cachorro-propaganda. Conhecemos também o sogro e o cunhado de Rafael.

Voltamos a nossa pousada, onde mais tarde Consuelo e Bruno nos pegaram para jantarmos.

Assim que nos deixaram no hotel, disseram que passariam para nos pegar no dia seguinte, às dez horas da manhã. Já levaríamos nossa bagagem, pois às três da tarde teríamos que estar no aeroporto onde embarcaríamos para Teresina.

No dia seguinte, pagas as contas no Hotel, Bruno levou-nos à casa de sua mãe, onde vimos a fita em que Bruno registrou a viagem de navio, inclusive a cena em que Ricardo aparece dançando com a bailarina russa. Mostramos a filmagem que fizemos da Pedra do Ingá. Conhecemos também a mãe do Bruno, uma senhora bastante simpática.

Depois fomos ao Shopping Recife. Compramos nossos chapéus de pano, almoçamos, compramos filme e vimos, ao sairmos, uma apresentação de festival de dança junina. Belíssimo!

Fomos ao aeroporto pegamos nossa mochila grande que ficou lá, redistribuímos a bagagem e partimos para Teresina. Achávamos que o vôo era direto, mas tinha escala em Fortaleza. Ao invés de chegarmos às 17h, chegamos às 18h30 e já eram quase 19h quando pegamos o táxi. Iríamos para a rodoviária para pegar um ônibus para Piripiri. Resolvemos prosseguir no táxi, ou chegaríamos depois da meia-noite, e teríamos de levantar às 6h do dia seguinte. O táxi levou-nos primeiramente à cidade, mas o único hotel de que tínhamos referência no centro tinha um aspecto horroroso. Ficamos sabendo depois que havia um melhorzinho, mas como tínhamos reserva para o dia seguinte no hotel fazenda, resolvemos antecipar a nossa chegada lá. Chegamos no hotel por volta das 22h15.

No dia seguinte, acordamos às 6h, tomamos café no Hotel Fazenda Sete Cidades. Os passarinhos –cardeais e asas-brancas, sobretudo – vinham às mesas para catarem as migalhas de pão que os hóspedes deixavam e, não raro, pousavam na cabeça ou no dedo do pessoal do Hotel. Travamos conhecimento com um casal de paulistanos que nos ofereceu carona no micro-ônibus que haviam fretado. Nós ficamos em dúvida, porque eles não ficariam à vontade. Então, resolvemos ir no ônibus do IBAMA, que passava na porta do hotel. Mas, chegando lá, só havia dois guias: uma que já estava acertada com este casal mais idoso e outro que estava com outro casal mais jovem, também de paulistanos. Resolvemos, então, aceitar a carona, mas nos arrependemos por termos impossibilitado a condução da excursão do nosso gosto e não ficamos à vontade, pois só poderíamos arriscar qualquer conclusão ou hipótese que tivesse o selo do academicamente aprovado.

O senhor, que tinha uma extraordinária capacidade para reproduzir, com rapidez, no papel os desenhos nas rochas e as próprias formações e nos indicou o livro Pré-história do Nordeste, disse que o trabalho do geólogo Reinaldo Coutinho, que ali fazia as escavações no Parque, esposava a teoria dos OVNIs de von Däniken. Ao lermos o texto em questão – O enigma de Sete Cidades – vimos que fizera apenas um levantamento do que haviam escrito sobre o local e, com espírito científico, mencionara também a tese dos OVNIs, sem, no entanto, se verificar uma única linha que conduzisse à conclusão de que concordava com o "ufólogo" suíço, adotando, antes, uma postura que jamais poderia ser considerada uma heresia acadêmica.








A visita começou pela 6ª Cidade, onde se destaca a Pedra que, de um lado, semelha a uma tartaruga, com um “casco” composto por vários hexágonos, e de outro, lembra um elefante, com tromba e presas.




Dali, fomos à 2ª Cidade, onde passamos sob o “Arco do Triunfo”, seguimos uma trilha até a Pedra da Biblioteca, na qual existe uma marquise e que se acha próxima a um mirante de onde se podem ver todas as Cidades componentes do Parque. Havia, ali, pinturas rupestres, onde foram identificadas, dentre outros símbolos, a espiral e a cruz suástica. O piso se mostrava muito interessante, parecendo que fora assentado pelo homem.


Na 5ª Cidade, vimos na Furna do Índio inscrições rupestres e uma caixa de marimbondos que desencorajava a aproximação. No interior da furna, havia uma entrada quadrangular. A parte superior da rocha que lembrava o telhado de uma casa celta.


Na 4ª Cidade, visitamos a Gruta do Catirina, com sua entrada quadrangular, que abrigou um curandeiro que fazia curas com ervas e ali vivia como eremita. O agrupamento de formações rochosas que lembravam grandes edifícios estavam cercados por muralhas de pedra com aberturas que semelhavam muito a um portal. Na mesma 4ª Cidade visitamos a formação conhecida como Mapa do Brasil.


Na 3ª Cidade, destaca-se a Pedra Cara do Diabo, onde bate o sol nascente no solstício de inverno, passando os raios por um pequeno furo feito na rocha, descoberto por Reinaldo Coutinho. Visualizei outro buraco que poderia corresponder a outra marcação de tempo. Havia, ao lado do primeiro furo, vários riscos que corresponderiam, talvez, a um calendário.


Na 1ª Cidade, destacavam-se os “canhões”, cilindros que se postavam sobre as formações. Dentre os animais, vimos na 1ª Cidade um mocó – um roedor – e, nas proximidades da represa existente perto do hotel do IBAMA, iguanas.

Descemos na entrada do Parque para comprarmos o livro do Reinaldo, mas esqueci a mochila no carro do casal de paulistanos, que arrancou logo que descemos, antes mesmo que pudéssemos dizer qualquer coisa. Só fui encontrá-la às 21h, depois de muita preocupação, pois estava com nossos documentos e com a máquina fotográfica. Almoçamos uma comida deliciosa e conversamos com o outro casal de São Paulo, Kátia e Paulo, que, por sinal, estava indo também para Parnaíba. Vimos, ainda, uma raposa lutando para defender o seu almoço contra ávidos urubus. Pegamos o ônibus do IBAMA que voltava às 17h e ficamos no Hotel, aguardando a chegada do casal com a mochila, já que eles tinham saído para jantar.

No dia seguinte, acordei cedo, aproveitei para colocar as anotações em dia e arrumei a bagagem para irmos a Parnaíba, pegando o ônibus das 8h40. Chegando em Piracuruca, Kátia e Paulo entraram no ônibus. Tinham perdido o horário e pegaram um táxi até a próxima cidade. Chegando em Parnaíba, ligamos para o Hotel Rio Poty, em Luís Correia, e combinamos um bom preço. Após instalados, fomos à praia almoçar, mas todas as barracas estavam fechadas, pois além de ser baixa temporada era dia de semana. Almoçamos na primeira que encontramos aberta depois de andarmos cerca de uns 600 metros. Depois, voltamos ao hotel, vimos o jogo do Brasil x Marrocos, com a vitória brasileira por 3 a 0. À noite, saímos para ir ao centro de Luís Correia, mas não havia muita coisa funcionando. Comemos um sanduíche em uma lanchonete e depois voltamos ao hotel.

No outro dia, fizemos o passeio de chalana pelo Delta do Parnaíba, um passeio belíssimo. Passamos por igarapés, aldeias de pescadores, mangues, lugares paradisíacos. Muitas vezes, passávamos por jacarés e por aves. A primeira parada era em uma ilha, na margem maranhense do rio, onde havia uma duna que atravessávamos cerca de 500 metros para chegarmos a uma praia de mar aberto, onde nos banhamos. Depois, voltamos e nadamos no rio, cuja água era salobra. Após o banho, almoçamos. A segunda parada era na Ilha Grande de Santa Isabel em uma pequena praia cuja água era totalmente doce, onde nos arrumaram uma mesa para que comêssemos caranguejos. Ricardo comia feliz da vida, e jogava o resto para os peixinhos. Depois, retornamos e pedimos que nos deixassem no centro, na praça da Igreja. Dali, fomos caminhando por um calçadão até o terminal, onde pegamos um ônibus até Luís Correia. Dentro do ônibus estavam a Kátia e o Paulo, que perguntaram se queríamos rachar com eles um aluguel de carro no dia seguinte. Depois que chegamos no hotel, ficamos conversando na piscina até anoitecer. Nesta noite, jantamos no próprio hotel.

Enquanto esperávamos pelo carro que alugamos, liguei para o meu pai pelo aniversário.

O primeiro passeio foi à Pedra do Sal. O caminho é belíssimo. Lá há um farol e à esquerda deste, uma enseada, à direita, mar aberto. Na enseada havia várias barraquinhas de praia, todas vazias, pois era dia de semana, mas ainda assim a praia estava cheia de detritos jogados pelos banhistas, como papéis, plásticos e cacos de vidro.

De lá, fomos ao restaurante do Zé Grosso, à margem do rio, onde comemos uma pescada frita, que estava deliciosa.

Depois rumamos para a última praia acessível por estrada asfaltada: Macapá, cerca de 40 km de Parnaíba, no sentido oposto ao que estávamos. A estrada asfaltada termina em um pequeno abismo para o mar, o local é lindíssimo. Explicaram-nos que o mar está subindo naquele local e tomando parte da ponta de terra. Fomos até o único hotel que existe nesta praia: muito gracioso, com um estilo rústico, construído em torno de um pátio interno, cuja frente está voltada para uma das ilhas, que forma um pequeno delta entre o rio e o mar. Do lado esquerdo, vê-se o mar aberto e, do lado direito, a saída do rio para o mar. Esta saída é feita por várias ilhas, mas de onde estávamos só se podia ver uma. Na frente do hotel há uma passarela suspensa que leva até o restaurante da praia e em frente há várias barraquinhas de palha. É o tipo do local para descansar alguns dias e fugir do stress da cidade grande. Entramos naquela água tranqüila e limpa onde o rio se mistura com o mar.

Depois de tomarmos um suco, fomos conhecer outra praia, a do Coqueiro, onde fomos comer no restaurante da D. Maria. Depois que fizemos o pedido (era em torno de quatro horas da tarde), dirigi-me à praia e entrei numa pequena e convidativa enseada formada por recifes. Fiquei na água sozinha por uns cinco minutos, quando apareceram a Kátia e o Paulo. Depois veio o Ricardo, que não resistiu àquela água deliciosa. Depois que saímos, tomamos uma ducha de água doce e fomos almoçar/jantar, pois quando terminamos já eram cerca de 5 h da tarde.

Antes de sairmos de Coqueiro, fomos conhecer um resort recém-inaugurado, para o qual Kátia e Paulo estavam pensando em passar no dia seguinte, pois apesar de o hotel em que estávamos ficar na praia de Atalaia, distava do mar cerca de uns 700 m. O resort era excelente, os quartos muito bons, a piscina um pouco pequena. A recepcionista era super-simpática e mostrou-nos todo o hotel. Os melhores quartos eram os da suíte, com vista para o mar e banheira de hidromassagem.

Depois de voltarmos ao nosso hotel, de noite fomos ao centro de Luís Correia tomar sorvete. Quando voltamos, arrumei as malas, pois no dia seguinte seguia viagem.

Sexta-feira. Levantamos cerca de 7h. Ricardo fez a barba, crescida desde domingo. Tomamos café bem tranqüilos. Depois, fiquei em uma mesinha do pátio do nosso quarto que dava direto para a piscina, de frente para ela, para colocar as anotações em dia. O jardineiro estava cuidando do jardim e há um outro funcionário arrumando as cadeiras, pois com certeza no dia seguinte – sábado – o Hotel estaria cheio.

Pegamos táxi para o aeroporto. No guichê da Aviação Nordeste reencontramos o motorista do casal que nos dera carona em Sete Cidades. Ele nos narrou a história da Guerra do Jenipapo, ocorrida na região quando Fidié defendeu a soberania portuguesa em território brasileiro até ser derrotado pelas tropas de D. Pedro I.

Tomamos o avião para São Luiz. Deixamos as mochilas no bagageiro, levando só a mochilinha inka e a filmadora. Pegamos alguns prospectos no aeroporto, contendo mapas da cidade e alguns escritos sobre cada um dos lugares de interesse para visitação. Por sinal, o atendimento a turistas é excelente, ganhamos até uma lembrança da cidade. Vimos o Palácio La Ravardière, dedicado ao colonizador francês Daniel de la Touche, que erigiu, em 1612, o forte que daria nome à cidade, o vizinho Palácio dos Leões, em processo de restauração, erigido onde se situava antes o forte francês. Visitamos a Fonte do Ribeirão, com grades através das quais se vêem os túneis subterrâneos que percorrem todo o sub-solo da cidade. No Centro Histórico, descemos as escadarias do Beco da Catarina Mina – dedicado a uma escrava liberta que conquistara grande fortuna – e vimos ali as ruas estreitas com calçamento que lembravam uma São Luiz de vinte anos atrás que eu conheci quando lá morei aos onze anos. O Ricardo fez questão de entrar no Museu de Artes Visuais, onde se viam, além do famoso quadro alegórico da morte de Gonçalves Dias, azulejos lusitanos que lembravam muito o padrão visto na Colônia do Sacramento, no Uruguai, e bicos de pena de Tarsila do Amaral que, de tão graciosos, nem de longe se diria serem da mesma autora do Abaporu. Visitamos, ainda, o Convento das Mercês e a Fonte das Pedras, situada no mesmo lugar em que acampara o caboclo Jerônimo de Albuquerque em 1615 na véspera do combate que suas tropas deram a La Ravardière. Antes de voltar para o aeroporto e embarcar para Belém, tirei uma foto em frente ao Colégio Dom Bosco, onde estudei.

Antes de voltarmos, e já no aeroporto, ligamos para um hotel em Belém, próximo ao Museu Emílio Goeldi.

Depois do café, dirigimo-nos ao museu. Já na chegada a cidade nos pareceu caríssima: o táxi comum até o aeroporto custava vinte reais, o do aeroporto era bem mais caro; o hotel, noventa reais, e não era lá essas coisas. Fomos caminhando até o museu, cerca de uns seis a sete quarteirões. Lá vimos alguns bichos do mini-zoo. O Ricardo se encantou com o filhotinho do peixe-boi, especialmente, e com as cotias que passavam livres pelo parque.

Vimos na exposição permanente as cerâmicas marajoara, tapajônica e amapaense, incrivelmente elaboradas e que se assemelhavam muito à cerâmica mochica e da Mesoamérica. Vimos que se repetia também a simbologia da espiral e da escada (ascenção espiritual) e ainda cruzes. A arte da Ilha de Marajó apresentava nas urnas desenhos com espiral em alto relevo e cruzes. Macacos e serpentes eram motivos freqüentes. Havia, ainda, urna para enterramento secundário com figuras em alto-relevo que pareciam caracteres que, talvez, estivessem contando a história do morto. Da Ilha de Marajó viam-se também urnas antropomorfas para enterramento secundário, com abundância de escadas e espirais e relembrando o estilo mesoamericano. Localizadas no Baixo Rio Urubu, perto do Lago de Silves (AM), urnas antropomorfas para enterramento secundário com figuras humanas em alto-relevo cuja estética lembrava também a Mesoamérica. Ao longo dos rios e igarapés do Amapá, foram encontrados vasos com altos-relevos que lembravam figuras humanas, em estilo próximo ao mesoamericano, vasos quadrangulares com alças semelhantes a felinos e duas extremidades que se assemelhavam a aves, com vários sinais laterais que poderiam ser, talvez, letras de algum alfabeto desconhecido hoje em dia, urnas antropomorfas com desenhos meio apagados, de estilo similar ao mochica, urnas zoomorfas que lembravam as culturas da América Central. Na Cultura Santarém, viam-se vasos altamente estilizados, lembrando candelabros, com desenhos e figuras zoomorfas em alto-relevo, parecendo uma mistura do estilo mochica com o centro-americano. Viam-se estátuas antropomorfas do sexo feminino, parecidas com as mochicas, excetuando-se o rosto, vasos zoomorfos, vasos antropomorfos com desenhos. Havia numa parede a foto de inscrições rupestres em baixo-relevo na Pedra do Pereira, no Estado de Roraima. Vários dentre os caracteres lembravam letras. Ao longo do rio Camutins, em Marajó, encontraram uma urna para enterramento enfeitada por escadas e cruzes vazadas, uma enorme urna redonda para enterramento, onde caberia uma múmia humana inteira, e cujas alças tinham formas humanas, um vaso com quatro pomos que formam um cruz redonda em alto-relevo. Os pomos têm em seu interior desenhos iguais. Nota-se entre eles escadas saídas do exterior de um círculo com espiral dentro. Mais dois vasos em que se notam escada e espiral.

Em torno das 14h fomos a um restaurante próximo ao hotel chamado Lá em casa, cuja comida regional (pirarucu ensopado no leite de coco) era deliciosa e cuja dona era simpaticíssima, mas os preços eram extremamente salgados.

Depois fomos ao Centro Histórico, passamos pelo Teatro da Paz, na Praça da República e no porto fluvial. Vimos (mas não entramos, pois nos disseram que era perigoso) o Mercado Ver-o-Peso. Era belíssimo por fora, mas nas proximidades sentimos um clima tenso e ameaça de perigo. Havia dezenas de homens mal-encarados, que olhavam para nós e cochichavam quando passávamos. Fomos então ao Forte do Castelo, que deu origem à cidade no ano de 1616, e dali pudemos filmar e fotografar o Mercado, pois ficava do lado oposto, com a diferença de ser mais seguro o ponto onde estávamos, devido à presença maciça de guardas. O Forte, ainda, dava para uma praça onde se situava a Catedral da Sé. Depois fomos ver os Palácios Lauro Sodré – onde havia uma exposição de Portinari – e Antônio Lemos. De lá fomos caminhando até o Shopping Iguatemi, onde lanchamos e compramos alguns remédios. De lá pegamos um táxi para o hotel, pois estávamos com os pés doendo de tanto andar. Eram cerca de cinco horas da tarde, e estávamos andando desde as 9 h da manhã. Não saímos mais, fomos dormir cedo, pois no dia seguinte teríamos de pegar um vôo que sairia às 8h para Santarém e arrumamos a bagagem.

Levantamos cedo, tomamos banho, acabamos de arrumar a bagagem. Tomamos rápido o café da manhã e fomos ao aeroporto. Antes de sairmos, assistimos a uma pequena discussão entre os taxistas sobre qual dos motoristas nos levaria. A única conclusão a que cheguei é que se eles cobrassem mais barato teriam com certeza mais fregueses. Embarcamos às 7h30, o vôo saía às 8h. Neste meio tempo, colocamos nossas anotações em dia.

Chegamos a Santarém às 9h (hora de Brasília), mas tivemos de atrasar o relógio em uma hora, por causa do fuso horário. Informaram-nos no aeroporto que havia uma lancha saindo às 9h para Alenquer. Deixamos uma das nossas mochilas no guarda-volumes do aeroporto e pegamos um táxi que nos cobrou vinte e cinco reais até o porto. Ao chegarmos lá, soubemos que, por ser domingo, a lancha somente sairia às 12h. Enquanto aguardávamos a lancha, fomos informados de que nas proximidades de Alenquer existe um quilombo denominado Pacoval, onde os negros mantêm muitas de suas características culturais originárias. Também nos informaram que outros quilombos existiam espalhados pelo Estado do Pará. Já tinha ouvido falar deles quando estudei História do Brasil na Universidade com o Professor Victor Leonardi.

Chegamos às 2h da tarde em Alenquer. Vimos dois hotéis, o Vitória Régia e o Pepita. Este último é o dobro do preço, mas os quartos são mais claros e arejados.

Antes de colocarmos nossas coisas na pousada, fomos à casa do Dr. Monteiro, para pedirmos permissão e informações para irmos à Cidade dos Deuses, situada em sua fazenda.



Uma garotinha apareceu e disse que ele estava descansando. Fomos então ao hotel, tomamos um banho, saímos para comer algo e depois voltamos novamente à casa dele. Ninguém atendeu à porta.

Fomos então saber notícias dos ônibus que vão a Monte Alegre. Disseram-nos que sempre saíam às onze da noite, mas na segunda e na terça só sairiam por volta das 9h30 da manhã. Chegamos então à conclusão de que, mesmo vendo a cidade no outro dia, teríamos de ficar mais uma noite, para sair na terça de manhã e chegar à tarde, em uma viagem de quatro a cinco horas de duração em um “pinga-pinga”. Disseram que talvez houvesse um ônibus que sairia às onze da noite, mas não era certeza, e que, se o tomássemos, chegaríamos entre 3h30 e 4h da manhã.


Voltamos à casa do Dr. Monteiro. Desta vez, uma moça na faixa etária dos vinte atendeu-nos e disse que o ingresso para a Cidade dos Deuses custava dois reais por pessoa.

Quando perguntamos como chegar, ela disse que todos os taxistas da cidade sabiam ir.


Combinamos com um taxista que nos pegasse no hotel, no dia seguinte, às 7h da manhã.

Informaram-nos na cidade que havia uma lancha que partiria para Santarém às 12h. Decidimos, caso chegássemos antes das 12h, tomá-la e depois, se chegássemos até as duas da tarde, poderíamos pegar a lancha para Monte Alegre no mesmo dia.


Voltamos ao hotel, descansamos, colocamos em dia as anotações. Jantamos, fomos dormir para acordar cedo no dia seguinte. A cidade estava em alvoroço com a festa que estava sendo feita pela vinda de novos geradores de energia – festa, esta, que se justificava em virtude de ser comum no interior paraense o racionamento de energia elétrica, embora muito se falasse no TRAMOESTE, programa destinado a fazer com que a energia de Tucuruí abrangesse outros municípios no meio da selva – .




Levantamos às dez para as seis, quando vimos uma caranguejeira em um dos cantos do quarto. Vestimo-nos rapidamente e abrimos a porta para facilitar a fuga, se necessário.


Acabamos de arrumar as coisas e fomos tomar café. Depois, ficamos esperando o taxista passar para nos pegar. Às 7h05, ele chegou. Fomos ainda abastecer o carro e depois pegamos a estrada.

No começo estava boa, mas os últimos 10 km e,
principalmente, os últimos 5km estavam
terríveis. Aquilo era estrada para cavalo ou bicicleta, mas o carro chegou.
Era uma família que, em meio a cães, galinhas e patos, sob um galpão, estava a descascar a mandioca. Uma moça pediu-nos a autorização e um garoto de seus onze anos nos acompanhou.

Quando entrei na “cidade”, tive uma sensação esquisita de que rituais de magia negra se faziam ali. Uma formação que lembrava um cálice, que filmei de uma pedra bem alta, ao ser dado o zoom, parecia ter em uma de suas faces uma cara monstruosa que mostrava maldade.

Inobstante, a “cidade” é realmente incrível e provoca, ao mesmo tempo, a imaginação e a especulação intelectual: os “muros” são da mesma altura e formam diversas “salas”, algumas grandes, mais centrais (5x10 m) e várias laterais (3x2 m), dispostas simetricamente, uma ao lado da outra. Nas extremidades da “sala” grande, este conjunto era cercado por uma murada maior. Havia quatro ou mais destes conjuntos, um do lado do outro. Havia, ainda, à frente das “salas”, pela altura do “salão” central, duas paredes de pedra semelhantes a um corredor que iam dar em uma abertura que parecia um portal arredondado.

Depois de andarmos por mais de uma hora pela “Cidade”, voltamos a Alenquer. Chegando lá às 11h30, conseguimos pegar a lancha para Santarém. Informaram-nos, no caminho, que sairia uma lancha para Monte Alegre às 2h30 da tarde. Quando chegamos a Santarém, contudo, soubemos que, por ser feriado municipal – Santarém fora fundada em 22 de junho de 1661 e, portanto, era aniversário da cidade –, a lancha para Monte Alegre saíra duas horas mais cedo.


Depois de muito perguntarmos, soubemos que havia um barco que ia para Macapá (AP), que passaria em Monte Alegre, só que sairia às seis horas da tarde, chegando por volta das onze da noite. O barco era uma gaiola e as pessoas já tinham pendurado suas redes. Mandamos nossas mochilas e depois passamos por uma fina tábua que ligava o barco ao cais. Ficamos lá algum tempo. Costurei a alça da minha mochilinha inka, que estava quase saindo. Comecei a colocar as anotações em dia quando o barco começou a balançar muito. Como estava começando a enjoar, saímos do barco e fomos para uma pracinha em frente (a praça da matriz). Quando saímos, a tabuinha já tinha sido colocada em uma posição melhor. Como o barco estava mais próximo do cais, pudemos descer apoiando-nos na própria embarcação.

Ficamos na pracinha, à sombra das árvores, esperando o tempo passar. Ali ficava a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, erigida em 1761 sobre um antigo cemitério dos índios tupaius. A torre do lado esquerdo desabara em 1851, demolida a outra, por precaução no mesmo ano. Entre 1876 e 1881, foram restauradas as paredes e as torres foram reconstruídas entre 1930 e 1933. Um senhor que viu o Ricardo anotando os dados da igreja indicou-lhe uma placa junto ao crucifixo, que fora mandado erigir em 1846 pelo naturalista alemão Carl Friedrich Philip von Martius, em agradecimento pelo fato de se ter salvado, em 1819, de um naufrágio nas águas do Amazonas próximo a Santarém. Os arcos nas janelas do anexo da Catedral lembravam ogivas de janela árabe. Conhecemos um casal de Manaus, Jefferson e Edileude, que estava com um bebezinho, sobrinho desta última, e que, dentre outras coisas, nos esclareceu sobre o menor preço possível para uma corrida de táxi de Santarém a Alter-do-Chão, já que ali os taxistas cobravam os olhos da cara, principalmente quando percebiam que o freguês não era conhecedor da região.

O barco saiu às 19h e, enquanto singrava as águas barrentas do Amazonas, enfrentou uma chuvarada com vento que determinou a baixa dos toldos e um resfriado para o Ricardo. Chegamos à meia-noite. Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse à Casa de Férias, o local mais recomendado por todas as pessoas com quem conversamos, anexo ao Colégio das Freiras. Chegando lá, fomos atendidos pelo rapaz que tomava conta, que nos disse que não havia quartos disponíveis. Achamos mais que era preguiça do “cara” em nos atender àquela hora. Fomos então procurar outro hotel e o taxista nos levou ao Flor de Minas, um hotelzinho bem simples. No quarto, só havia a cama e o ventilador e um banheiro sem portas. Os donos, muito atenciosos, e, pelo que pudemos perceber, éramos os únicos clientes.

Acordamos cerca de 6h30, arrumamo-nos e, enquanto eu dava um jeito no quarto e organizava nossas coisas, Ricardo foi descendo para tomar o café e conversando com os proprietários. Foi informado sobre uma pessoa, o Sr. Alôncio, que tinha uma toyota e sempre levava as pessoas para conhecer as inscrições. Depois do café, fomos procurá-lo e combinamos que em trinta minutos passaria no hotel para nos pegar. Retornando, colocamos calças compridas e tênis de cano longo, abastecemos nosso cantil, recarregamos a bateria da filmadora e trocamos o filme da máquina.

A toyota chegou e partimos. Experimentamos a verdadeira sensação de estarmos passando no meio da selva amazônica. A toyota vai a lugares a que nem com boa vontade vão os carros comuns. Ricardo adorou passear com a toyota.

Fomos passando e o Sr. Alôncio nos mostrava os pontos principais. Começamos pelo final da estrada – se é que aquilo se pode chamar de estrada –: dava exatamente na caverna em que Anna Roosevelt descobrira a ossada humana e analisara as inscrições, que datara de 12.000 a. C. Depois fomos a um monte que tinha em sua parte mais elevada um paredão com várias inscrições, algumas lembrando letras, outras, reproduzindo a vida diária. A vista lá de cima era espetacular: abaixo, à direita, o rio Gurubatuba, afluente menor do Amazonas, à esquerda, a planície amazônica. Depois passamos pela Pedra da Tartaruga, uma formação rochosa interessante e pela Pedra do Pilão. Por último, paramos no Monte do Sol e da Lua, por onde subimos. O local onde estão as inscrições é altíssimo, a subida é íngreme e o sol estava escaldante. Enquanto subi, percebi que do lado do monte em que se situa a maior parte das inscrições a rocha formava uma figura humana de dimensões astronômicas, muito parecida com uma estela maia, só que vinte vezes maior. A vista lá de cima é belíssima, porque esta serra fica isolada em uma imensa planície. Consegui detectar vários sóis e a minha suposição é que o que as pessoas chamam de lua seja apenas uma outra posição solar em outra época do ano. Seria ali, talvez, uma marca de solstícios e equinócios. A descida foi terrível, pois havia muitas pedras soltas.

Chegando à cidade, fomos direto ao Banco do Brasil, pagamos nosso guia-motorista e encontramos um restaurante pequeno com comida deliciosa – serviram-nos pirarucu frito e ensopado, acompanhado de salada, arroz e feijão –, quase em frente ao Banco. De lá, fomos caminhando em direção ao hotel, pois estávamos próximos. Chegamos lá no exato momento em que começava o jogo do Brasil com a Noruega. Fomos para o quarto e tomamos banho. Estávamos grudentos e tínhamos que aproveitar a água, já que era comum esta faltar e que o hotel não tinha caixa d’água para tais emergências. Não assistimos à derrota, resolvemos descansar por estarmos exaustos. Ao baixar o sol, saímos para comprar Cebion, pois o Ricardo estava gripando e eu também. Depois fomos ao porto, pois nos disseram que, de tardezinha, sempre apareciam botos pelo cais, mas não vimos nenhum. Voltamos ao hotel para podermos sair no outro dia cedo, pois só há um horário para saída da lancha para Santarém: 5h da manhã. Há também um barco que sai às 9h da noite e chega às 3h da manhã, um horário péssimo para procurar hotel. E, além do mais, queríamos ir direto para Alter-do-Chão.

Acordamos às 4h, vestimo-nos rapidamente, não pudemos nos lavar, pois estava novamente faltando água. O Sr. Alôncio, na sua toyota, já estava nos esperando. Partimos às 5h, ainda escuro, e combinamos com um taxista que, por vinte reais, nos levasse a Alter-do-Chão, já que ficava esta a 38 km de Santarém. Combinamos, ainda, que nos pegasse no domingo, às 6h30, para nos levar ao aeroporto, pelo mesmo preço de vinte reais, trato que ele descumpriria, mais tarde.

Chegando em Alter-do-Chão, vi duas pousadas, ambas muito boas. Mas a simpatia da Heloísa, dona da Tupaiulândia, fez com que optasse por esta. Às 10h30 tínhamos tomado nosso café da manhã e conversado um pouco com ela. Era dia de folga da camareira e ela pretendia ir a Santarém fazer algumas compras no supermercado. Por isto, resolveu deixar um dos portões sem tranca para que pudéssemos sair e voltar quando quiséssemos.

Passeamos pela beira do rio, onde havia um calçadão. Vimos uma praia do lado da cidade com barraquinhas. Os barcos que levam as pessoas para as barraquinhas da ilha, que está parcialmente coberta pelas águas. O local, realmente, é belíssimo. Em frente ao calçadão, situa-se a praça da igreja e, ao lado da praça, um restaurante enorme. Fomos até o fim do calçadão – ou começo, dependendo de onde se entre –, ao restaurante recomendado pela Heloísa e pedimos nossa comida para as três horas da tarde. Ficamos ainda um pouco no calçadão, descansando em um banco à sombra de uma árvore, olhando algumas crianças pulando de um trampolim improvisado. Havia somente duas pessoas tomando banho na ilha e um barquinho cruzava o rio numa paisagem digna de um quadro.

O tempo começou a fechar e, como estávamos resfriados, resolvemos voltar para o hotel. Fomos para o nosso chalé, tomamos banho, abrimos as janelas para ventilar e descansamos um pouco.

Às 14h30, fomos ao restaurante almoçar. Assim que acabamos de comer, estourou uma tempestade. Ficamos ainda uns quarenta minutos no restaurante olhando a chuva e conversando com a proprietária. Assim que a chuva melhorou, ela nos emprestou uma sombrinha para podermos voltar. Passamos pelo museu de arte indígena, mas estava fechado. Então, fomos para nossa pousada para descansarmos. Chegamos por volta de 16h30, ou, no horário de Brasília, 17h30.

Acordamos com a claridade do sol saindo. Em Porto Alegre, tínhamos o hábito de acordar entre 8 e 10 h da manhã, dependendo do dia da semana e dos compromissos. Mas nesta viagem habituamo-nos a acordar sempre de madrugada e já naturalmente entre 8 e 9h da noite íamos dormir. Tomamos café por volta das 8h30/9h e depois fomos à praia, não sem antes entregar a sombrinha no restaurante em que comêramos no dia anterior. Fomos, em seguida, aos barquinhos que conduziam até a ilha. Enquanto nos dirigíamos ao atracadouro, avistamos botos na água. A travessia foi deliciosa, pois as águas eram tranqüilíssimas. O velhinho que conduzia o barco nos contou que os botos engravidavam as mulheres e que as lavadeiras menstruadas não iam ao rio para não serem atacadas.

Fomos à única barraquinha que estava funcionando na ilha durante a semana. Alugamos uma cadeira confortável. À frente, um rapaz alugava caiaques e vendia águas-de-coco. Instalamo-nos em uma mesinha que ficava embaixo de uma árvore, da qual se viam os dois lados da praia. Por ela caminhamos e na volta tomamos banho nas águas cristalinas do lago, formado pelos igarapés, que deságua no rio Tapajós. Havia uns peixinhos pequeninos, denominados “charutinhos”, que ficavam sempre em volta da gente. Pedimos um tucunaré assado na brasa, delicioso. Aproveitei para colocar as anotações em dia enquanto Ricardo lia o livro do Pablo Villarrubia Mauso, que ele não perdia uma oportunidade sequer para criticar por ter forçado o tempo inteiro a localização de vestígios de OVNIs, quando era muito mais sedutora, provável e fascinante a possibilidade de se verificar a existência ou não de civilização em território brasileiro antes de Cabral.

Voltando a Alter-do-Chão, fomos visitar o Centro de Preservação da Arte, Ciência e Cultura Indígena, antes referido como museu. Ali se vêem peças das vários tribos amazônicas, com especial destaque para a cerâmica de Marajó e do Tapajós. Havia ali réplicas de peças da cerâmica tapajônica cujos originais foram datados do ano 8.000 a. C. Vimos ali os utensílios e vestes de tribos que estão questionando em juízo seu desalojamento para dar lugar a grandes usinas e por trás das quais muitos preferem ver interesses escusos de brancos. Vimos o produto do trabalho de tribos como os waimiri, cuja música se caracteriza por uma escala eneatônica (nove tons), a exemplo do que ocorre com a música dos aborígenes da Oceania. Os tikuna, apesar de 400 anos de tentativa de integração forçada, mantiveram ao longo do tempo sua cultura. Os tukanos têm sido diuturnamente catequizados por diversas seitas religiosas que disputam a apropriação de suas almas. A origem dos jurunas é obscura, mas há a suspeita de que descendam dos índios do altiplano andino. Os assurini apresentam em suas pinturas motivos gregos, figuras geométricas altamente elaboradas. Havia vestes de uma das tribos que observei que apresentavam semelhança com as andinas, não obstante a maioria dos estudiosos negue qualquer tipo de contacto entre estas tribos e a avançadíssima civilização que se desenvolveu na parte mais ocidental da América do Sul. O falicismo, freqüente na arte dos índios andinos e mesoamericanos aparece representado em muitas das peças. A música apresentada como fundo da exposição também lembra a andina, inclusive com a flauta de pã.

No dia seguinte, enquanto caminhávamos na praia da ilha, reencontramos o casal que conhecêramos ao embarcarmos para Monte Alegre e estavam com Ednéa, irmã de Edileude e mãe do bebê referido acima, mais a irmã mais velha deste, chamada Dauíla, mais uma tia desta última, dois anos mais velha, chamada Érica. Por coincidência, estavam hospedados no mesmo hotel. Ficamos com eles até o dia seguinte, sábado, cerca de 1h da tarde, quando voltaram para o hotel, pois o táxi passaria para pegá-los às 14h. Assistiriam ao jogo do Brasil contra o Chile – vitória brasileira por 4 x 1 – às 15h no barco que sairia às 17h para Manaus. Ficamos um pouco mais na praia, pois amanhecera chovendo e só por volta das 12h o tempo firmara e o sol abrira de vez.

À noite teria que arrumar as bagagens, pois no dia seguinte voltaríamos a Porto Alegre, com uma conexão de 4 a 5 horas em Manaus, que seriam aproveitadas para conhecer a cidade.

No dia seguinte, levantamos antes das seis horas da manhã. Arrumamos as bagagens, tomamos café. Havia uns beijus (ou, como chamados ali, tapiocas) quentinhos com manteiga preparados por Heloísa aos quais não resisti. O taxista já estava nos esperando. Quando chegamos e íamos pagar os vinte combinados antecipadamente, ele nos cobrou quarenta.

Na conexão de Manaus, cerca de cinco horas em terra, como os táxis cobravam cerca de 30 reais para irem até o centro e já estávamos injuriadíssimos com eles por causa da exploração, pegamos um ônibus que saía a cada 40 minutos. Deixamos nossa bagagem de mão guardada no aeroporto e só levamos a máquina fotográfica. Passeamos pelo centro, fomos ao Teatro Amazonas. Como era domingo, estava fechado para visitação, mas mesmo assim se podia visualizar a arquitetura do Teatro, testemunha dos tempos do esplendor dos barões da borracha. De lá fomos caminhando até a Praça da Matriz. Passamos em meio à zona franca, mas, em virtude de ser Domingo, todas as lojas estavam fechadas. A praça da igreja estava movimentadíssima. Vimos o prédio da alfândega – uma construção antiga que merece ser vista –, o mercado municipal e o porto. Aquela parte da cidade estava agitadíssima, com pessoas passeando por todos os lados. Pegamos então o ônibus de volta para o aeroporto, e embarcamos para Porto Alegre. Ainda tivemos uma conexão de duas horas em São Paulo.




Chegamos a casa faltando dez minutos para a meia-noite, mas só fomos dormir à 1h30 já da segunda. Às 12h30 tinha de bater o ponto eletrônico no Tribunal, ao retornar ao trabalho.

México Festivo e Arqueológico (texto de Scheila F. Versiani)


Estávamos em dezembro de 1995, eu teria um recesso no tribunal de 17 dias (final de dezembro e início de janeiro), não consegui tirar férias em janeiro mas o Ricardo tinha um mês de férias. Tivemos que reduzir nossa viagem de 30 para 17 dias, pretendíamos conhecer as principais ruínas arqueológicas do México, mas devido a redução de dias disponíveis tivemos que cortar algumas ruínas que tinham um acesso mais difícil ou demorado, entre elas El Tajin e Bonampak. Iríamos começar pela cidade do México e descer até Cancún onde pegaríamos um vôo no dia 9 de janeiro à noite de volta para o Brasil. Tinha um grande sonho: conhecer a pirâmide do Sol, a maior pirâmide da América.

Apesar de reservarmos com mais de 3 meses de antecedência e de havermos pago já há um mês, deu uma confusão com as nossas passagens e só fomos recebê-las no dia do embarque pela manhã depois de ficarmos cerca de 2 horas na agência de turismo pedindo que nos devolvessem o dinheiro.

Saímos de Brasília numa sexta-feira à noite dia 22/12 e aterrissamos na Ciudad del México no dia 23/12, sábado, pela manhã. O tempo estava bom.

Em um setor de informações turísticas do aeroporto da Cidade do México nos informaram sobre um hotel localizado na Zona Rosa (área turística e segura) a um bom preço U$ 25,00 o quarto do casal com banho privativo. Os hotéis nesta zona estavam em média entre U$50,00 e U$150,00.

Ainda no Sábado, depois de instalados, fomos na parte da tarde conhecer o Museu de Antropologia. Com uma coleção que cobre toda a área arqueológica do México, ficamos em torno de umas quatro horas no museu, mas pelo tamanho do acervo poderíamos passar dias visitando. Por não podermos tirar fotos com flash e após uma tentativa e de quase ter minha máquina fotográfica apreendida por um segurança, perdi um filme inteiro de fotos sem flash.

Depois do museu voltamos para Zona Rosa, ficamos passeando e lanchamos.

Na manhã seguinte, Domingo, fomos a Teotihuacan. Havia alguns pacotes turísticos saindo do hotel e cobravam cerca de U$25,00 por pessoa. Resolvemos ir por nossa conta. Próximo ao hotel tinha uma estação de metrô, com um peso (cerca de 70 centavos do dólar) cruzamos a cidade e fomos parar no Terminal Norte, de onde saíam todos os ônibus que iam para o Norte do México. Compramos uma passagem que sairia dentro de 15 minutos para uma cidadezinha onde ficavam as ruínas de Teotihuacan, a viagem demorou cerca de 1h e 30 min e o ônibus nos deixou na entrada das ruínas. Quando íamos comprar os ingressos um guarda nos informou que aos domingos e feriados a entrada era franca. Mais tarde descobrimos que isto valia para todo o México como um estímulo para que as famílias fizessem passeios nos dias de folga. Aproveitamos bastante esta possibilidade pois estávamos em plena época de festas de fim de ano.

Quando entramos pegamos uma trilha que nos levou a um conjunto de templos onde se destacava a pirâmide da Lua. Era a primeira vez na minha vida que via pirâmides de verdade! Pirâmides que ninguém tinha dúvidas em caracterizar como tais. Estava realizando um sonho: conhecer aquela cidade sagrada em que tanto ouvira falar e sobre a qual já tinha lido muitos relatos.

Subimos na pirâmide da Lua. Era altíssima. Antes de subirmos, as pessoas pareciam formiguinhas escalando seus degraus. Em algumas partes os degraus eram muito altos e estreitos, tivemos que subir literalmente de quatro. Ricardo entrou em estado de choque: não olhava para trás e nem para baixo. Ele tem um problema sério com locais altos, mas enfrentou com bastante coragem o seu medo de altura.

De lá de cima avistamos toda a cidade. Era de uma beleza incrível. Lá estava, ladeada por pequenas pirâmides , a Calle de los Muertos, onde era praticado o ritual do jogo de pelota, à esquerda da Avenida estava a Pirâmide do Sol, a maior da América, e vista pelo melhor ângulo que se podia vê-la. Ao fundo, à esquerda estava um conjunto de templos: a Ciudadela , onde se destacava a pirâmide de Quetzalcoatl (deus da Serpente Emplumada).

Depois de descermos a pirâmide, com alguma dificuldade por parte do Ricardo, pois não conseguia olhar para baixo, tivemos que descer de costas; fomos caminhando pela Avenida da Morte até a pirâmide do Sol, lá subimos novamente, mas, apesar de ser mais alta que a anterior, os degraus eram mais baixos, portanto mais fáceis de subir e o baque da primeira escalada já havia passado, Ricardo já se sentia mais fortalecido, subiu e desceu bem esta pirâmide. Eu estava realizando mais um sonho: subir aquela pirâmide.

Depois de descermos fomos á Ciudadela, conhecemos a pirâmide de Quetzalcoatl, fomos a algumas lojinhas em frente e almoçamos em um restaurante de frente para as ruínas. Assim que saíamos estava passando um ônibus que voltava para a cidade do México.

Quando chegamos, pegamos o metrô e fomos até o centro histórico, caminhamos um pouco por lá e tiramos algumas fotos. Quando o sol estava se pondo, pegamos um táxi e voltamos para o hotel. Descansamos um pouco e depois saímos para um lanche ali mesmo na Zona Rosa, voltamos para o hotel e fomos dormir, na rua víamos algumas comemorações, era noite de 24 para 25 de dezembro, noite de Natal.

No dia de Natal resolvemos fazer um passeio romântico: fomos passear em uns barquinhos enfeitados no bairro de Xochimilco, este bairro pode ser comparado a uma Veneza, onde o meio de transporte é o barco. Pegamos o metrô próximo ao hotel e fomos até o último ponto ao sul da cidade, de lá , pagamos mais um peso, e pegamos o trem ligeiro até Xochimilco. A cidade estava cheia de policiais, uma vez que, como nos explicou um guarda, a época das festas de Natal e Ano Novo era muito propícia a rebeliões.

Da estação do trem fomos caminhamos até a saída dos barcos, lá, com mais um outro casal que estava no trem conosco, fechamos um barco que nos levou para passear pelos canais entre as chinampas (ilhas flutuantes artificiais) onde se encontram casas residenciais, comércio, áreas de lazer etc., área que antigamente era lago e que agora são áreas habitadas. Havia dezenas, talvez centenas, de barcos: alguns passeavam como nós, outros vendiam doces, salgados, outros flores, outros tinham orquestra com música, outros tinham restaurantes, todos enfeitados, cada um mais colorido que o outro. O passeio era realmente belíssimo e romântico. Foi um lindo dia de Natal que passamos.

Quando Cortez chegou a Tenochtitlan, capital do império Asteca, onde atualmente se situa a Cidade do México, escreveu que a região era um grande pântano onde os homens tinham construído estas ilhas flutuantes e se moviam por barco pelos canais entre as ilhas artificiais (Chinampas).

No dia 26/12 fomos a Tula, também fomos por nossa conta, as excursões cobravam cerca de U$ 40,00 a U$50,00 por pessoa e gastamos os dois juntos cerca de U$17,00. Pegamos o metrô até o Terminal Norte e de lá pegamos um ônibus até Tula, a viagem demorou cerca de 2 horas e meia, no terminal de ônibus de Tula pegamos um ônibus circular que nos deixou na entrada da zona arqueológica, mas tínhamos que caminhar mais dois quilômetros até a entrada do museu e das ruínas. O único inconveniente é que estava chovendo e ficamos ensopados.

A parte mais importante era uma praça onde havia uma pirâmide em cujo topo estavam os Atlantes, (esculturas que lembram cariátides) e na base frontal estão colunas baixas, cuja vista era idêntica ao templo dos guerreiros em Chichen Itza (esta cidade está na região maia na península de Yucatán), há também um Chac – Mool (uma escultura de um guerreiro deitado, ofertando alguma coisa numa tigela apoiada em sua barriga): em Tula ele está em baixo na frente da pirâmide, tem cor escura e foi decapitado, e em Chichen Itza ele está em cima, tem cor clara e a cabeça dele está bem no lugar. Observamos que os atlantes tinham expressões faciais diferentes, embora a indumentária não variasse, sugerindo, mesmo, que fossem guerreiros uniformizados.

Ao voltarmos para a cidade do México fomos ao centro e fizemos um tour pelas livrarias, com livros baratíssimos, mas como estávamos em início de viagem e teríamos que cruzar do centro ao sul do México em estilo mochileiro, optamos por não comprar livros pois fariam volume e peso na bagagem. Antes de voltarmos para a Zona Rosa fomos à estação de metrô do centro histórico para tirarmos uma foto da maquete da antiga Tenochtitlan encontrada por Cortez. Ao lado da catedral do México, vê-se o topo de uma das construções de Tenochtitlan e algumas estátuas. Algumas estações de metrô da Cidade do México são verdadeiras galerias de arte.

No dia 27/12 arrumamos nossa bagagem, desocupamos o hotel e nos dirigimos para o Terminal Leste, onde pegaríamos um ônibus para Oaxaca, capital de Oaxaca, onde iríamos conhecer Monte Albán, Mitla e Yagul. Só conseguimos comprar passagem para parte da tarde e tivemos que ficar no terminal cerca de 2 a 3 horas, chegamos em Oaxaca à noite. Do terminal de ônibus ligamos para alguns hotéis (tínhamos um guia do México que compráramos ainda no Brasil), estavam todos lotados pela época de festas, em um deles tinha vaga, pegamos um táxi e fomos para lá, chegando lá nos informaram que estava lotado, depois de caminharmos carregando bagagem cerca de uns duzentos metros apinhados de gente em plena festa de fim de ano e ainda por cima não nos deixaram usar o telefone para procurar um outro hotel. Eu fiquei em pé no saguão e Ricardo saiu para procurar um orelhão, depois de perder várias fichas pois os telefones próximos estavam todos quebrados sem falar no som de alto falante das barraquinhas de festa. Ricardo achou um orelhão que funcionava e descobriu um hotel que havia uma vaga – Las Rosas -. A sorte é que era próximo de onde estávamos, o Zocalo, a parte central da cidade onde estavam os principais hotéis, restaurantes e festividades. Carregamos nossas bagagens por mais uns três quarteirões apinhados de gente cerca de 11 da noite: não preciso nem mencionar o estado de humor que estávamos. O quarto era péssimo, mas o pessoal excelente e o hotel bem bonito e bem localizado.

Dormimos e, no dia seguinte (28/12), saímos para conhecer a cidade e tomarmos o nosso desayuno em um dos cafés com suas cadeiras na calçada situados no Zocalo. A cidade era realmente linda e as pessoas maravilhosas, logo apaziguamos o nosso ânimo da noite anterior. A parte pior da viagem era sempre quando estávamos nos deslocando de uma cidade para outra e estávamos com a bagagem procurando hotel, mas depois de instalados tudo se tornava mais fácil. Ricardo ainda aproveitou para fazer algumas compras de livros, dentre eles o Popol Vuh, controladas as nossas disponibilidades financeiras e o peso da bagagem.

Depois do café, fomos a um hotel de onde se comprava o ingresso do transporte para Monte Alban, ficava cerca de 5 km de Oaxaca em cima de uma colina. Compramos para as duas da tarde.

Monte Albán impressionava pela disposição urbanística da cidade, seu estilo era Zapoteca. A parte principal se compunha de uma grande praça, com cerca de 500 metros de profundidade por uns 200 de largura, com todas as pirâmides voltadas para ela, dentre elas estava o Templo dos Dançantes. Também havia estádio de Jogo de Pelota, mas não estava nesta praça. Lá de cima se podia observar a Sierra Madre.

À noite, assistimos uma apresentação musical no Zocalo.

No dia 29 pela manhã, depois de tomarmos café no Zocalo, fomos ao terminal de ônibus de segunda classe para irmos à Mitla. Chegando lá atravessamos toda a cidade subindo uma ladeira e chegamos ao museu da entrada das ruínas, ao lado destas estava uma catedral construída por pedras retiradas das construções zapotecas. Nelas encontramos vários pátios cercados por muralhas e de subterrâneos que continham túmulos. O grande destaque de Mitla são as faixas gregas que compõem as muralhas das ruínas.

Ao voltarmos no ônibus para Oaxaca, no meio do caminho ele parou para descer vários turistas. Perguntamos o que tinha por ali que não sabíamos e nos informaram que depois de subirmos uma ladeira de 2 km encontraríamos Yagul. Aproveitamos e descemos, a subida íngreme foi compensada pela beleza do local. As ruínas se encontravam em plena Sierra Madre a vista era realmente belíssima. Haviam várias pirâmides, túmulos subterrâneos e estádio de jogo de pelota.

Ao retornarmos à cidade nos dirigimos ao Terminal de ônibus de primeira classe para comprarmos nossa passagem para Palenque. Só havia para o dia seguinte as 5 horas da tarde. No dia seguinte 30/12 acordamos tarde e ficamos passeando pela cidade até chegar a hora de sairmos. Aproveitei para comer uma pizza à lenha deliciosa um pouco antes de sairmos. Porém tanto eu como o Ricardo colocamos tudo para fora enquanto fazíamos a travessia noturna da Sierra Madre. Depois que conseguimos acalmar nosso estômago e dormir, durante a noite fomos acordados por uns guardas armados de escopeta e pedindo nossos passaportes, na entrada da região de Chiapas. Depois ficamos sabendo que estava havendo uma rebelião naquela área. A nossa sorte é que havia mais uns 10 a 12 turistas no mesmo ônibus e não nos sentimos sozinhos: todos foram acordados e seus passaportes devidamente consultados.

Ao chegarmos em Palenque 31/12 compramos nossa passagem de ônibus para mesma noite, pois nos restava pouco tempo e tínhamos muito o que conhecer do México, procuramos um hotel ao lado da rodoviária para tomarmos um banho e deixarmos nossa bagagem enquanto íamos às ruínas. Na cidade tinha microônibus que fazia o transporte para as ruínas.

Palenque me impressionou muito: as pirâmides aparecendo no meio da selva, era uma cidade bastante diferente de todas as outras que tinha visto. O estilo maia estava começando. As pirâmides eram todas decoradas com baixos e altos relevos, em cima e no interior das pirâmides haviam inscrições. Palenque é famosa por ter sido lá encontrado o primeiro túmulo no interior de uma pirâmide, conhecida como Templo das Inscrições. O palácio tem uma torre que lembra uma construção chinesa, todo o palácio é de uma arquitetura incrível. Depois de vasculharmos toda a cidade por horas a fio, nos deitamos a sombra de uma árvore e ficamos a admirar a beleza das ruínas.

Ao voltarmos à cidade jantamos em um restaurante, fomos ao hotel onde deixamos nossas bagagens e depois para rodoviária esperarmos a hora do ônibus sair. Havia dois horários de ônibus noturno, o que saía às 7 chegava em Mérida às 4 da manhã e o que saía às 8 chegava às 5. Escolhemos o segundo pois esperaríamos clarear e sair para procurar hotel.

Passamos o Reveillon no ônibus no dia seguinte ficamos em torno de 1 hora procurando hotel. Achamos um bom, bem localizado e com um ótimo preço. Depois de instalados e de banho tomado voltamos à rodoviária para pegarmos um ônibus que nos levaria a Chichen Itza, a viagem demorou cerca de 2 horas. Chegamos lá em torno das 11 da manhã e saímos em torno das 4 da tarde.

Chichen foi a cidade que mais impressionou o Ricardo. O que ele mais queria era subir ao Templo dos Guerreiros. Mas estava proibido. Tivemos que nos contentar em ficar admirando de baixo, não pudemos tirar nossa foto com o Chac-Mool. Subimos no Castillo, de onde avistamos todas as ruínas. Fomos ao Cenote sagrado escavado por Thompson, por onde as virgens eram lançadas. Visitamos o estádio de Jogo de Pelota, o observatório El Caracol e as outras ruínas que íamos alcançando através das trilhas por entre as árvores. Ricardo ficou injuriado com uma brasileira que, a pretexto de tirar uma foto, se deitou sobre um dos entalhes de uma das laterais das escadarias de uma das construções de Chichen.

Enquanto esperávamos o ônibus que nos levaria a Mérida reencontramos um casal de suíços que havíamos conhecido em Mitla e eles nos informaram de um passeio que fazia a rota Puuc e que saía da rodoviária da cidade de Mérida. Assim que chegamos na rodoviária já compramos o nosso pacote para o dia seguinte. Fomos passear pela cidade e jantamos.

No dia 2/01 fomos conhecer várias ruínas em estilo Puuc, uma próxima a outra.: Uxmal (com a pirâmide do adivinho, o palácio do governador, o grupo de ruínas Las monjas e uma pirâmide altíssima de onde se avistava toda a cidade); Edzna, Kabah; Sayil (com um enorme palácio); Labná (onde se destaca o famoso arco pintado por Catherwood).

No dia 3/01 ficamos passeando pela cidade, fomos à universidade de Yucatã, ao Museu, fotografamos o Teatro.

Às 10 da noite, resolvemos pegar um ônibus que saía às 12 e que iria até Playa del Carmen, depois nos arrependermos amargamente de ter pego aquele pinga-pinga e de não ter aproveitado uma noite bem dormida em um hotel que já estava pago.

Chegamos no dia 4/01 em Playa del Carmen por volta das 6 da manhã. Do terminal de ônibus fomos andando pelo calçadão e perguntando nos diversos hotéis se tinha vaga, no fim do calçadão encontramos vaga, os preços estavam bem mais altos do que todos os hotéis que já tínhamos ficado. Playa del Carmen fica a uns 30 min de ônibus de Cancún, achávamos que os preços estavam mais altos por causa disso. O hotel mais caro que havíamos pago era de U$ 25,00 na cidade do México. Lá em Playa del Carmen, o melhor preço que encontramos com banho privativo e ducha quente foi de U$ 40,00. Mais tarde, quando fomos a Cancún, pagamos U$ 25,00 em um hotel super bem localizado no centro, com piscina, café da manhã, quartos bem decorados e melhor que o da Cidade do México inclusive no atendimento. Optamos por ir a Playa del Carmen antes de Cancún pela proximidade com Tulum, Xcaret (5 km) e Cozumel. Esta última, era só atravessar no Ferry, o mesmo pelo qual atravessavam os turistas que vinham de Cancún para conhecer Cozumel. Playa del Carmen era caminho para todos estes passeios que os turistas que estão hospedados em Cancún fazem, com exceção de Chichen Itza, que optamos por conhecer de Mérida (2h), ao invés de Cancún (4h).

Assim que nos instalamos colocamos nossa roupa de banho e fomos á praia a um quarteirão do hotel. Passamos o dia caminhando pela praia e descobrindo locais mais desertos para nos banharmos.

No dia 5/01, pela manhã, pegamos um ônibus e descemos na entrada do Xcaret, lá havia um ônibus do parque que nos levou até a bilheteria. Chegando lá nos informaram que para brincar com os golfinhos, além de pagarmos cada um U$ 25,00 dólares na entrada, ainda tínhamos que pagar mais U$ 50,00, mesmo assim o Ricardo disse que queria ir. Mas o pessoal disse, e chegamos antes de abrir o parque, que os ingressos para brincar com os golfinhos eram em um total de 30 e já tinham sido todos vendidos para aquelas pessoas que estavam na porta esperando. Eu contei o número de pessoas e só tinha 17. Teríamos a opção de desfrutar o parque, que segundo informações de pessoas que tinham visitado e fotografias que havíamos visto, era belíssimo, um verdadeiro paraíso tropical. Decidimos então voltar outro dia para tentar os ingressos dos golfinhos e conhecer o parque.

Como ainda não eram 9 da manhã (o parque abria às 9), voltamos para Playa del Carmen, pegamos o ferry e fomos conhecer Cozumel. Foram as águas mais cristalinas que já vi. Informaram-nos que, mais cristalinas que aquelas, só na grande barreira de corais da Austrália. Ficamos passeando pela ilha e voltamos ao por do sol, tirei fotos muito lindas.

No dia seguinte 6/01 passamos o dia em Playa del Carmen, alugamos uma bicicleta e fiquei algumas horas correndo atrás e segurando o banquinho para ensinar o Ricardo a andar. De tardezinha, quando ele já estava andando sozinho, levou um tombo e esfolou o joelho, fomos a uma farmácia e compramos medicamentos. À noite sempre passeávamos pelo calçadão repleto de restaurantes, bares, lanchonetes, lojas etc., havia um grupo de mariachis com equipamento eletrônico e que tocava em um ponto fixo, eles tocavam em um ritmo que alegrava o calçadão. De dia já era legal passear pelo calçadão, mas à noite tinha aquele som contagiante, e era ainda mais divertido. Às vezes jantávamos em algum dos restaurantes do calçadão, às vezes íamos a um na praia que tinha um formato de um grande quiosque e muito aconchegante. Lá o Ricardo comeu a lagosta caribenha, um abacaxi partido ao meio e recheado de lagostas. Diz ele que foi a melhor lagosta que já comeu em sua vida. E pagou apenas U$10,00 por esta maravilha. Detalhe: era o prato mais caro servido pelo restaurante.

No dia 7/01 pegamos um taxi e chegamos no Xcaret as 7 h da manhã, fomos os primeiros a chegar e o parque só abriria as 9 h, fizemos de propósito para garantir o ingresso do Ricardo para que ele pudesse brincar com os golfinhos. Quando a bilheteria abriu (em torno de 8h) e fomos comprar os ingressos nos disseram que o ingresso dos golfinhos era vendido em um guichê interno próximo aos golfinhos (não nos tinham avisado isto naquele dia em que já tínhamos ido) e que somente quando o parque abrisse (as 9 h) é que teríamos que correr com um mapa do parque e os primeiros 30 que chegassem nos golfinhos é que poderiam comprar os ingressos. Dois dias antes havíamos estado lá e nos tinham dado outra informação, penso que eles já deviam ter vendido os ingressos para alguma agência, disseram que não podíamos comprar porque já tinham sido vendidos para algumas pessoas que estavam junto conosco esperando o parque abrir, naquele dia se tivessem nos falado que o Ricardo teria que correr por trilhas disputando com mais não sei quantas pessoas a oportunidade de comprar o ingressos para brincar com os golfinhos, com certeza ele tentaria, mas naquele dia, depois de esperarmos duas horas para o parque abrir ele, com o joelho esfolado e mancando, possivelmente não conseguiria chegar a tempo. Penso que havia outros interesses econômicos por parte das pessoas que vendiam ingressos e que não pude perceber. Ficamos injuriados e achamos um desaforo, depois de tudo isto, termos que pagar U$ 50,00 (cinqüenta dólares) para entrarmos no parque e depois tentar comprar um ingresso que custava US 50,00 para cada um com a possibilidade de não conseguirmos comprar este último e o Ricardo em vez de brincar com os golfinhos ficaria a ver navios depois de já termos gastado o dinheiro da entrada. Fomos embora da porta, nem compramos o ingresso. Poderíamos ter dormido até mais tarde e ficado sem essa. Porque não tomaram esta atitude para conosco na primeira vez que havíamos estado lá? E na primeira vez havíamos chegado também antes do parque abrir.

Fomos para a rodovia e de lá pegamos um ônibus (que passava no máximo a cada 15 min) em direção a Tulum. Fomos conhecer as famosas ruínas em frente ao mar, depois que já tínhamos passeado por toda a cidade começou a chover, resolvemos então voltar para a rodovia e pegarmos um ônibus para voltar. Ricardo chamou a atenção para um iguana que pôs a cara para fora das pedras onde residia e, depois, entre curioso e assustado com aquele tanto de gente, ficou ali, com o corpo inteiro, exceto a cabeça, dentro da toca. Mas no meio do caminho a chuva se tornou uma tempestade e que fechou o tempo na região até o dia seguinte. Quando passamos em frente a entrada do Xcaret agradecemos, pois não tinham passado nem 3 horas e a chuva não parava mais. Com certeza, iríamos jogar pela janela no mínimo US 50,00. Quando chegamos em Playa del Carmen, soubemos que o ônibus em que estávamos iria até Cancún. Resolvemos então seguir e conhecer a famosa cidade, pois iríamos nos informar sobre os hotéis. Já havíamos conhecido todos os pontos do nosso roteiro.

Chegando em Cancún, almoçamos em um MacDonald's do centro próximo ao terminal rodoviário. Ali chegamos a assistir a uma festa de crianças onde se ia quebrar a Piñata, uma figura de papelão recheada de doces. Vimos alguns preços de hotéis, fizemos reserva para o dia seguinte e depois fomos para a zona hoteleira onde estão as melhores praias, restaurantes e shoppings. O tempo não estava bom, ventava muito. Ficamos passeando e à noite voltamos para Playa del Carmen. Fechamos nossa conta e arrumamos nossa bagagem, pois sairíamos no outro dia bem cedo.

No dia 8/01, bem cedo já chegamos em Cancún, assim que nos instalamos já saímos para praia, mas o tempo ainda não estava bom, queríamos ir a Isla Mujeres, mas como estava ameaçando chuva ficamos ali pela zona hoteleira, na parte da tarde pegamos um ônibus mas ao invés de pararmos no centro resolvemos circular pela cidade, foi aí que passamos a conhecer as favelas e buracos de Cancún, que até aquele momento achávamos que não existia. Quando retornamos ao centro, ficamos passeando pelas lojas de artesanato, os preços ali estavam bem melhores que na zona hoteleira.

No dia 9/01, teríamos que pegar o vôo á noite para retornarmos ao Brasil. Ficamos com medo de ir à Isla Mujeres e acontecer algum imprevisto impedindo a nossa volta. O tempo já tinha melhorado bastante, estava só um pouco nublado, mas ainda ventava muito. Ficamos nas praias da zona hoteleira, ao meio dia voltamos para o hotel, desocupamos o quarto as 2 h e deixamos nossa bagagem guardada no hotel. Ficamos passeando pelas lojas no centro até umas 5 h quando pegamos um táxi e fomos para o Aeroporto. No dia 10 pela manhã chegamos ao Brasil e à tarde eu já estava trabalhando, Ricardo ainda tinha mais umas duas semanas que ele usou na elaboração da sua tese que foi depositada 4 meses depois.
QUADRO: "Arco de Labná" de Scheila Versiani - Óleo sobre tela 40x50 cm dez. 2002 .

domingo, 22 de março de 2009

A mais longa queda d'água do mundo


Há tempos que eu ouvira falar do Salto Yucuman – a mais longa queda d’água do mundo, situada na fronteira do Brasil com a Argentina, no rio Uruguai – e estava com saudades dos tempos em que Scheila e eu fazíamos as nossas viagens aventureiras.

Sabendo que a queda d’água ficava no Parque Estadual do Turvo – o último reduto no Estado do Rio Grande do Sul em que ainda havia onças-pintadas, caititus, antas e tamanduás -, foi feita a pesquisa pela Internet acerca das possibilidades de transporte, de hospedagem e de alimentação nas redondezas (http://www.bemtevibrasil.com.br/yucuma.htm, acessado em 30 de janeiro de 2007).

Os interessados podem ficar em Hotéis e Pousadas no Muncípio de Tenente Portela, mais próximo ao Parque.

Entretanto, sem dúvida, o que oferecia maiores possibilidades de transporte em relação a Porto Alegre era Frederico Westphalen.

Vimos também que o Parque Estadual do Turvo fora o primeiro a ser criado no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1947, época em que a criação de parques estaduais se voltava muito mais à idéia de propiciar lazer do que, propriamente, à preservação da natureza.

Vinha, ainda, a recomendação de que não se tomasse banho no rio, tendo em vista a extraordinária força da correnteza.

Por outro lado, já se falava no projeto de construção da usina hidrelétrica de Roncador, que inundaria 25% do Parque e faria desaparecer o Salto, mesmo tendo ele sido declarado pela República Argentina, em 1992, Monumento Nacional.

Tomamos o ônibus até Frederico Westphalen, saindo às 22h45 de Porto Alegre, para chegarmos lá às 6h.

Combináramos a viagem com um taxista de nome Flávio, que nos pegaria na rodoviária, levar-nos-ia ao Parque e nos traria de volta a Frederico Westphalen.

Scheila aproveitou para comprar as passagens de volta, para as 15h30 do mesmo dia.

Enquanto o dia ia amanhecendo, passávamos por municípios como Tenente Portela, Taquaruçu do Sul, até chegarmos a Derrubadas, última cidade antes do Parque Estadual do Turvo.

Quando nos íamos aproximando, o Flávio nos chamou a atenção para um primeiro habitante selvagem: uma imensa lebre saltou na margem direita da estrada, próxima aos pés de soja que atapetavam a região inteira.

Ao chegarmos ao Parque, soubemos que ele se abriria às 8h.

Numa das árvores da entrada, vieram alguns tucanos pousar.

Pago o ingresso, seguimos de carro até uma clareira onde havia alguns quiosques, próximos a algumas árvores que eu só conhecia dos livros do Monteiro Lobato, como o guatambu, que aparece n’O saci.

A partir dos quiosques, seguimos a pé.

Em vários trechos do caminho, via-se mata cerrada, cruzavam a estrada pacas e marrecas; nenhuma onça, anta ou caititu cruzou nosso caminho.

Como dissera a nossa amiga, Dra. Roberta, que trabalhava, naquela ocasião, em Frederico Westphalen, a melhor época para visitar o Salto era esta mesma que escolhêramos: a queda estava bem visível, com um largo caminho passível de ser trilhado sobre as rochas.

Com efeito, o Flávio nos contou que um grupo de turistas viera em abril, certa ocasião, e se decepcionara, justamente pela falta de visibilidade.

Mas, vamos ao Salto.

Trata-se de uma imensa linha reta em diagonal, que, na época da seca, como dito, fica mais visível.

As pedras por sobre as quais a água do rio se precipitava pareciam ter sido empilhadas e soldadas entre si mediante a velha técnica que já víramos em toda a América Latina, sem argamassa.

Contudo, não era do conhecimento do nosso taxista e guia nenhuma lenda especíica da região acerca do Salto.

Parecia que as disputas pelo território entre os descendentes dos colonos europeus e os índios kaingangs tomaram em excesso o tempo que as pessoas teriam para frutificarem as narrativas – o que existiria antes, os índios, como expressão de um passado primitivo e degenerado, a ser abandonado ao esquecimento, o que se pretendia afirmar, a ação do colono de ascendência européia, voltada a tornar aquela região um centro irradiador da produção agrícola, mais especificamente, do agronegócio -.

As informações adicionais foram colhidas em documentos produzidos no âmbito acadêmico (http://geodesia.ufsc.br/Geodesia-online/arquivo/cobrac_2006/036.pdf, http://www.unisinos.br/ihu/uploads/publicacoes/edicoes/1158327280.69pdf.pdf, e acessado em 6 de maio de 2007).

Sabe-se que por ali passavam os tropeiros em direção à Feira de Sorocaba, durante os séculos XVII e XVIII, e que o Salto, na época da seca, constituiu um obstáculo – embora temporário – ao desmatamento da araucária, que se verificava no oeste do Estado de Santa Catarina, no sudoeste do Paraná e no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, muito intenso a partir do povoamento daquela região por imigrantes, iniciado na segunda metade do século XIX, sobretudo a partir da fundação da Colônia Militar de Chapecó, em 1882, naquela região que disputamos com a Argentina até 1895.

Obstáculo porque o Salto impedia as barcaças de seguirem pelo rio até o ponto onde as toras da preciosa árvore seriam colhidas, para aproveitamento de sua madeira e de sua resina.

Até 1894-1895, a região permanecia praticamente intocada pelo homem branco, embora seu solo fosse muito fértil e a fauna fosse riquíssima.

Durante a Revolução Federalista, de 1893, muitos foram se refugiar naqueles restos de mata cerrada que existiam no Rio Grande do Sul.

O que atraiu muitos dentre os pioneiros fora o inegável potencial econômico, com a possibilidade de exploração da madeira de lei, a grande quantidade de animais para a caça, bem como as águas medicinais, amplamente exploradas, hoje, no município de Irai, tendo todos, entretanto, como fator de unidade, a religião, o que não deixa de estabelecer um paralelo com a história da conquista do Oeste nos EUA.

A partir da década de 20 do século XX, o afluxo de imigrantes se deu norteado por uma idéia de colonização baseada na economia familiar.

Mas, retornemos ao Salto.

A correnteza era extremamente forte e, em alguns trechos, na margem brasileira, havia inclusive redemoinhos.

Em ambas as margens, tanto na brasileira como na argentina, o verde era exuberante.

As aves selvagens cruzavam os céus.

Retornando aos quiosques, Scheila viu uma outra trilha que nos poderia levar a um outro ângulo de visão do Salto, e o Flávio lá nos foi levando.

E, com efeito, ali, onde a mata era um pouco mais cerrada, iríamos dar no início da elevação.

O retorno não teve maiores incidentes, nem perigos: a viagem trnascorreu tranqüilamente naquela região que, vez por outra, aparece agitada por conflitos entre agricultores brancos e índios kaingangs.

O que se verificou de notável, por ocasião da volta, além das várias paradas, foi a existência de ligação entre Frederico Westphalen e cidades do norte do Mato Grosso, como São Felix do Araguaia, mediante linhas de ônibus.

Os Campos de Cima da Serra


No 22 de maio de 1998, aproveitando o dia ensolarado, resolvemos conhecer o Parque Nacional dos Aparados da Serra, onde se mostrava o lado mais rústico do nordeste gaúcho e onde existiam alguns dos mais importantes recantos para o ecoturismo no Rio Grande do Sul, por concentrar os maiores canyons do país.

Seguimos para São Francisco de Paula, cujo centro turístico lembrava um chalé bávaro e tinha em seu quintal pavões, patos e carneiros, e colhemos informações sobre lugar para almoçarmos.

Após comermos um churrasco, fomos em direção a Tainhas.

Segundo o Quatro rodas, em Tainhas teríamos de virar ao nordeste, para irmos a Cambará do Sul, mas não havia no entroncamento caminho para nordeste.

Pareceu-nos, então, que teríamos de entrar em Tainhas, mas depois vimos que a estrada que para lá conduzia não se mostrava muito segura, nem tampouco tinha alguma sinalização que indicasse o caminho para Cambará do Sul.

Depois de muito rodar em círculos, sem que uma viva alma aparecesse, resolvemos pegar o caminho para Aratinga, que ia para leste e, dali, viramos à esquerda.

Seguimos, em meio às obras das empreiteiras do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, para Cambará do Sul, suprindo as deficiências da sinalização com os esclarecimentos prestados pelas pessoas que trabalhavam nas obras.

Chegando à cidade, fomos ao primeiro posto de gasolina, à procura de pousada que nos era indicada pelo Quatro rodas.

Informaram-nos de que a Pousada Simone, que não constava no aludido guia, seria a melhor.

Fomos, antes de nos decidirmos – Scheila tem uma certa compulsão pela pesquisa de mercado, o que não deixa de ser salutar –, verificar as possibilidades de hospedagem que a cidadezinha oferecia, e optamos por ficar naquela que nos fora recomendada, extremamente aconchegante e com ótimo tratamento por parte dos proprietários, apesar de não ter banho privado e de cair a luz a cada vez que se ligavam simultaneamente os chuveiros do banheiro masculino e feminino.

O canyon do Itaimbezinho, famosa reserva ecológica caracterizada por um paredão afiado, com 5.800m de extensão, 800m de profundidade e uma largura de 800 a 2000m, estava fechado até o dia 30, quando seria inaugurado um hotel, inclusive com a presença do Governador.

As descidas até as profundezas do Itaimbezinho, segundo a revista Terra, estavam proibidas desde 1992, em virtude de se ter verificado que os turistas que o visitavam, por vezes, acrescentavam à paisagem natural o lixo urbano, depositando desde tênis usados até agasalhos e cobertores no fundo do canyon.

Falaram-nos do canyon Fortaleza, mais bonito que o do Itaimbezinho, e de onde se podia ver, em dia claro, os litorais gaúcho e catarinense.

O canyon que visitaríamos tinha 920m de profundidade.

Fomos comer alguma coisa em uma lancheria chamada Segredo’s por causa de um retrato mural representando a Pedra do Segredo, uma enorme rocha que se equilibrava sobre uma base muito pequena, parecendo bastar um empurrão para ela se despenhar canyon abaixo.


Peculiaridade da rocha era, ainda, uma formação, em seu meio, que parecia um filhote.

Mais tarde, lendo os trabalhos do geólogo Reynaldo Coutinho, o pesquisador de Sete Cidades (PI) – textos academicamente bem ortodoxos, que trouxeram conclusões importantíssimas no que toca à presença do homem naquela região e aos conhecimentos de astronomia que detinha –, assaltou-me o espírito a possibilidade de a Pedra do Segredo ser um loghan, isto é, um amontoado de pedras artificialmente colocado, em precário equilíbrio.

Veja-se que estou falando, aqui, no terreno da possibilidade, porque não havia, ainda, nenhuma prova de que tivesse havido ali, nos Campos de Cima da Serra, a presença do ser humano, a despeito de relativamente próximo de Urubici/SC, que visitaríamos mais tarde, onde há vestígios arqueológicos profundamente interessantes, especialmente no que tange às casas subterrâneas.

Fôra antes a parte do canyon da Fortaleza uma reserva florestal destinada a aproveitamento em fábrica de celulose, felizmente desativada, devido aos estragos que, efetivamente, fazia ao lançar os resíduos na atmosfera.

Percebemos, também, que a vida ali ainda tinha a tranqüilidade típica das cidades interioranas, em que as pessoas, ressalvados os dias de intenso frio, ainda podiam colocar suas cadeiras sobre a calçada em frente de casa e em que um furto ainda era coisa de causar espécie, sem a banalização que o crime adquirira já em grandes metrópoles.

A cidade, até sua emancipação em 1966, fôra parte do Município de São Francisco de Paula, e mantivera muito mais comunicação com o litoral do que com a capital, desde o seu desbravamento em 1745 pelo bandeirante paulista Pedro da Silva Chaves.

Fôra pouso de tropeiros que conduziam suprimentos à Feira de Sorocaba, em São Paulo, para abastecer de carne os trabalhadores das Minas Gerais.

Tinha havido em um dos canyons, o Malacara, um acidente no qual morrera um alpinista principiante.

Para se evitarem acidentes, mas, sobretudo, para se fiscalizar a boa educação de certos turistas que tinham dificuldades em não enxergar nos canyons lixeiras naturais, eram treinadas pessoas habitantes da região, pelo IBAMA, para servirem como guias.

Pegamos por guia um jovem chamado Márcio, que nos foi apresentado pelo dono da lancheria.

No dia seguinte, após o café da manhã, pagamos a diária e saímos com o guia em direção ao canyon

Ficamos sabendo no caminho a respeito de inúmeras outras atrações, como a Cachoeira dos Venâncios.

Tivemos de sair da via principal, já que ali se realizaria a procissão dedicada a Nossa Senhora de Caravaggio.

Quando perguntei se havia ali famílias provenientes dessa vila italiana de onde o pintor Michelangelo Merisi retirara o nome pelo qual se tornaria conhecido como um dos maiores artistas do início do período barroco, ninguém soube me esclarecer.

Subimos até o mirante, de onde, efetivamente, se podia ver tanto o litoral catarinense como a cidade gaúcha de Torres.

Via-se, ainda, a cachoeira do Tigre Preto.

À medida em que se ia subindo até o mirante, a fenda parecia ir-se abrindo mais e mais.

Andorinhões e urubus cortavam os céus, obtendo um ângulo de visão que nós, desprovidos de asas, certamente não poderíamos sequer fazer idéia.

O guia nos contou que, embora raro, não era impossível que um condor viesse voando dos Andes até os Campos de Cima da Serra.

No mirante, emprestou-nos seu binóculo, cujo alcance era extraordinariamente amplo, de sorte que podíamos ver detalhes de acidentes a quilômetros de distância.

Descemos depois do mirante para nos dirigirmos à Pedra do Segredo.

Atravessamos um largo campo, adentramos a mata e cruzamos as pedras da Cachoeira do Tigre Preto.

Eu, a passo hesitante, dado meu famoso medo de altura, ia auxiliado pelo guia e por minha esposa a colocar os pés nas pedras mais firmes.

Não fôra o frio das águas, lembraria as excursões que fazíamos à Chapada dos Veadeiros, em Goiás, à época em que morávamos em Brasília, quando desfrutávamos, além do indizível prazer de andar em meio à mata, das cachoeiras abundantes naquela região.

Andamos pela beirada do canyon e tivemos uma vista do melhor ângulo da Cachoeira, parecendo incrível que do topo até o primeiro piso abaixo houvesse uma diferença de dezoito metros de altura.

Passamos pelas turfeiras, onde se depositavam as substâncias dos animais decompostos e a partir das quais se formaria o petróleo.

Em nenhuma daquelas por onde passamos chegava a se configurar o “olho de boi”, espécie de sorvedouro gosmento, cujo efeito é praticamente o mesmo da areia movediça.

Chegamos a fotografar a Pedra do Segredo do lado de cima do canyon.



Contudo, como não estávamos com calçados adequados e o caminho para lá estava sumamente escorregadio, preferimos não descer, contentando-nos com as fotos.

Quando Scheila se lembrou da beleza cinematográfica do cenário, informou-nos Márcio que o canyon serviu não só para rodar o filme Anahy de las Misiones como também a propaganda de um cigarro, sendo esta última realizada em caráter clandestino.

Os topos retilíneos, paredes paralelas em uma perspectiva perfeita, poder-se-ia desconfiar da mão do homem?

O próprio canyon do Itaimbezinho recebera este nome porque a sua parede ia terminar em um vértice que dava a impressão do gume de uma lâmina, como se tivesse sido afiado.

Conversando depois com um colega de trabalho, fiquei sabendo que a NASA já estivera fazendo algumas pesquisas no local.

Na volta para Cambará do Sul, passamos por diversos atoleiros e buracos feitos por rodas de jipes.

Em um deles, o carro deu um pulo e morreu, embora fora do atoleiro.

Havia ali elevação à borda e no meio do buraco, destas que as pessoas que costumavam trafegar pelas estradas de terra do Centro-Oeste do Brasil costumavam chamar “costelas de vaca”.

Aliás, neste mesmo atoleiro havia caído um trailer, que estava aguardando o socorro dos jipes do IBAMA, já que, segundo nos informou Márcio, era proibido pegar inclusive as pedras do Parque, ainda que fosse para fazer calço, tais os rigores que a fiscalização tinha assumido.

Entretanto, foi possível dar novamente a partida no carro, o que mais uma vez provou a bravura do nosso humilde “Gol” e, por outro lado, mostrava não se justificar, por aquela época, comprar por um preço equivalente ao de um apartamento os jipes que estavam sendo postos no mercado.

Este incidente lembrou-me outro, ocorrido na Semana Santa de 1994, quando o meu irmão Fernando alugou um automóvel para percorrermos as Cidades Históricas de Minas Gerais, ele, o Dr. Flávio Alexander Delláqua Lucas e eu, que na época era solteiro.

Quando nos dirigíamos de Mariana para Diamantina, o mapa Quatro rodas indicara-nos um atalho que seguia pela cidade de Santana do Pirapama, atalho este que se nos mostrou de bem pouco compensadora utilização.

Cruzamos – tratava-se de estrada de terra, com casas abandonadas e as ruínas de uma igreja à sua beira, passando por esporádicos vilarejos situados em algum ponto entre nada e nenhum lugar – nada menos que onze cursos de água e, em um deles, a parte dianteira de baixo do carro acabou batendo em uma pedra.

Morto o motor, em meio a nada, o Dr. Flávio e eu empurramos o veículo, até que pegasse (pesou no orçamento dos meses seguintes).

Claro, nada de mais morrer o motor.

E se o carro tivesse ficado totalmente impossibilitado de ser posto em movimento, no meio daquela estrada deserta, por onde quase ninguém passava?

Por uma situação parecida passara minha mãe, ao dirigir em julho de 1979, com dois dedos quebrados, de São Lourenço, em Minas Gerais, a Nova Xavantina, no Mato Grosso, quando, na estrada de terra que ligava Barra do Garças a esta última cidade as “costelas de vaca” foram responsáveis pela danificação de um cano, de onde saiu todo o óleo do carro (era um fusca).

Não sei o que teria sido se não tivessem passado alguns caminhoneiros que repararam o problema de sorte que se pudesse chegar a Nova Xavantina do ponto em que estávamos, já que ali era pleno cerrado mato-grossense e que as feras não tinham medo de se aproximar da estrada.

Mas, voltemos ao Parque Nacional dos Aparados da Serra.

Após pagarmos o guia, resolvemos almoçar em Canela e comprar um conjunto de “tac-tel”, mais barato que em Porto Alegre e de excelente qualidade.

Depois do almoço, escolhemos voltar por Nova Petrópolis, esquecidos de que se estava realizando o Festival de Malhas, mercê do qual, daquela vez, a estrada estaria mais lotada por aquele lado do que por Gramado.

Já havia escurecido quando chegamos a Porto Alegre.