domingo, 22 de março de 2009

A escada e a espiral - Capítulo 17: Guatemala



É importante assinalar que, ao entrarmos na Guatemala, a guerra civil tinha acabado de chegar a seu término.

O cenário, como sempre, era belíssimo: a estrada de terra vermelha, ladeada por exuberante floresta, o automóvel cruzando vários cursos d'água.

O motorista, de início, combinou conosco 50 dólares por ambos, mas, ao chegarmos a Quiriguá, entendeu de nos extrair 50 de cada um.

Como não convém provocar incidentes em países estrangeiros, pagamos, embora deixando claro que não era exatamente este o combinado.

A visita à cidade que derrotara Copan no século VIII d. C., decapitando o Rei 18 Coelho, valia, entretanto, a pena.

As estelas, em geral, tinham representações antropomorfas frontais em ambas as faces e, nas laterais, inscrições.

A Scheila tirou uma foto das espanholas comigo sob uma enorme ceiba, a árvore sagrada dos maias.

Despedimo-nos das espanholas e fomos ao cruzamento de Quiriguá para pegarmos o ônibus que nos conduziria ao cruzamento Morales, onde tomaríamos o ônibus para Río Dulce.

Os ônibus que pegamos eram denominados de segunda classe, o que significava acotovelamento com pessoas e bagagens.

A uma primeira vista, pareciam amigáveis os guatemaltecos.

Em Río Dulce, paramos no Hotel Río Dulce.

Fomos, depois do banho, comer uma pizza na Pizzaria Los Amigos, cujo atendimento era demorado e cuja comida não ultrapassava os limites do razoável.

No dia seguinte, dissolvemos Cebion na água e pegamos uma pick-up que nos conduziria ao Castelo San Felipe de Lara, fortaleza espanhola construída em 1651 para fazer frente aos corsários e piratas do Caribe.

Era um castelo semelhante aos medievais, com ponte levadiça, localizado em um parque ajardinado, às margens do Lago Izabal.

As suas divisões eram algo labirínticas.

Havia canhões ao longo de todas as ameias e torres.

Cormorões e albatrozes voavam rasantes.

Lanchas singravam o lago, entrando pelo Rio Dulce até o porto de Livingston, onde residiam os garifunas: os negros da Guatemala, que constituíam maioria no país vizinho, Belize.

Ao retornarmos, descobrimos um estabelecimento bancário onde trocamos traveller's checks e, a seguir, pagamos o hotel.

Fomos ao terminal da Fuente del Norte e o rapaz que nos atendeu disse ser impossível reservar lugares sentados no ônibus das 12h30, havendo, entretanto, possibilidade de se o fazer no das 14h.

Descobrimos, depois, ter feito péssimo negócio: não foram assinalados assentos nas passagens, o que nos obrigou a catá-los na base do "salve-se quem puder".

Havia no ônibus 12 hondurenhos que tinham entrado ilegalmente no país e pretendiam entrar ilegalmente nos Estados Unidos atravessando o México.

Mantivemos os olhos bem abertos em relação a eles, completamente diferentes do povo taciturno e trabalhador que víramos no país que deixáramos na véspera.

Travamos conhecimento com um senhor que trabalhava na Pepsi, que nos contou o perigo de viajar nas estradas guatemaltecas à noite (e já havia caído a noite).

Havia não só o perigo das guerrilhas como estava ainda fresco na memória de muitos um assalto na altura de Poptun, por onde passáramos ainda em plena luz do dia, em que levaram todos os haveres dos homens e estupraram algumas mulheres.

Tal narrativa foi determinante da decisão de ir por avião à Cidade da Guatemala, após vermos Tikal.

O ônibus em Santa Elena parou em frente ao Hotel Alonzo.

Subiram indivíduos dizendo que havia habitação matrimonial, com banho privado.

Descemos antes mesmo de o ônibus chegar ao ponto final.

No referido hotel não havia vagas, mas, ainda assim, compramos passagem para Tikal no dia seguinte.

Um rapaz nos informou que no Hotel Continental, duas quadras antes, haveria vagas.

Segui com ele, enquanto Scheila permanecia junto às malas.

O hotel distava muito mais de duas quadras do outro.

Verifiquei os quartos: um com banho privado frio, o outro com banho privado quente.

Desagradou-me o ambiente do hotel, razão por que retornei ao Hotel Alonzo.

De lá, resolvemos atravessar o istmo a pé, em direção a Flores.

No nosso encalço saíram de bicicleta os atravessadores de Santa Elena, querendo empurrar-nos os respectivos hotéis.

Era por volta de 23 horas.

Distribuíamos vários ineficazes "no gracias" até que Scheila os repeliu energicamente com um claríssimo "no deseamos hablar con ustedes".

Deram volta, praguejando e insultando-nos, mas não mais nos incomodaram.

Quando chegamos a Flores, havia festa referente a datas comemorativas do Departamento de El Petén, do qual é capital.


Pernoitamos no Hotel La Canoa com todo o barulho da festa.

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