domingo, 22 de março de 2009

A escada e a espiral - Capítulo 4: Chimu e Mochicas as civilizações do adobe




Chegamos a Trujillo, onde sentimos um forte cheiro das fábricas de atum enlatado, o que conduziu Scheila a, em solidariedade aos habitantes das proximidades destes terríveis poluentes, jurar nunca mais comer pasta de atum.

Fomos avisados de que somente deveríamos pegar táxis amarelos, pois em relação aos demais não haveria a segurança de serem táxis mesmo ou assaltantes.

Paramos no Hotel Continental, um bom hotel, cuja diária incluía desayuno.

Deixamos roupa para lavar e saímos em busca de uma agência de turismo que nos levasse a conhecer as ru�nas Chimu e Mochica.

Fomos a um posto da Polícia de Turismo onde obtivemos as necessárias informações para irmos a Chan Chan, às Huacas El Dragón e La Esmeralda (Chimu) e às Huacas El Sol e La Luna (Mochica).

Chan Chan era a sede do Império Chimu, que ocupou uma grande extensão da costa peruana desde o século IX d. C. até a segunda metade do século XV, quando foi incorporada ao Império Incaico.

As construções de adobe lembram Pachacamac.

De todo o complexo, somente o Palácio Tschudi estava aberto à visitação pública.

As outras edificações, em adiantado estado de deterioração, eram também alvo de vândalos e ladrões.

Entra-se no Palácio pelo setor religioso.

Vêem-se ali representadas as mesmas escadas que víramos anteriormente nas ruínas maias no México.

As referências ao leão-marinho, ao pelicano e ao peixe não deixavam dúvidas quanto a se tratar de um povo de pescadores.

Por outro lado, de novo a referência a três animais ligados à terra, ao ar e à água, sendo o felino substituído por outro carnívoro, o leão-marinho.

As ondas do mar eram seguidamente representadas.

Na Praça Cerimonial ou de Audiências era repartido o fruto da arrecadação.

Passamos ainda pela Sala do Pequeno Altar e pelos gabinetes dos funcionários encarregados da arrecadação.

Entramos ainda em Huachaque, um poço cerimonial que aproveitava lençol freático, coberto, quando o visitamos, de areia, com algumas plantas típicas de deserto sobre ele.

Uma parte do Palácio Tschudi ainda estava em escavação.

Pegamos depois um táxi até a Huaca La Esmeralda.

Foi-nos ali explicado que os motivos losangulares que havíamos visto em Chan Chan e que também ali se faziam presentes representavam redes de pesca.

Os animais que se achavam presentes ali eram os leões-marinhos e os macacos.

Para explorarmos a Huaca, tínhamos que subir nos muros que a compunham, pois os seus compartimentos não tinham portas, diferente do que víramos em Chan Chan.

Fomos depois de táxi à Huaca El Dragón ou Arco Íris (foto abaixo), que tem este nome em virtude das representações em baixo-relevo de dragões, normalmente postos em parelha, como se um fosse o reflexo do outro, e do arco-íris, em regra, entre os dragões(foto detalhes início do capítulo).



Nos baixos-relevos havia também a representação das ondas do mar e de macacos armados com lanças, que não deixaram de me evocar Hanuman, o rei dos macacos que auxiliou Rama a derrotar as hostes de Ravana, no Ramayana.

Partimos então para as ruínas Mochicas.

Tomamos um táxi à Huaca la Luna.

À sua entrada, ficamos sabendo que as ruínas El Brujo, onde foi encontrada uma riquíssima múmia mochica à qual se denominou Senhor de Sipán, não estavam, efetivamente, abertas à visitação pública, embora nelas se pudesse entrar durante o fim de semana, desde que se contactasse o arqueólogo-chefe pessoalmente.

Soprava um vento muito forte.

Na Huaca propriamente dita, construída em adobe, vimos os muros decorados com figura antropomorfizada, com dentes de felino, muito semelhante, segundo o folheto que nos fora entregue, ao decapitador alado da área de Piúra e Lambayeque.

A composição geral dos relevos tem como base o traçado de losangos e triângulos.

A cabeça do decapitador é circundada por ondas.

As cores que ali se fazem presentes: amarelo, vermelho, branco e preto.

O personagem do interior do triângulo, muito parecido com o decapitador do losango tinha, saindo de ambos os lados do queixo, aves marinhas.

Um dado interessante: a Huaca se compunha de várias camadas superpostas, sendo uma construção a cobrir outra, o que permitiu a conservação dos acabamentos das paredes.

A Huaca El Sol, também em adobe, impressiona mais propriamente pelo tamanho.

Adentrá-la, à época em que ali estivemos, implicava correr um sério risco de desabamento, razão por que somente poderia ser apreciada por fora.

Cabe lembrar que ambas as Huacas estavam ainda em escavação.

Tomamos um lotação até o centro, após nos livrarmos de uma horda de vendedores e de um em especial que, a todo custo, queria se impingir a nós como guia.

Fomos, depois, ao hotel, pois estávamos com os sapatos sujos de areia.

Houve tentativas infrutíferas, por nossa parte, de contactar o arqueólogo-chefe da escavação de El Brujo.

Também não fomos muito bem sucedidos neste dia quanto à troca de traveller's checks: o único banco que realizaria a troca, o Banco de Crédito del Peru, estava fechado.

Fomos depois jantar no Restaurante Romano: creme de aspargos para mim, panqueca (na verdade, omelete) de bananas para Scheila.

Compramos passagem para Tumbes pelo Expresso Eldorado.

No dia seguinte, após o desayuno, saímos em busca de uma fita cassete com música andina em zampoña.

A princípio, pensamos que este fosse o nome de um conjunto.

Foi-nos, então, esclarecido que zampoña era o nome dado à flauta de Pã e q'ena era a flauta semelhante à nossa flauta-doce.

Obtivemos a fita, não em uma loja de discos, mas em uma tenda de rua, já que somente ali se podia ouvir El condor paso em toda sua pureza, sem qualquer arranjo europeizante.

Corremos, ainda, toda Trujillo atrás de sacos plásticos para envolvermos nossas malas, para os encontrarmos...no mercado que se situava em frente ao hotel.

Era igualzinha a situação à aventura da busca do Pássaro azul, de Maurice Maeterlinck, que estava ao alcance da mão o tempo todo.

Trocamos traveller's checks no Banco de Crédito del Peru, pagamos a diária e deixamos as malas em depósito, pois pretendíamos visitar o Museu do Sítio de Chan Chan, que não víramos no dia anterior.

Chan Chan é a maior cidade de adobe do mundo.

A sociedade Chimu era altamente hierarquizada, com papéis bem definidos para cada um de seus integrantes.

Eram pescadores, metalúrgicos, ceramistas.

Diziam-se descendentes de um grande senhor que viera do mar.

Dominavam mais de 1000 km da costa peruana, área que antes fora habitada pelos mochicas e que, entre 1460 e 1480, foi incorporada ao império de Tupac Inca Yupanqui.

Seus barcos eram feitos de uma espécie de junco chamado totora, do qual eram feitas também as embarcações que singravam o Lago Titicaca.

Havia-os tanto coletivos, com capacidade para levar até quatro pessoas, para pescarias em alto-mar, com redes, como individuais, para serem montados - daí o nome caballitos -, e que ainda hoje se fabricam.

Tomamos dali um ônibus que nos levou a Huanchaco, a praia de Trujillo.

O mar mostrava-se mais tranqüilo que em Punta Hermosa, mas ainda assim era elemento mais propício a surfistas que a banhistas.

Fizemos um verdadeiro city tour por fora da área cercada pela Av. España, vimos casas muito bonitas e a Universidade Nacional de Trujillo.

Jantamos na Pizza Nostra, pizza para Scheila, sopa de legumes para mim, ambas regadas a limonada.

Pegamos o ônibus para Tumbes.

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